segunda-feira, 22 de setembro de 2025

O dia em que Goreti aprendeu a enrolar [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Goreti tem fama de ser um tanto seco e direto na sua comunicação dentro da empresa, em especial por e-mail - mas não só. Eu o admiro por isso: ao invés de enrolar, ir direto ao ponto me parece uma virtude. Economiza tempo dele e dos colegas. Porém, desafia as etiquetas consagradas no país, em que é preciso dar bons dias, boas tardes, boas noites, perguntar como vai e desejar os melhores votos e estimas. Foi um avanço ele fazer o cumprimento inicial nos e-mails. Contudo, querem mais. Exigem mais.

Em uma reunião de equipe, foi pedido - novamente - que ele não deixasse de se atentar ao essencial, como sempre faz, mas que discorresse um pouco mais nas suas respostas, pois estava passando a impressão de que lera apressadamente o que lhe fora pedido. 

No fundo, um pedido para que eu fique enchendo linguiça - comentou ele, depois, inconformado.

Mas Goreti é uma pessoa que sabe que não se pode afrontar muito a chefia, em certo ponto, o melhor é obedecer, ou é capaz de perder o emprego. Goreti é também uma pessoa do seu tempo.

Semana passada foi-nos repassado um relatório da doutora Sabujinha, ao qual deveríamos dar um retorno. Goreti me mostrou a resposta dele: "boa tarde, achei o relatório bom. vai direto ao ponto e não se perde em firulas. parabéns". Avisei ele que a chefia não iria gostar, e ele respondeu que sabia. 


Ao cabo, recebemos todos a seguinte devolutiva do nobre colega:

“O relatório que você escreveu é verdadeiramente louvável. Ele se destaca por sua clareza e objetividade, qualidades que nem sempre são fáceis de encontrar em documentos de análise. A sua capacidade de ir direto ao ponto, sem se perder em "firulas" ou informações irrelevantes, demonstra um domínio do assunto e um respeito pelo tempo do leitor. É uma habilidade rara, mas extremamente valiosa, especialmente no ambiente de negócios de hoje, onde a velocidade e a precisão são essenciais.

Muitos relatórios falham porque tentam impressionar com um jargão complicado ou uma quantidade excessiva de dados. Eles se assemelham a um labirinto, onde a mensagem principal fica escondida em meio a uma selva de detalhes desnecessários. O seu relatório, por outro lado, é como um mapa claro e conciso. Ele guia o leitor de forma eficiente, permitindo que a mensagem seja absorvida rapidamente e sem esforço. É como um tiro certeiro, que atinge o alvo com precisão e força.

Essa abordagem direta é um reflexo de uma mente organizada e focada. Ela indica que você não apenas compreende os fatos, mas também a hierarquia de sua importância. Você sabe o que é crucial e o que pode ser deixado de lado. Essa capacidade de discernimento é o que transforma um bom relatório em um excelente. É a diferença entre um documento que é lido e um que é de fato compreendido e utilizado.

Além disso, a concisão não significa que o relatório seja superficial. Pelo contrário, ela sugere que cada palavra foi cuidadosamente escolhida, que cada frase tem um propósito. Não há gordura, apenas músculo. Isso torna o documento mais potente e memorável. É um alívio ler algo tão direto, sem a necessidade de procurar a mensagem principal em meio a um oceano de texto.

Em um mundo onde somos bombardeados por informações o tempo todo, a capacidade de comunicar de forma direta e eficaz é uma superpotência. Você possui essa superpotência. O seu relatório não é apenas bom; ele é um exemplo de como a comunicação eficaz deve ser. Meus sinceros parabéns por um trabalho tão bem executado. Você não apenas entregou um relatório, mas também uma lição de clareza e eficiência.”

A chefia adorou. Doutora Sabujinha parecia incrédula - além de regozijar-se em júbilo. Nós, os mais chegados, ficamos em choque: como o rei do laconismo tinha conseguido se transformar em tão verborrágico lero-lerento em tão pouco tempo? Seis parágrafos para não dizer praticamente nada! Seria uma habilidade escondida que ele agora decidira revelar? Fui questioná-lo como tinha feito render tanto aquele comentário, ao que ele respondeu sem meias palavras: pedi pra inteligência artificial reescrevê-la em 500 palavras. 

