Há uma coisa que assusta mais do que as vitórias políticas do movimento reacionário encabeçado pelos evangélicos – mas que conta com amplo apoio de setores do catolicismo, não convém esquecer, a diferença está que estes são mais discretos. São as vitórias ideológicas, sutilmente presentes no discurso. Pois as derrotas dos projetos de avanço dos direitos civis podem ser revertidas, por mais que isso exija mobilização e pressão. Não é tarefa fácil, mas é facilmente identificável.
Quando se adentra a esfera do discurso, tudo se torna mais esfumado: difícil de perceber, difícil de saber até onde vai essa luta ideológica, difícil de se organizar de tal modo que a oposição tenha efetividade. Por exemplo: qual linha divide o combate aos preconceitos presentes na fala comum do patrulhamento de um politicamente correto pernicioso ao que se pretendia defender?
Quando falo em discurso, falo do discurso quotidiano, meu, seu, de qualquer um do dia-a-dia, e não aquele encampado na última eleição por José Serra (PSDB) do “Brasil, o país do aborticídio” ou, ainda que sem a mesma verve de fim de mundo, pela candidata paz e amor (e moralismo) Marina Silva (PV). É aquele discurso que ainda acha graça em piadas as mais batidas com minorias, como um certo ex-presidente da República filiado ao PT um dia fez sobre Pelotas, é o discurso que vê na figura do diferente uma ofensa, como para o senador Roberto Requião (PMDB). Enfim, é o discurso que corre de boca em boca e de tão banal praticamente não notamos.
E o que tem passado despercebido é a volta da homossexualidade como doença. Não apenas nos círculos moralistas, onde nunca deixou de ser doença, pecado, coisa do demônio, como na grande imprensa – que inconscientemente tem incorporado esse discurso reacionário. Botulismo é provocado por bactérias, raquitismo, por má alimentação, hipertireoidismo é uma doença do metabolismo, e homossexualismo? Seria do caráter? Da moral? Ou é genético? Quais as formas de transmissão? Contato visual, respirar o mesmo ar, a simples existência do gay? Um filme institucional estadunidense dos anos 1950 já alertava: “Homossexualismo é uma doença, cuidado. Uma doença que não é visível, como sarampo. Mas não menos contagiosa, uma doença da cabeça”.
Não me surpreenderia se em breve na Record, no horário do pastor RR Soares, na missa do Padre Marcelo, na Rede Canção Nova, no horário eleitoral de algum partido, aparecesse uma nova versão desse filme, atualizado para o século XXI, mas com a mesma mensagem – reacionária já em meados do século XX.
O que me surpreende, de qualquer forma, é seguir havendo esse mesmo discurso, esse mesmo pensamento, e essa gente continuar achando que é ela quem está bem da cabeça.
Quando se adentra a esfera do discurso, tudo se torna mais esfumado: difícil de perceber, difícil de saber até onde vai essa luta ideológica, difícil de se organizar de tal modo que a oposição tenha efetividade. Por exemplo: qual linha divide o combate aos preconceitos presentes na fala comum do patrulhamento de um politicamente correto pernicioso ao que se pretendia defender?
Quando falo em discurso, falo do discurso quotidiano, meu, seu, de qualquer um do dia-a-dia, e não aquele encampado na última eleição por José Serra (PSDB) do “Brasil, o país do aborticídio” ou, ainda que sem a mesma verve de fim de mundo, pela candidata paz e amor (e moralismo) Marina Silva (PV). É aquele discurso que ainda acha graça em piadas as mais batidas com minorias, como um certo ex-presidente da República filiado ao PT um dia fez sobre Pelotas, é o discurso que vê na figura do diferente uma ofensa, como para o senador Roberto Requião (PMDB). Enfim, é o discurso que corre de boca em boca e de tão banal praticamente não notamos.
E o que tem passado despercebido é a volta da homossexualidade como doença. Não apenas nos círculos moralistas, onde nunca deixou de ser doença, pecado, coisa do demônio, como na grande imprensa – que inconscientemente tem incorporado esse discurso reacionário. Botulismo é provocado por bactérias, raquitismo, por má alimentação, hipertireoidismo é uma doença do metabolismo, e homossexualismo? Seria do caráter? Da moral? Ou é genético? Quais as formas de transmissão? Contato visual, respirar o mesmo ar, a simples existência do gay? Um filme institucional estadunidense dos anos 1950 já alertava: “Homossexualismo é uma doença, cuidado. Uma doença que não é visível, como sarampo. Mas não menos contagiosa, uma doença da cabeça”.
Não me surpreenderia se em breve na Record, no horário do pastor RR Soares, na missa do Padre Marcelo, na Rede Canção Nova, no horário eleitoral de algum partido, aparecesse uma nova versão desse filme, atualizado para o século XXI, mas com a mesma mensagem – reacionária já em meados do século XX.
O que me surpreende, de qualquer forma, é seguir havendo esse mesmo discurso, esse mesmo pensamento, e essa gente continuar achando que é ela quem está bem da cabeça.
Campinas, 12 de junho de 2011.
ps: peguei a referência do filme do blogue do Marcelo Rubens Pavia.
http://www.youtube.com/watch?v=v3S24ofEQj4&feature=player_embedded
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