O bom de ser um "anti-fluxista" é pegar trem e metrô
vazios, geralmente com lugar para sentar. Desta feita não foi
diferente. Voltava pra casa, pouco depois da uma da tarde. Peguei o
trem na Estação Celso Daniel. Sentei ao lado de uma mulher que, mal sentara, já
sacava da bolsa um livro. A imitei, e tirei da mochila o livro que
começara a ler no dia anterior. Na minha frente se sentou uma bela
mulher, com um estilo interessante: parecia beirar os trinta,
esbelta, saia, meia-calça preta, cabelo laranja, alargador de
orelha, piercings, braços cobertos de tatuagens. Não que eu ache
que alguém com esse visual seja necessariamente rebelde, mas
acredito (ingênuo...) que seja minimamente contestadora e não seja
careta (no sentido existencial do termo).
Reparei no livro que a mulher ao lado lia: Ágape, do Padre
Marcelo Rossi. Ri da distância de nossas leituras: me acompanhava na
viagem História do olho, do
Bataille (por sinal, depois de 120 dias de Sodoma,
História do Olho soa
agradavelmente pueril nas suas demi-escatologias). Antes de começar
a leitura, o livro ostentado como a disputar com a pessoa ao meu lado
(e o marca-páginas da Casuística aparecendo, claro), reparei uma
vez mais na mulher na minha frente. "Fiz alguma moral com ela",
pensei, ainda que não esperasse nada além disso: ter feito alguma
moral com ela.

No metrô, apesar de não ser
preferencial, ofereci meu lugar a uma senhora que entrou. Recusou:
"estou bem em pé, e pra quem lê é melhor sentado".
Insisti, recusou novamente. Agradeci. E por consideração à
simpática senhora, escondi a capa do livro.
São Paulo 02 de outubro de 2012.
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