rEflexões aleatórias sobre questões aleatórias. nÃo são exatamente opiniões, são antes tentativas de entender o mundo que me habita.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Textos meus na Casuística 12
A edição 12 de Casuística. artes antiarter heterodoxias [www.casuistica.net], tem os seguintes textos de minha autoria:
* "Quem não reagiu está vivo": a mentira aceita como mentira - Artigo
* Cores e sombras no vazio até o Outro - Crônica
* C. - Conto
* Desde a morte da avó, - Conto
* Pássaros eletroacústicos, músicas esvoaçantes - Crônica
* "Quem não reagiu está vivo": a mentira aceita como mentira - Artigo
* Cores e sombras no vazio até o Outro - Crônica
* C. - Conto
* Desde a morte da avó, - Conto
* Pássaros eletroacústicos, músicas esvoaçantes - Crônica
sábado, 20 de outubro de 2012
Atrás de um cachorro-quente: uma andança pela Paulista
Com pouca fome, mas precisando comer, sem vontade de fazê-lo, saio
de casa, ver se me animo a jogar algo pra dentro do estômago. É
pouco mais das seis da tarde. Na esquina de casa, um mendigo ainda
dorme na calçada. Está lá desde a uma, quando saí pra almoçar.
Choveu nesse ínterim, ele puxou um cobertor, mas segue no mesmo
lugar. Desço a Augusta em busca de inspiração: se cozinhar é uma
arte, por que comer também não seria? É certo que comer junkie
e fast-food seria, na melhor
das hipóteses – e olhe lá –, kitsch.
No baixo Augusta penso em seguir até a Liberdade, comprar guioza e
comer em casa, mesmo. Mas sempre me perco no caminho, e não estou
disposto a conferir se seria uma aventura me meter pelo centrão de
São Paulo num sábado à noite. Volto pela mesma Augusta. No caminho
me decido por um cachorro-quente, apesar de não gostar muito: meu
estômago não anda tão bom, hoje havia tomado chimarrão depois de
mais de um mês sem beber nada com cafeína, por que não aproveitar
pra ferrar de uma vez, se for o caso?
Sigo um tanto ensimesmado pela
Paulista, cantarolando a quinta sinfonia de Mahler. O único
cachorro-quente que lembro fica antes da metade da avenida. Skatistas
passam, pessoas param nos postes para seus cachorros marcarem
território, num ponto de ônibus um mendigo grita "ai ai ai"
com as mãos na cintura, como se estivesse segurando as calças. As
pessoas olham, eu passo, observo, mas faço como os europeus –
conforme contou esta semana uma conhecida –, e finjo que não se
trata de nada extraordinário que mereça virar atração principal.
Em frente ao Reserva Cultural vejo uma guria que parece Camila, a
moreninha da balada. Passado o susto inicial (custou uma bambaleada
nas pernas), reparo que é japonesa demais para ser a referida
senhorita – que é mais bonita, diga-se de passagem. Vou até a
casa de uma amiga. Sei o prédio onde ela mora, o bloco, mas não sei
o apartamento. Descubro que ela não é amiga do porteiro, que, muito
solícito, procura no caderno de correspondências, liga para o
zelador, mas termina sem descobrir onde poderia morar minha amiga.
Vou ao cachorro-quente sozinho, mesmo. Cinco reais um básico,
salsicha, purê, maionese, vinagrete e batata-palha – sendo que não
gosto de maionese e batata-palha. Quase nove um um pouco melhor. Para
São Paulo, um valor normal. Porém, para uma salsicha, está caro.
Resolvo, então, encarar um sanduíche de junkie-food:
é o mesmo preço ou mais barato, e apesar de também não gostar
muito, soa mais interessante – por mais que já anteveja o final.
Entro em um shopping, ver se há
ali a rede que gostaria de provar. Não. Mas há cachorro-quente
gourmet: o kitsch do
kitsch. Quatorze
reais: quem se presta a comer num lugar assim merece pagar um valor
desses por uma salsicha. No outro shopping, já no início da
Paulista, também não há loja da rede que busco e me contento com o
Bob's.
Na segunda mordida, minha boca já
está levemente dolorida. Ao fim, minha garganta está irritada. A
quantidade de porcaria naquele hamburguer foge da minha compreensão,
então acho que é culpa do sal: ele me forneceu mais da metade do
que eu precisava pro dia. Não que eu seja assíduo freqüentador
desse shopping, mas me surpreendo de, pela primeira vez, me deparar
com um negro que fala português e não é funcionário. Nas lojas,
desconto de ternos, mantas e roupas de inverno. Orientais loiras,
tenho visto várias, mas de cabelo castanho e encaracolado, é a
primeira, até onde me lembro. Pela postura corporal dá sinal de
vinda diretamente do Japão (e não sei se houve mesmo pênalti no
segundo gol). O dia das crianças foi semana passada, e a decoração
de natal já está quase pronta. Para meu alívio, ainda não puseram
Simone para cantar, mas logo logo começa – então é natal, e o
que você fez (para merecer toda essa tortura)?
O caminho de volta é o mesmo de
ida. Um morador de rua, cabelo quase parecendo uma coroa, com um
cobertor marrom como manto, fumando um cigarro amaçado, faz
discurso. Passo em frente a uma igreja no exato instante em que os
noivos saem dela. Os convidados comemoram. Sorrisos de todos.
Alegria, alegria! Pra que ler tanta notícia assim?, talvez
perguntasse Caetano, se tivesse escrito sua música hoje. Eu vou. E
uma canção me consola. Eu vou... ao mercado. Lá, não um jingle,
mas um blues inteiro canta as maravilhas de um dado posto de
gasolina. Como dizer que a música que toca no rádio é arte, se um
publicitário faz algo exatamente equivalente? Lembro de My
Iron Lung, do Radiohead, em que
a banda se questiona repetir a fórmula que fez sucesso com Creep:
this is our new song, just like the last one, a total waste of time.
Para um criador, perder tempo não é necessariamente problema –
inclusive, os artistas de fato são capazes de fazer arte e crítica
a partir da redundância, questionando o próprio processo, como o
próprio Radiohead –, o ponto é ser consumidor e perder tempo
passivamente com mais do mesmo, sempre. Lembrar de My Iron
Lung me fez parar de cantarolar
Mahler. Por sinal, do terceiro ao sétimo minuto do terceiro
movimento, o scherzo,
o que é aquilo?! De um clima alegre, quase triunfal, para uma tensão
que se desenvolve rapidamente e, ao invés de ser resolvida, surge a
trompa cortando feito navalha e deixando terra devastada.
Outra vez a Paulista. Numa esquina,
um homem chega a um grupo de jovens, que animadamente conversava,
enquanto espera o sinal abrir: já viram a última folha? Os jovens
se olham, assustados com a interpelação do estranho. Já viram a
última folha? Não, responde um deles, meio se desviando. Aqui, a
última folha, e abre a mão (desconfio que com uma folha). O sinal
abre, os jovens seguem, o homem insiste: e agora, viram a última
folha? Sobra um clima estranho no grupo, que acaba num riso tenso.
Noto o quanto é positivo esses episódios inusitados e inofensivos:
abre chances de novos assuntos, que o ambiente asséptico do
shopping, definitivamente, não daria oportunidade.
Skatistas seguem passando. Pessoas seguem parando nos postes. Uma
hora passa um skatista com um skate sem prancha, apenas dois suportes
para os pés. Um amigo dele, um pouco à frente, uma hora se joga no
chão para não atropelar um casal de garotas. Pouco antes, uma
senhora seguia com dois cachorros que pareciam dois leitões de tão
cilíndricos. Três hippies cantam e tocam, sem qualquer chapéu
pedindo dinheiro. Em frente ao Reserva não há o saxofonista tocando
músicas melosas – para alívio dos casais que aproveitam das
escadarias e do movimento da avenida. Para meu alívio, também não
vejo ninguém que me lembre Camila, a moreninha da balada – ou a
própria. A capa da Veja é sobre a China, só que, claro, tem que
falar do julgamento do mensalão petista. Independência entre os
poderes, não implica em interesses independentes. Fico imaginando as
conseqüências do bom exemplo que esses togados da moralidade
seletiva estão dando ao país – nem vou falar da Grande Imprensa,
que não há nada além de mais do mesmo. Ao passar em frente ao
centro cultural Fiesp, lamento ter perdido a exposição da Thereza
Collor, e digo a mim mesmo que a da Lygia Clark, no Itaú Cultural,
eu não posso perder – o trio neoconcreto do Rio mais que me
encanta, já foi capaz de mudar minha percepção de mundo. Uma
colega da engenharia disse que está interessada em conhecer o local,
a oportunidade é ótima.
Cruzo com um homem que fica me encarando. Me pergunto porque
mulheres, quando fazem o mesmo, desviam o olhar quando encaro de
volta. A Paulista está bem movimentada. Tenho flanado pouco por ela,
desde que as aulas começaram – nem nos fins de semana, que, quando
saio, prefiro a Augusta. Por falar nela, falta ainda uma quadra para
chegar ao seu cruzamento, entretanto são visíveis girocopteros
luminosos cortando o céu. Pretendo comprar um desses antes de ir
para Pato Branco uma próxima vez, para brincar com ele na praça da
cidade e fazer meus amigos – que tem um nome a zelar na cidade –
morrerem de vergonha.
São Paulo, 20 de outubro de 2012.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
O estouro da noiada: outra andança pelo centro
Faz
tempo que não tenho dado minhas voltas pelo centro de São Paulo –
o que reflete na ausência de crônicas sobre o assunto. Um pouco
receio da polícia, que anda dando tiro como se jogasse videogame,
bastante por causa do clima destes últimos meses, que oscila entre
seco, chuvoso e frio, sem parar num meio termo minimamente aprazível;
e principalmente porque tenho que acordar às cinco e meia da manhã
pra ir pra aula.
Aproveitando
o clima agradável e o fato de não ter aula na quarta, decidi sair
para tomar a fresca e comer fora, um junkie-not-so-fast-food
oriental, na Augusta. Como havia fila na lanchonete, decidi ir na
outra filial, na praça da República. No caminho passo pela praça
Roosevelt – pela primeira vez desde que reabriu da sua
"revitalização". Concreto concreto concreto concreto.
Degraus degraus degraus. Skatistas skatistas skatistas. Policiais e
mais policiais. Uns canteirinhos perdidos em meio a isso tudo. Sou
mais de uma praça com mais verdes e menos agitos, como a praça
Camões, em Ribeirão Preto, onde velhinhos, moradores de rua,
cachorros acompanhados de suas respectivas madames e maconheiros se
encontram pacificamente sob as árvores. De qualquer forma, sabendo
que a parte concreto e degraus será sempre predominante na praça
(até nova revitalização), se continuar havendo mais skatistas que
policiais, creio que estamos bem. O problema é se os moradores de
bem do entorno – que já teve um prostíbulo derrubado –
conseguirem impôr toque de recolher aos skatistas, tornando-a outro
espaço inóspito da capital – restrições sempre com as melhores
das intenções, em nome dos bons costumes e da moral, é claro.
Na
avenida São Luís, a calçada, refeita, tem o mapa estilizado de São
Paulo distorcido, assumindo formas ora sem sentido, ora de pato.
Troco a comida japonesa por um xis numa lanchonete próxima à
galeria Olido. Já alimentado, no trajeto de volta, uma moradora de
rua, indignada, comenta com outro que está sem cobertor pela
terceira noite seguida, porque emprestou a não sei quem. Não
passará frio, com certeza, fico me perguntando se não o utilizaria
como colchonete. Parada súbita no Shopping Light, para usar o
banheiro – que não é catraca livre. Aliviado, decido, então, por
uma volta no centro.
Esqueço
que já havia me comprometido comigo mesmo a não ir além da avenida
São João depois do horário comercial. Não resisto. No cruzamento
da Ipiranga com a Rio Branco, acho por bem voltar. De repente, da rua
do Boticário, sai um enorme número de nóias. Não adianta parar ou
continuar, o resultado é o mesmo: acabo no meio deles – um tanto
apreensivo, admito. Andam em ritmo até que acelerado, sempre olhando
para trás, assustados. O responsável pelo estouro da noiada: um
carro da polícia que passa lentamente. Trato de acelerar o passo
para sair do meio (só depois me dou conta que eles estavam
preocupados demais com a polícia para se darem conta d'eu ali no
meio, e que mais perigoso era a polícia ainda resolver me pegar).
Não
me enrolo muito pela Boca do Lixo, basta de emoções pela noite.
Volto pela Augusta, como sempre. Alguns novos empreendimentos
imobiliários brotam no caminho, colocando a vida noturna da rua sob
perigo – que a efervescência da Augusta fique na rua e pelo
centro, ao menos! Estranho alguns garotos, na faixa dos treze anos,
vestidos relativamente bem, no baixo Augusta. Estranho também o alto
Augusta estar mais movimentado que o resto, apesar de já ser quase
onze da noite. Não estranho o fato de estar cansado: estou há duas
horas e meia caminhando, com breve pausa para o xis. Já do outro
lado da Paulista, a revenda de automóveis de luxo próxima à minha
casa fechou – mas o simpático morador de rua que ficava como se
fosse o segurança da loja continua lá. Para compensar, entro na
internet descubro que a diária no hotel que há no caminho é de
quase trezentos dólares, a mais barata (sem café da manhã).
São
Paulo, 17 de outubro de 2012.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Liberdade de expressão e o direito a se expressar
Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo
(4/10), o jornalista e professor Eugênio Bucci mais confunde do que
esclarece quando pretende defender a tese de que “a censura judicial
encontra uma estrada aberta, desimpedida, e cresce”, com apoio de parte
da população.
Bucci começa seu artigo afirmando que há certa difusão da ideia de que
“a defesa da liberdade de imprensa é coisa da direita, é uma agenda
patronal”, com o que concordo: mesmo na academia, a divisão precária em
esquerda e direita serve para julgamentos rápidos e definitivos e impede
uma reflexão minimamente crítica acerca do problema – a começar pela
própria definição de esquerda e direita. A seguir, o autor diz que esse
bordão é a versão esquerdista da direitista “essa conversa de direitos
humanos só serve para proteger bandidos”. Os dois falam de direitos
fundamentais, certo, mas não há motivo para misturar uma coisa com a
outra: censura é péssimo e não há argumentos razoáveis num Estado
democrático para sua defesa, mas achar que é equivalente a pau-de-arara,
execuções sumárias e coisas do gênero, é desrespeitar o sofrimento
físico e psicológico de pessoas e familiares.
Com essa introdução, o articulista parece querer se pôr numa pretensa
posição de isenção e neutralidade. O que se segue não corrobora essa
impressão: ao se fiar em exemplos e mais exemplos para mostrar o avanço
da censura, ele causa mais confusão ainda ao leitor, discute filigranas
de pouca importância e foge do cerne do problema. Por qual motivo
censura prévia e disputas judiciais pela retirada de conteúdo ofensivo
devem ter igual tratamento, se são casos distintos? Que sejam
condenáveis muitas das decisões para retirada de conteúdo já publicado, o
próprio Judiciário oferece caminhos para seu questionamento – o que não
isenta a sociedade de pressões políticas.
Frouxos e lenientes
A questão que sobra é: a partir de que momento e em que direção essas pressões devem (ou deveriam) ser feitas? Bucci foge dela.
Como consequência do desenvolvimento (?) de seu texto, Bucci chega a igual conclusão que a Folha de S.Paulo,
em editorial de 28 de setembro: “A maior ameaça à liberdade de
expressão no Brasil, hoje, parte do Judiciário”. Liberdade para a
expressão de quem? Não de todos, com certeza. Ouso dizer que a maior
ameaça à liberdade de expressão no Brasil, hoje, parte da própria
imprensa – que se mostra pouco interessada em liberdade num sentido
pleno, com deveres e direitos.
Sintomaticamente, no parágrafo seguinte, afirma que “O Brasil unificou-se para derrotar a inflação, assim como agora se articula
para combater a pobreza”. Faltam sujeitos a essa união e essa
articulação. Sobra generalização. Os que criticam o Bolsa Família como
“Bolsa Vagabundagem” não parecem tão interessados assim no combate à
pobreza, por mais que tentem edulcorar seu discurso com “ensinar a
pescar, ao invés de dar o peixe”: alguém acredita nesse discurso,
proferido desde tempos remotos de nossa história? Bucci também ignora
que no mesmo dia a Folha lançou um editorial criticando as
atitudes da presidente argentina, Cristina Kirchner, contra o Grupo
Clarín. Nada mais natural: ao atacar a concentração da mídia (e,
consequentemente, da informação), Kirchner abre um perigoso precedente: e
se decidirem fazer o mesmo no Brasil, obrigando o quarto poder a
seguir, ele também, a Constituição? Motivos para fazê-lo sobram. Temor,
por parte dos grandes grupos de que seja feito, também. Mas os governos
petistas têm sido frouxos e lenientes no cumprimento da lei: vale
lembrar que a revista Veja publicou reportagem de capa
difamando sem provas o chefe do poder executivo, representante do Estado
nacional, de ter conta na Suíça. O que fizeram Lula e a Presidência?
