Na loja de tintas, a
tevê ligada no policialesco do meio-dia, outro sub-Datena, mas tão
criminoso quanto o original. Com tanto e tantos discursos de ódio
transmitidos diariamente como se fosse jornalismo e opinião, não é
de surpreender que Bolsonaro - o Bolsomico - passe a ser visto como
alguém digno de atenção e respeito. Ao meu lado, duas senhoras, na
casa dos cinqüenta, sessenta anos, conversam sobre "política".
Conta a primeira: "O presidente (sic) mandou tirar o retrato
dela de todas as salas, diz que tinha uma pilha assim de retratos"
(e levanta braço míseros trinta centímetros), ao que a segunda
comenta: "É impressionante como esse governo gastava dinheiro à
toa". Dinheiro sendo bem aplicado notei poucas quadras dali, na
ETEC das Artes, no Parque da Juventude - outrora o presídio do
Carandiru, palco uma das muitas e vergonhosas chacinas perpetrada
pelo estado (então governado pelo PMDB, por sinal), com nosso
dinheiro, em nosso nome. Alexandre de Moraes pode ter deixado a
Secretaria de Segurança Pública (sic), mas o modus operandi que
ele implementou na polícia militar do estado continua - afinal, ela
orna divinamente com o modus operandi do governador tucano
Geraldo Alckmin de lidar com a política. Unir polícia e política
são é uma coisa que agrada aos velhos donos do Palácio dos
Bandeirantes, assim como os novos ocupantes do Palácio do Planalto -
os primeiros já conseguiram transformar a PM em milícia do partido,
como evidenciou o episódio na PUC-SP, em março deste ano. No pátio
da ETEC está acontecendo uma assembléia estudantil; mais de uma
centena buscam um canto de sombra para acompanhar os discursos. Todos
sabemos que estudantes são elementos muito perigosos da sociedade, e
que é necessário ter à mão armas letais para caso eles resolvam
agir - como pediu o atual ministro da justiça e dos direitos humanos
(sic) quando subordinado de Alckmin, e foi atendido pela nossa
justiça (sic). Por conta desse potencial altamente perigoso de
alunos uniformizados e facilmente identificáveis, seis viaturas
acompanham muito de perto a assembléia; outras quatro estão na
entrada do prédio, sob aviso, para qualquer odioso crime perpetrado
por aqueles jovens cheio de espinhas. São, portanto, no mínimo
vinte militares vigiando uma assembléia de estudantes secundaristas.
Poderiam estar combatendo assaltantes, assassinos, traficantes, mas
estão intimidando jovens que falam de política. As duas senhoras
talvez gozassem ao ver a cena e imaginar que logo o Brasil estaria
livre de baderneiros; o apresentador de tevê talvez lamente a tibiez
dos militares. Por meu turno, eu temo de, em dois ou três meses,
estar sentindo saudades de quando as forças da ordem (e do
progresso?) agiam com tamanha delicadeza e respeito. Novo governo,
novos tempos, e nossa elite política que tenta, uma vez mais, fazer
a roda da história girar para trás. Mas não falemos de crise: o
trabalho liberta!
16 de maio de 2016
Uma milícia estatal, militarizada e bem treinada para atender aos interesses da famiglia |
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