sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Macedo e seus colegas de almoço nas minhas férias [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça]

Voltei das férias - que não chamo de merecidas porque férias não é merecimento, é direito, conquistado com sangue e suor, mendigado por patrões (como se lhes fosse um fardo ceder esse direito) e sempre insuficiente para o tanto que trabalhamos (menos para juízes). Pois bem, voltei de férias e, diferentemente de algumas das férias passadas, ninguém perguntou se eu estava doente e estivera de atestado nos últimos dois dias. Desta feita sequer notaram que eu me ausentara, salvo o pessoal da minha equipe - o que não significa que sentiram minha falta. E isso é uma boa notícia! Sinal que estou no caminho certo - a meta é passar tão despercebido que até o trabalho passe por mim, e me reste apenas o salário (com os devidos descontos tributários, pois não sou sonegador, me opondo frontalmente ao que dizia um certo ex-presidente que usa adornos no tornozelo).

Talvez quem tenha sentido um pouco minha falta foi Macedo, meu contumaz companheiro de almoço. Na minha ausência, ele variou os colegas com quem compartilhou esse momento - e a alta rotatividade mostra que não teve um que tocou seu coraçãozinho ou que suportou seu humor quase silencioso: tiradas mordazes em ASMR. Já comentei algures que ele é de falar pouco e bem baixo. Também já comentei algures que, pobre Macedo, aparentemente tão bom ouvinte por falar pouco e aparentemente ter uma paciência de Jó, ainda por cima é cercado por tagarelas por todos os lados de sua baia e um pouco além - sendo eu o menos parolema (habemus esperanto!) dessa lista, o que não quer dizer muita coisa.

Digo tudo isto porque foi Macedo quem me atualizou das novidades no tempo em que estive fora. Novidades que não traziam nada de novo. Salvo as do almoço, em que descobriu a face oculta de vários colegas.

Do Mello, fiquei sabendo que não oferece chocolate quando se vai almoçar com ele. Compreensível: se aceitou o convite, não precisa te convencer a escutá-lo. O chocolate é uma forma de atrair para seu lero-lero, não uma compensação por suportá-lo.

De Pacheco, a Doutora Sabujinha, nada de novo, segue a pessoa chata e aduladora de sempre (conclusão minha, a partir do que ele contou).

As novidades novidadeiras foram as da Goleador. 

A primeira foi toda uma mobilização no setor de quem estaria matando a suculenta que fica na entrada, mesmo depois do recado afixado junto a ela. Ninguém queria assumir o ato, até que a secretária bateu o martelo: era ela quem iria cuidar da planta, ninguém mais; ao que Goleador respondeu, aliviada:

Ai, que bom! Não aguentava ter mais essa responsabilidade para mim. Eu via a planta morrendo e estava tentando salvá-la. Era a única a regá-la!

Tentando salvar uma suculenta regando todos os dias... Proatividade nem sempre é algo tão positivo assim - e nem digo isso por ser uma pessoa propassiva.

Mas talvez o que mais me chamou a atenção foi quando Macedo contou que conheceu a versão silenciosa dela. Incrédulo, perguntei como aconteceu tal proeza, estaria ela deprimida, talvez por conta da planta?

Não, ela apenas não fala de boca cheia - e estávamos almoçando.


01 de agosto de 2025


Relembrando os velhos tempos de Trezenhum. Humor Sem Graça., este texto contou com contribuição do Ricardo (além, é claro, do Macedo; mas ele não é da época do TZN. HSG)


Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Salvador tem clima mais paulistano que São Paulo

 É praxe se queixar da ex-terra da garoa, hoje terra das tormentas, como tendo as quatro estações num único dia. Passei uma semana em Salvador e digo: SP é amadora em viradas climáticas.

Acostumado que a previsão do tempo só acerta prognósticos emitidos com uma hora de atraso, sequer conferi o que me esperava para a capital baiana. Fui com base na minha intuição, retirada das aulas de geografia, século passado, que me ensinaram que no clima tropical os verões são quentes e chuvosos, e os invernos, menos quentes e secos. Já havia comprovado isso in loco, ano passado, em São Luís, no Maranhão. 

Ou ao menos assim achava. Porque este ano pus em dúvida o que os professores Jader e Wilfred me ensinaram - ou teria eu dormido na aula? Não, nessa época eu ainda tinha peso na consciência de dormir em aula. Não é possível que Salvador seja desse clima tropical ensinado! Teria o Trópico de Capricórnio um pequeno desvio, de modo a incluir Salvador no clima subtropical? Serão as mudanças climáticas? Terá sido só coincidência, mesmo? São perguntas.

O que se passou é que foram sete dias de frio e chuva e vento. Claro, há que se relativizar o que é frio na Bahia. Nada como estava em São Paulo, mas os 21ºC eram pouco convidativos para sair de bermuda à noite.

Também foram sete dias de sol e calor ameno e vento, que pouco convidavam a uma praia - menos para Lia, que fez questão de entrar na água, mais por querer muito entrar no mar, do que por estar gostoso para isso naquela ventania que esfriava qualquer 26ºC.

Já antevejo que os defensores mais radicais de São Paulo vão argumentar que aqui ainda é pior: a regularidade soteropolitana, de todas as estações em todos os dias, ainda garante que todos os apetrechos carregados consigo serão de alguma utilidade, enquanto em Éssepê você carrega tudo isso sem ter a certeza de que vai mesmo precisar - essa certeza só surge quando você esquece o guarda-chuvas pois, é claro, vai chover na hora do fim de expediente.

Da minha parte, está posto: nesse ponto, não reclamo mais do clima de São Paulo.


17 de julho de 2025