Assisto
a um dia da propaganda eleitoral dos postulantes ao Planalto. O PT se
centra na comparação entre seus mandatos e os do PSDB, aposta na
polarização "governo para os pobres x governo para os ricos".
Em um discurso que parece mais interessado em consolidar votos do que
angariar mais, deixa o raciocínio pela metade, esquecendo de
explicitar o porquê da melhora das condições de vida da base da
pirâmide social trazer ganhos para o conjunto da sociedade - fator
de diminuição de violência, pressão por melhorias nos serviços
públicos, aumento nos salários. Já o PSDB recebeu não só o apoio
de Marina Silva e do PSB, como teve seu discurso moralizante a la UDN
repetido pela representante da nova política. Aécio, ao menos nesse
programa, deixou passar a oportunidade de se apresentar como o
candidato da uniâo contra o partido da divisão social. Além disso
se focou em certo discurso da emoção - por conta do apoio da viúva
de Campos -, próximo daquele usado por Marina durante o primeiro
turno, uma tentativa, talvez, de ganhar o eleitorado pernambucano, ou
de inflar a presumida onda que embala sua candidatura - Marina Silva
foi uma mostra de que discurso da emoção não se sustenta por muito
tempo. O mais deprimente foi vê-lo repetir discurso dos formadores
de opinião da direita brasileira - essa que diz que o Brasil passou
por uma "ditabranda" -, de que o país vive sob a hégide
de um partido anti-democrático, uma quase ditadura (bolivariana):
essa fala desligitima não só o processo de escolha como todo o
sistema democrático! Que tenha sido um lapso, não um chamado ao
"restabelecimento da ordem" (com Deus pela família?).
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Eduardo
Campos tem sido alçado a político com legado para o Brasil -
absurdo exagero. Tratava-se de um político hábil e com futuro, mas
sem legado que garanta um lugar no panteão de políticos como
Cipriano Barata, Rui Barbosa, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek,
Leonel Brizola - para ficar nos falecidos. Se não for esquecido tão
logo se encerre a disputa eleitoral, seu presumido legado o tornará
um grotesco espantalho para uso de ocasião pela Grande Mídia.
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Dois
gigantescos desserviços dos eleitores ao Brasil: a substituição de
Eduardo Suplicy por José Serra, como senador por São Paulo, e a de
Pedro Simon por Lasier Martins, no Rio Grande do Sul.
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Jair
Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Pastor Feliciano, José
Serra, André Sanchez (até agora não vi cartola que não seja uma
decepção: ou um fracasso ou um Eurico Miranda com sutis
diferenças), Lasier Martins, Paulinho da Força, Pedro Taques,
Fernando Collor, Renan Filho, Raimundo Colombo, Celso Russomano.
Parece que ao se olhar pro lado, o nível dos eleitos é sempre
horrível. Para a Assembléia Legislativa do Paraná, graças à
votação de Ratinho Jr (começamos bem), o PSC (Partido
Nacional-Socialista Cristão, do Pastor Everaldo, Pastor Feliciano e
tantos outros Intolerantes Cristãos) será o maior partido da
Assembléia Legislativa. Daria para ser pior?
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Xico
Sá sofreu censura prévia da Folha de São Paulo - expediente que
dizem há tempos ser aplicado também a um dos polemistas do jornal
(que acata obediente, enquanto anuncia o PT como partido ditatorial).
Motivo: a Folha repudiaria proselitismo político em suas páginas.
Em um jornal que tem Reinaldo Azevedo, proselitismo político
significa ser favorável ao PT, porque qualquer coisa contra o
Partido dos Trabalhadores e a favor dos tucanos, desde que se vista
com uma tosca roupagem de informação, é autorizado. Xico Sá (de
quem este escriba é fã de longa data e o assume como uma de suas
influências) soube se dar o devido valor, e dignamente pediu
demissão.
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Nada contra o voto em Aécio Neves, quando se trata de uma escolha racional, como comentou Antônio Prata ou Gregório Duvivier. Problema é o voto de cabresto - ignaro, para não dizer preconceituoso - que quer tirar o PT do poder federal por ser O partido corrupto. Não se trata de defendé-lo dizendo que todos roubam, mas convém ressaltar que nenhum outro partido até agora, em qual nível for, deu tanto apoio e tanta liberdade às investigações sobre malversação de dinheiro público. Não é a corrupção que cresceu, foi seu combate: os crimes foram muito semelhantes, mas José Dirceu está preso e Fernando Henrique Cardoso ou Eduardo Azeredo, não.
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Nada contra o voto em Aécio Neves, quando se trata de uma escolha racional, como comentou Antônio Prata ou Gregório Duvivier. Problema é o voto de cabresto - ignaro, para não dizer preconceituoso - que quer tirar o PT do poder federal por ser O partido corrupto. Não se trata de defendé-lo dizendo que todos roubam, mas convém ressaltar que nenhum outro partido até agora, em qual nível for, deu tanto apoio e tanta liberdade às investigações sobre malversação de dinheiro público. Não é a corrupção que cresceu, foi seu combate: os crimes foram muito semelhantes, mas José Dirceu está preso e Fernando Henrique Cardoso ou Eduardo Azeredo, não.
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Muito
se tem comentado sobre os impressionantes erros dos institutos de
pesquisa. Falei sobre isso após as eleições de 2010, na qual o
índice de acerto das três principais empresas de medição de
pretensão de voto teve acerto de 0% (isso mesmo, zero porcento).
Está em http://j.mp/cG151010e. Este escriba insiste na sua tese de
que as pesquisas de opinião divulgadas pela Grande Imprensa são uma
forma discreta de tentar influenciar o voto: há quem vote no
candidato favorito para "não perder o voto", por exemplo,
ou então um candidato chega ao segundo turno em uma "empolgante
crescente", pronto para desbancar a murcha presidente candidata
à reeleição.
Pato
Branco, 14 de outubro de 2014.
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