sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Sextou na marginal Tietê

Sextou! São quase dez da manhã de uma sexta-feira banal nestes Tristes Trópicos. Diferentemente dos últimos dias, o clima está ameno e o céu, nublado. À pé, atravesso a ponte Cruzeiro do Sul. Da marginal Tietê sobe o ruído do trânsito carregado. Da ponte, vislumbro a São Paulo das escolhas erradas: a retificação do rio de Ulhoa Cintra - e a própria negação de possível função paisagística (ou mesmo de transporte, que não de esgoto) do rio, dando um respiro ao cinza urbano -, a marginal de Prestes Maia, o metrô de Faria Lima que corre ao meu lado - cujo projeto do consórcio alemão descartou estruturas e espaços prontos ou reservados para o modal (como o que depois viria a ser a terceira pista de Serra, outra escolha errada para éssepê), em favor de uma rede de custos elevadíssimos. Na beira do rio, junto a uma saída de águas pluviais (quero crer), observo entre as tremulantes bandeiras do Brasil fixadas na ponte, um homem. Ele está terminando de lavar roupa. Está na última peça, que estende ao lado das demais, no concreto. Mais de uma dezena de pombas o rodeiam, acompanham sua lida. Ao terminar de estender, ele pára e fica olhando para algo que não percebo - outra bandeira atrapalha minha visão. Ou talvez olhe para o nada, para a São Paulo das escolhas erradas, para o Brasil de patriotas canalhas, que amam os "USA" e odeiam o brasileiro. A previsão é de chuva a partir do meio dia - temo que não dê tempo de sua roupa secar -, o trânsito segue pesado.

07 de novembro de 2018


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