Uma resposta numa entrevista, na volta da sua viagem à Europa.
Um privilégio
A defesa da liberdade de expressão sem questionar se ela existe de fato no país serve apenas para reforçar o status quo.
“Se queremos defender o direito à informação, precisamos defender a
liberdade do Google”, diz Bucci. Corretíssimo! Contudo essa defesa está
muito aquém de significar direito à informação e à liberdade de
expressão. A pura e simples defesa do atual desenho da mídia serve
apenas para que a imprensa possa seguir agindo como um poder paralelo,
supraconstitucional, o “quarto poder”, como ela adora se apelidar –
esquecendo que os outros três possuem limitações recíprocas e obrigações
constitucionais a serem seguidas (não me alongo neste aspecto, que
discuti no texto “O Quarto Poder para além do Estado Democrático de
Direito no Brasil”, na edição 101 da revista eletrônica Casuística, páginas 93-99).
A liberdade de imprensa, nesta configuração de forças, acaba sendo, na
verdade, liberalidade de imprensa, com claro pendor para os grupos com
maior poder econômico; e deixa toda a população à mercê de interesses
não declarados. Não se trata de defender a censura desses meios, mas a
contingência de seu poder para os parâmetros exigidos pela Carta Magna
do país (art. 220, § 5º) – os EUA, pais da liberdade de expressão, fazem
isso.
O término do seu texto apenas acentua o caráter nada parcial e a
argumentação carente de uma análise mínima de contexto desenvolvida até
então: dizer que “a liberdade de imprensa não é um privilégio de
jornalistas ou meios de comunicação: é um direito de todos nós” não
corresponde à realidade tupiniquim: a liberdade de imprensa é, sim,
privilégio de alguns poucos jornalistas e meios de comunicação – que o
diga Maria Rita Kehl, com quem Bucci lançou o livro Videologias, quando demitida do Estado de S.Paulo por “delito de opinião” (ver aqui) –, quando deveria ser um direito de todos nós.
São Paulo, 04 de outubro de 2012.
Publicado originalmente no Observatório da Imprensa, edição 716.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Leituras diversas
O bom de ser um "anti-fluxista" é pegar trem e metrô
vazios, geralmente com lugar para sentar. Desta feita não foi
diferente. Voltava pra casa, pouco depois da uma da tarde. Peguei o
trem na Estação Celso Daniel. Sentei ao lado de uma mulher que, mal sentara, já
sacava da bolsa um livro. A imitei, e tirei da mochila o livro que
começara a ler no dia anterior. Na minha frente se sentou uma bela
mulher, com um estilo interessante: parecia beirar os trinta,
esbelta, saia, meia-calça preta, cabelo laranja, alargador de
orelha, piercings, braços cobertos de tatuagens. Não que eu ache
que alguém com esse visual seja necessariamente rebelde, mas
acredito (ingênuo...) que seja minimamente contestadora e não seja
careta (no sentido existencial do termo).
Reparei no livro que a mulher ao lado lia: Ágape, do Padre
Marcelo Rossi. Ri da distância de nossas leituras: me acompanhava na
viagem História do olho, do
Bataille (por sinal, depois de 120 dias de Sodoma,
História do Olho soa
agradavelmente pueril nas suas demi-escatologias). Antes de começar
a leitura, o livro ostentado como a disputar com a pessoa ao meu lado
(e o marca-páginas da Casuística aparecendo, claro), reparei uma
vez mais na mulher na minha frente. "Fiz alguma moral com ela",
pensei, ainda que não esperasse nada além disso: ter feito alguma
moral com ela.

No metrô, apesar de não ser
preferencial, ofereci meu lugar a uma senhora que entrou. Recusou:
"estou bem em pé, e pra quem lê é melhor sentado".
Insisti, recusou novamente. Agradeci. E por consideração à
simpática senhora, escondi a capa do livro.
São Paulo 02 de outubro de 2012.
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