terça-feira, 25 de junho de 2024

Chamar as coisas pelo nome - máquina caça-níquel [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça]

Caminhávamos para almoçar na Liberdade quando passamos em frente a uma loja cujo ramo eu desconhecia, mas foi o ensejo para Macedo comentar que se sente mais tranquilo agora que a esbórnia, digo, o parlamento está para aprovar o projeto de lei para legalização dos jogos de azar, pois vão poder chamar os estabelecimentos pelo seu nome verdadeiro.

Foi quando reparei no interior da loja. Toda colorida, com várias máquinas de garra, dessas em que você pesca um bicho de pelúcia ou uma bugiganga qualquer. Segui sem entender. Macedo explicou que essas máquinas são sabidamente viciadas, e pouco importa a habilidade do jogador, se não for a vez da garra pegar com força a quinquilharia almejada, não vai trazer nada. Não é o que diz nosso judiciário, nem nossa grande imprensa, mas eles parecem entender desse assunto tanto quanto eu - com a diferença que eu não tenho nenhum interesse oculto com relação a esse tópico. 

A principal discrepância entre essas máquinas e as de caça níquel que abundam nos cassinos clandestinos do mesmo bairro da Liberdade, conforme irmã Makioka, é que o prêmio é em quinquilharia, não em dinheiro - mas depende da sorte de qualquer modo - e não se pode fumar dentro do estabelecimento.

Num país em que a mídia vende loteria como investimento (está no Estadão Investimento!), aposta esportiva como se fosse algo racional (aí tem um sem número de influenciadores, sem falar na mídia corporativa que faz propaganda dos “bets”), nada mais saudável que cassinos infantis com suas máquinas caça-níquel disfarçada de jogo do tigrinho, digo, da garrinha, para treinarmos desde cedo a habilidade de nossas crianças na arte da aposta! Quem sabe no futuro não possam lançar todo um parque infantil, um Las Vegas for Kids, com essa temática também!


25 de junho de 2024


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.


PS2: Links afins ao tema desta crônica:

https://bnldata.com.br/analise-em-maquinas-de-pelucia-revela-que-existe-programacao-que-controla-o-a-forca-da-garra/

https://www.conjur.com.br/2021-out-27/maquina-bicho-pelucia-nao-jogo-azar-empresario-absolvido/

https://einvestidor.estadao.com.br/webstories/5-loterias-mais-faceis-de-ganhar/


segunda-feira, 17 de junho de 2024

O Metrô de São Paulo contribuindo para a piora da vida do trabalhador paulistano [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Vida de trabalhador que pega transporte público não é fácil. Mesmo o metrô, que desde sua inauguração em São Paulo, tardiamente nos anos 1970, era tido como um modal de excelência, tem decaído acentuadamente.

De um lado, o problema social que reverbera dentro das estações e vagões: diante da crise financeira inaugurada em 2016, o Metrô vai adquirindo características do “Shopping Trem”: uma variedade de pessoas vendendo uma grande variedade de coisas, de fone de ouvido a chocolate, de tira manchas a doleira, de massageador a pomada milagrosa. Incomodam, mas é o que se tem para sobreviver (reconheço que diminuiu no último ano, apesar da fiscalização também ter diminuído). A essas pessoas, somam-se pedintes diversos e músicos de rua. Destes, admito que não gosto dos que fazem rima mexendo com os passageiros, entretanto, há alguns de ótima qualidade, artistas de verdade, como o @luiscantante.92, que executa música andina. Há, contudo, um cuja arroba no instagram me foge, que se finge de músico para fazer pregação pela manhã em alto e bom som - e não adianta passageiros pedirem para ele baixar o som, como bom fanático, a “palavra de deus” vale mais que o bem estar das pessoas. É uma sessão de tortura que dura duas ou três estações: você já desanimado de ter que ir para a labuta e lá está o infeliz com seu tecladinho enchendo o saco. Ele toca muito mal, mas quando começa a cantar, parece até um virtuoso, e quando você presta atenção no que ele canta, então...

Do outro lado, trabalhando pelo nosso mal-estar está o próprio Metrô sob a batuta do ogro do martelo, o senhor Tarcísionaro. Começa pela limpeza, que era uma das marcas mundiais do Metrô de São Paulo e tem deixado a desejar. Mas pior mesmo é nos horários. Nos de pico, ainda se manteve os habituais intervalos curtos entre cada trem; mas fora dessas horas insalubres por si, aumentaram os intervalos para os padrões do metrô privatizado, fazendo com que toda hora seja horário pico - não importa que seja nove horas da noite de um domingo: o trem vai estar lotado. Já cheguei a esperar sete minutos por um trem - até a gestão passada não chegava a cinco, nem mesmo nas horas mortas. Então, temos que o Metrô passou a ser um modal já não tão rápido assim, nem tão confortável e limpo.


Mas agora o Metrô inovou e quis juntar o pior dos dois mundos, trens lotados com música ruim, só faltou a parte da pregação (e felizmente eu só li a notícia, não presenciei in loco). Vi que no dia dos namorados ninguém mais, ninguém menos que o Jota Quest fez um show na estação da Sé! 

A desocupada leitora, o desocupado leitor talvez se pergunte “Jotaoquê? Aquele desenho animado?”. Pois é, a você, preciso informar que se trata de uma banda que usava umas perucas gigantes e lançou um disco de pop razoável em 1996, e depois disso passou a vender até que bastante cedês sem fazer nada que preste, até entrar em decadência e dar por encerrada, salvo pelos seus integrantes, sua Kombi de fãs e - agora sabemos - pelo Metrô.

Imagine só que situação: você sai cedo de casa, encara uma pregação religiosa feita a alto som com um instrumental horrível, tem um dia cheio no trabalho, e na hora de voltar, metrô lotado, só pensando em encontrar seu brotinho - ou então lamentando que não tem um para passar a noite -, ainda ter que enfrentar uma estação lotada porque disseram que ia ter show de graça e vai ver é o Jota Quest. Jota Quest! Tenho até medo do dia dos namorados do ano que vem: capaz de desenterrarem o Leonardo para cantar - aí, sim, haja segurança segurando o povo que vai querer se jogar nos trilhos a ter que suportar isso.

Obrigado, governador, por ajudar a piorar a já precária saúde mental do trabalhador paulistano.


17 de junho de 2024.


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.