Por uma questão de época e de classe social, cresci lendo não Monteiro Lobato, como a presidenta da Argentina, mas Maurício de Souza e a turma da Mônica. Daí que toda vez que ouço falar em planos tenho a impressão que algo errado há, por mais infalível que seja. Certo, há planos que são feitos para dar errado: os planos de vida são um caso típico. Uma das maiores intelectuais do século XX, Mafalda, do Quino, comenta, certa feita, que “para não viver ao acaso, estou traçando um plano que me ajude a organizar minha vida com clareza”, e completa, “teoricamente, é claro”. O problema é que na teoria a prática é simples – como sempre digo, inclusive na assinatura do meu emeio.
Mas há aqueles planos que, se não são apresentados como infalíveis, estão quase lá: te dão as chaves para o paraíso na terra. Necessários, imprescindíveis, vitais, têm todas as vantagens e nenhum problema. Não, não estou falando dos planos de governo dos candidatos – até porque, pelo visto, passaremos a eleição sem ter visto um de verdade. Tampouco vou falar de religião hoje. Falo dos diversos planos que são anunciados a rodo em todo local a toda hora, ocupando espaços que antigamente eram dedicado a quinquilharias diversas – de pipoqueira elétrica a carro de luxo. Aparecem principalmente nas datas importantes – dia das mães, dos namorados, dos pais, das crianças, natal –, mas não só. Há os planos de televisão, de internet, de telefonia – tem até um que se anuncia como infinito, apesar de ter limites bem estreitos. Há também os de saúde, que dizem estar preocupados com sua saúde – o que não duvido, dado os custos de operação –, e que não raro te complicam a vida na doença. Deve ser uma tática para as pessoas se preocuparem, elas também, em não adoecerem.
Exemplos mais há muitos, não vou cansar o leitor e a leitora em reprisar o exaustivamente repetido. O que ressalto é que para quem, como eu, cresceu vendo o Cebolinha e o Cascão apanharem por conta dos planos infalíveis do primeiro, me pergunto o que não haveria de profético nos gibis da turma da Mônica; e se talvez não seja esse excesso de planos que têm dificultado tanto a nossa vida.
Campinas, 14 de maio de 2010.
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