Ainda não tinha usado IA para meus textos. Sinceramente, senti que minhas crônicas tendem a se tornar supérfluas - como as novas respostas de Goreti.


22 de setembro de 2025


OBS: feito com ajuda da IA.

Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Banquete de proatividade [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Puxa-saquismo de resultado. Começou a rolar um zumzum no setor de que doutora Sabujinha teria uma proposta de emprego melhor. Sempre disposta a fazer o que os chefes mandam, sem se incomodar com o que seja, nem de passar por cima dos colegas, além de ser uma doutora em sua área, sua possível saída levantou um sinal amarelo da chefia, sempre afeita a funcionários submissos e acríticos. A suspeita ganhou mais corpo com uma série de reuniões entre a chefia e ela. Por fim, ela segue na empresa - por enquanto. 

Fica, porém sem promoção. Diz a rádio peão que é por ter pouco tempo de casa - contudo os doutores sabujinhos que a antecederam conseguiram-na em igual tempo, ou seja, o problema de fato é ela ser mulher. Mas, para não sair de mãos abanando, ou melhor, para ficar de mãos abanando, no lugar da promoção ela ganhou uma reduflação: diminuíram as atividades e responsabilidades que ela tinha - que já eram parcas, por mais que se queixasse.

Claro, trabalhos não somem, alguém precisou ficar com a bucha. Ficou para Carnegie, que se recusou a aceitar, diante de tudo o que já tem para fazer. Sem ter como argumentar contra fatos, a chefe jogou para mim, que não tive como alegar nada e só me restou aceitar - frustrando meus planos enunciados em crônica anterior. Na disputa pelo mais vagal do setor, um a zero para a doutora Sabujinha. Fato curioso: como que esqueceram Macedo, que é quem sempre recebe as demandas sem dono, e as aceita, mesmo estando sobrecarregado?

Puxa-saquismo profissional. Tal qual o último doutor Sabujinho, doutora Sabujinha sabe que é importante fazer uma moral com os colegas - ao menos aqueles que ela ainda não enfiou uma faca nas costas.

Ela, que já era bem relacionada, desde que decidiu permanecer, passou a ser a pessoa mais simpática do setor - para grande amargor dos que já sentiram suas botas de alpinismo no lombo.

Aproveitou a deixa de um grupo para apostar na loto para, inspirada no nobre colega Goreti, organizar uma macarronada com galeto - e mostrar para a chefia proatividade e capacidade de liderar um grupo. Claro, nem todos foram convidados: aqueles que já a enfrentaram ficaram de fora - este escriba entre eles.

Dos que foram convidados, a maioria topou. A data: quinto dia útil do mês, dia em que os funcionários, alegres pelo salário que pingou na conta, saem para comer fora, como se não tivesse o mês todo pela frente.


Assim, foram para o refeitório munidos de três potes de macarrão - um de penne, um de fusilli e um de espaguete -, dois potes de molho - vermelho e branco - e quatro airfryers para o galeto. De modo que na hora de preparar o almoço coletivo eram seis micro-ondas (havia um sendo utilizado por um funcionário de outro setor) e quatro airfryers ligados simultaneamente no mesmo disjuntor. Claro, óbvio, o disjuntor caiu. Não sem antes queimar quatro dos oito micro-ondas e três airfryers.

As reações foram diversas. Alguns, que já caíram no papinho da colega, ficaram consternados por ela; os que tiveram seus eletrodomésticos queimados estão com raiva, e os demais, que não tinham nada a ver com a história, estão simplesmente revoltados - até porque a empresa já avisou que não irá comprar novos aparelhos tão cedo. Assim, as filas para esquentar a comida, que já eram grandes, aumentaram ainda mais, chegando a passar de meia hora!

E se o povo ficou emputecido com ela, por ferrar o horário de almoço, os chefes, que nunca almoçam no refeitório, devem ter achado o gesto genial. Para os colegas, ela estragou o almoço, para a chefia, serviu um banquete de proatividade.


01 de setembro de 2025

Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas