Na virada do século, Lobão era
o cara no rock brasileiro. Em um momento em que as grandes gravadoras
ainda tinham enorme força, ao ser posto de lado pela máquina da
indústria cultural, levantou a voz contra o jabá, criou seu próprio
selo - o Universo Paralelo - e lançou um disco, A vida é doce
(1999).
Uma jogada de márquetim e tanto - que iludiu alguns ingênuos, como
este escriba -, mas que serviu pra apresentar ao grande público um
pouco do modus operandi
dessa indústria que se diz movida a talento.
Foi
a polêmica que permitiu vendas expressivas do A vida é
doce, mas o disco fazia por
merecer. Seu antecessor, Noite,
de 1998, era excelente, e o rockeiro manteve a qualidade. Claramente
Lobão era um artista no seu auge, arriscando experimentações que o
mercado não aprova e fugindo de modismos - Nostalgia da
modernidade (1995) ia
de samba, Noite, de
eletrônica, enquanto isso os Titãs lançavam em 1997 seu
disco-bunda Acústico MTV, ideal
para tocar em elevador ou em reuniões de família classe-média
conservadora.
Ainda
por seu selo, Lobão lançou um disco ao vivo, 2001: Uma
odisséia no universo paralelo (2001),
razoável, e outro disco de estúdio, Canções dentro da
noite escura (2005), em que as
quatro primeiras músicas são uma seqüência que já vale o disco.
Aqui ele encerra a fase áurea da sua carreira.
Depois
desse disco, disse ele que se frustrou em fazer o disco e não ter a
vendagem merecida, achou mais digno fazer jabá (mesa no II Congresso
de Jornalismo Cultural) e gravar o que a gravadora queria. Fazendo
tudo o que a gravadora mandava, lançou com dez anos de atraso,
quando o modelo já estava esgotado, o Acústico MTV,
releituras pobres e clichês de músicas antigas (é só tirar as
letras e fazer alguns poucos consertos nos arranjos e se tem o
acústico do Charlie Brown, do Lulu Santos, dos Titãs, etc).
Conforme a wikipedia, Acústico teve
uma venda nem 10% acima de Canções, os
vinte mil que compraram o primeiro pela sua qualidade, foram
substituídos por vinte mil que compraram porque apareceu na tevê.
Desde então, sua mais alta
rebeldia foi sua camiseta "Peidei, mas não fui eu" - sem
dúvida chocante para o clube das avós das viúvas da ditadura, seu
novo público cativo. E toda vez que ele abriu a boca, foi pra
mostrar que peidos era coisa pouca pra ele: no melhor dos casos falou
merda.
E
por que raios venho ressussitar zumbi? Admito, ouvia Canções
dentro da noite escura e no
fundo lamento que seu cérebro tenha virado algo um pouco abaixo de
um porífero decrépito. Tinha um futuro promissor ainda, aquele
rockeiro semi-gagá da virada do século.
São Paulo, 17 de julho de 2014
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