Faz
tempo que não tenho dado minhas voltas pelo centro de São Paulo –
o que reflete na ausência de crônicas sobre o assunto. Um pouco
receio da polícia, que anda dando tiro como se jogasse videogame,
bastante por causa do clima destes últimos meses, que oscila entre
seco, chuvoso e frio, sem parar num meio termo minimamente aprazível;
e principalmente porque tenho que acordar às cinco e meia da manhã
pra ir pra aula.
Aproveitando
o clima agradável e o fato de não ter aula na quarta, decidi sair
para tomar a fresca e comer fora, um junkie-not-so-fast-food
oriental, na Augusta. Como havia fila na lanchonete, decidi ir na
outra filial, na praça da República. No caminho passo pela praça
Roosevelt – pela primeira vez desde que reabriu da sua
"revitalização". Concreto concreto concreto concreto.
Degraus degraus degraus. Skatistas skatistas skatistas. Policiais e
mais policiais. Uns canteirinhos perdidos em meio a isso tudo. Sou
mais de uma praça com mais verdes e menos agitos, como a praça
Camões, em Ribeirão Preto, onde velhinhos, moradores de rua,
cachorros acompanhados de suas respectivas madames e maconheiros se
encontram pacificamente sob as árvores. De qualquer forma, sabendo
que a parte concreto e degraus será sempre predominante na praça
(até nova revitalização), se continuar havendo mais skatistas que
policiais, creio que estamos bem. O problema é se os moradores de
bem do entorno – que já teve um prostíbulo derrubado –
conseguirem impôr toque de recolher aos skatistas, tornando-a outro
espaço inóspito da capital – restrições sempre com as melhores
das intenções, em nome dos bons costumes e da moral, é claro.
Na
avenida São Luís, a calçada, refeita, tem o mapa estilizado de São
Paulo distorcido, assumindo formas ora sem sentido, ora de pato.
Troco a comida japonesa por um xis numa lanchonete próxima à
galeria Olido. Já alimentado, no trajeto de volta, uma moradora de
rua, indignada, comenta com outro que está sem cobertor pela
terceira noite seguida, porque emprestou a não sei quem. Não
passará frio, com certeza, fico me perguntando se não o utilizaria
como colchonete. Parada súbita no Shopping Light, para usar o
banheiro – que não é catraca livre. Aliviado, decido, então, por
uma volta no centro.
Esqueço
que já havia me comprometido comigo mesmo a não ir além da avenida
São João depois do horário comercial. Não resisto. No cruzamento
da Ipiranga com a Rio Branco, acho por bem voltar. De repente, da rua
do Boticário, sai um enorme número de nóias. Não adianta parar ou
continuar, o resultado é o mesmo: acabo no meio deles – um tanto
apreensivo, admito. Andam em ritmo até que acelerado, sempre olhando
para trás, assustados. O responsável pelo estouro da noiada: um
carro da polícia que passa lentamente. Trato de acelerar o passo
para sair do meio (só depois me dou conta que eles estavam
preocupados demais com a polícia para se darem conta d'eu ali no
meio, e que mais perigoso era a polícia ainda resolver me pegar).
Não
me enrolo muito pela Boca do Lixo, basta de emoções pela noite.
Volto pela Augusta, como sempre. Alguns novos empreendimentos
imobiliários brotam no caminho, colocando a vida noturna da rua sob
perigo – que a efervescência da Augusta fique na rua e pelo
centro, ao menos! Estranho alguns garotos, na faixa dos treze anos,
vestidos relativamente bem, no baixo Augusta. Estranho também o alto
Augusta estar mais movimentado que o resto, apesar de já ser quase
onze da noite. Não estranho o fato de estar cansado: estou há duas
horas e meia caminhando, com breve pausa para o xis. Já do outro
lado da Paulista, a revenda de automóveis de luxo próxima à minha
casa fechou – mas o simpático morador de rua que ficava como se
fosse o segurança da loja continua lá. Para compensar, entro na
internet descubro que a diária no hotel que há no caminho é de
quase trezentos dólares, a mais barata (sem café da manhã).
São
Paulo, 17 de outubro de 2012.
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