Minhas ex-namoradas, depois de terminarem comigo, costumavam me dar um cedê do Pato Fu. Não, não se tratava de uma dose extra de sadismo: eu gostava mesmo da banda e acontecia deles lançarem álbum novo mais ou menos na mesma época – todo mundo costuma ter uma queda por coisas de qualidade questionável, como Pato Fu, Girls Against Boys, Del-O-Max ou comida do bandejão. Minha última namorada rompeu com esse hábito: bem que eu esperei, mas nada dela me presentear com o último disco da banda – isso já faz dois anos.
Retomo o lançamento de um disco já velho (para os parâmetros da sociedade atual) porque só lembrei disso dia desses. Fui ver de comprar o disco: R$ 25,00. Já há um bom tempo que não pago mais do que dez reais por um disco – desde que descobri as promoções da gravadora Trama. Optei, então, por baixar da internet, como é o mais comum de se fazer hoje. Admito que fiquei um tanto chateado por isso. Não por estar cometendo um “crime”, definitivamente. Um artista viver da arte é para poucos e em poucas épocas: se um artista diz que vai se sentir desestimulado a produzir por conta da “pirataria”, é de se questionar se se trata realmente de um artista, ou não seria apenas um operário da indústria cultural – daí, até melhor que pare mesmo de (re)produzir.
Minha chateação se deu, primeiro, por causa da qualidade do som: o som do computador, a não ser que se tenha excelentes acessórios, é bem mais fraco do que o de um aparelho de som mediano (os entendidos dizem que a diferença do cedê pro vinil já é uma queda medonha de qualidade). Segundo, por não ter o encarte. Há encartes e encartes. Muitos – a maioria – são dispensáveis. Mas há aqueles que são imprescindíveis: o disco possui uma concepção estética que vai além do som e das letras, passa também pelo visual. Ok computer, do Radiohead, de 1997, para mim é o melhor exemplo. Em mp3, essa outro aspecto do disco, da banda, se perde. Por fim, não sei se é só comigo – creio que não –, computador é um aparelho multi-tarefas compulsório: não consigo ficar parado em frente a ele apenas aproveitando a música.
Não lamento a emergência do mp3 e o fim do cedê, o que me pergunto é se não haveria como transpor para o mundo virtual essa outra dimensão dos artistas musicais, perdida com o fim dos encartes.
Campinas, 10 de março de 2010.
publicado em www.institutohypnos.org.br
Retomo o lançamento de um disco já velho (para os parâmetros da sociedade atual) porque só lembrei disso dia desses. Fui ver de comprar o disco: R$ 25,00. Já há um bom tempo que não pago mais do que dez reais por um disco – desde que descobri as promoções da gravadora Trama. Optei, então, por baixar da internet, como é o mais comum de se fazer hoje. Admito que fiquei um tanto chateado por isso. Não por estar cometendo um “crime”, definitivamente. Um artista viver da arte é para poucos e em poucas épocas: se um artista diz que vai se sentir desestimulado a produzir por conta da “pirataria”, é de se questionar se se trata realmente de um artista, ou não seria apenas um operário da indústria cultural – daí, até melhor que pare mesmo de (re)produzir.
Minha chateação se deu, primeiro, por causa da qualidade do som: o som do computador, a não ser que se tenha excelentes acessórios, é bem mais fraco do que o de um aparelho de som mediano (os entendidos dizem que a diferença do cedê pro vinil já é uma queda medonha de qualidade). Segundo, por não ter o encarte. Há encartes e encartes. Muitos – a maioria – são dispensáveis. Mas há aqueles que são imprescindíveis: o disco possui uma concepção estética que vai além do som e das letras, passa também pelo visual. Ok computer, do Radiohead, de 1997, para mim é o melhor exemplo. Em mp3, essa outro aspecto do disco, da banda, se perde. Por fim, não sei se é só comigo – creio que não –, computador é um aparelho multi-tarefas compulsório: não consigo ficar parado em frente a ele apenas aproveitando a música.
Não lamento a emergência do mp3 e o fim do cedê, o que me pergunto é se não haveria como transpor para o mundo virtual essa outra dimensão dos artistas musicais, perdida com o fim dos encartes.
Campinas, 10 de março de 2010.
publicado em www.institutohypnos.org.br
Sem comentários:
Enviar um comentário