quinta-feira, 23 de maio de 2024

Doutor Sabujinho foi de Americanas [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Doutor Sabujinho não está mais entre nós. Foi assim a mensagem que recebi de Macedo, ainda antes de chegar ao trabalho. Sim, como a decupada leitora, o decupado leitor (estou me atualizando, não esqueci um “so” no meio das palavras), também achei que o fatídico colega Rivarola havia ido de Americanas, como dizem os cringe de hoje em dia (segundo meu Brotinho), mas que nada, ele só foi transferido de setor. Na real, profissionalmente podemos dizer que ele foi de Americanas de um modo até bem literal. Já me explico, antes quero recapitular rapidamente a saga desse pulha.

Doutor e fracassado em sua área de formação, seu grande mérito é ser um puxa-saco de resultados, ou melhor, um puxa-saco inversamente proporcional à sua capacidade de trabalho. Também é um assediador na proporção inversa ao que tem de beleza.

Entrou botando banca, conseguiu galgar rapidamente postos (pisando em colegas, inclusive) e quando estava para ganhar uma promoção, foi transferido de função, para gestão de imagem e reputação do setor. Foi uma chance que ganhou, já que naquilo que é formado e teoricamente apto, com o tempo se mostrou incompetente. 

Acontece que na nova função ele também se mostrou inapto, a ponto de em pouco tempo se tornar claramente assistente da estagiária - e não que a estagiária seja folgada (como eu nos meus tempos de estágio), mas ganhou a confiança dos chefes pelo trabalho e passou a ter melhor reputação. Tanto que a sua saída já completa duas semanas e nada de alguém para substituí-lo (e também nada de efetivar a pobre da estagiária, que nesse ponto não tem parecido esperta o suficiente para pressionar a chefia).

Diante da sua incompetência e desnecessidade no setor, porém com seu puxa-saquismo de resultado, a chefia imediata achou por bem transferi-lo de setor, ao invés de simplesmente mandá-lo de volta aos aplicativos. O local para o qual foi transferido não é exatamente o setor do castigo, mas é a antessala. E ficamos todos nos perguntando como ele aceitou essa transferência, ainda mais fazendo cara de alegria. Foi Macedo quem respondeu:

Ganhou a promessa de uma promoção lá.

Promessa ou promoção? Perguntou Meirelles, que rapidamente farejou a cilada.

Por enquanto, promessa.

Até hoje, sempre que é para ser promoção, ela vem junto com a transferência e não depois. Estou achando que ele foi é enganado.

E por enquanto assim tem sido: foi transferido e nada de ser promovido. Ninguém se animou em perguntar se ele está se divertindo no purgatório, porém, ao que tudo indica, ele aceitou a transferência achando que iria de Lehmann na sua carreira, só que foi mesmo é de Americanas (se deu mal, mas ainda segue vivo e empregado).


23 de maio de 2024



PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

A Virada Cultural de sucesso

Cara aos cofres públicos e esvaziada, cheia de problemas técnicos e tida por um fiasco por muitos, reluto a usar tal terminologia para a Virada Cultural de 2024 - tal qual Jairo Malta faz na Folha, no artigo “Como Virada Cultural de São Paulo foi de uma referência a um fiasco”. Na verdade, depende de que ângulo se está vendo, com quais parâmetros se está trabalhando para definir seu sucesso ou fracasso. Para a prefeitura, foi um sucesso.

A divulgação do evento, a distribuição dos palcos pela cidade, em especial pelo centro, o Metrô só fazendo o caminho de volta do centro (após a meia noite, apenas era possível embarcar nas estações Anhangabaú e São Bento), o vale do Anhangabaú cercado, como se fosse mais um dos inúmeros eventos privados: a proposta implícita a esta virada era mesmo seu esvaziamento. Por isso ela foi um sucesso aos olhos de quem a organizou. 

E essa não é a proposta apenas para a virada, mas da prefeitura sob a gestão do atual alcaide para tudo o que é público: se não se pode privatizar, esvazia-se - e depois, privatize-se, como é o caso do próprio centro da cidade, primeiro esvaziado, e agora sendo entregue à iniciativa privada.

Por coincidência, na mesma data acontecia no parque do Ibirapuera privatizado um festival privado de música, com ingressos a R$ 660, a meia entrada (mais as taxas, em geral 20%, e esse valor não dava direito a todas as atrações). Na mídia, nenhuma alusão a falhas técnicas, atrasos ou furtos, como no evento público (nem a mortes, só para lembrar do que houve no show da Taylor Swift, privado, algo que a mídia corporativa fez questão de esquecer rapidamente; sem falar nas comuns brigas entre o público nos eventos privados, nunca noticiados). Novamente, implícito, o discurso de que o público é falho, enquanto o privado é eficiente.

Se, conforme Malta, a virada perdeu muito de seu potencial - misturar artistas consagrados com nomes que despontavam ainda em potência - e seu objetivo - ocupar o centro -, em boa medida se deu porque essa proposta estava em parte no festival privado do parque privatizado, enquanto essa forma de ocupação da região central não se faz mais necessária para os investidores - incorporadoras e especulação imobiliária. Hoje a ideia é retirar do centro a pecha de violento para tentar atrair uma classe média descolada, e os eventos privados - ou em estilo privado - no vale do Anhangabaú ajudam nessa repaginada.

E acima de tudo, nossas elites, vocalizadas pela mídia corporativa e pela direita/extrema-direita, seguem tentando moldar a percepção da população - ao menos de parte dela, a mais vulnerável a atuar contra os próprios interesses, por não se identificar como classe, a classe média - quanto à cidade, aos espaços e serviços públicos e espaços e serviços privados. E em tido sucesso.

A guerra contra o que é público segue a pleno vapor: a pausa na pandemia foi apenas isso, uma pausa. São Paulo da atual gestão é mais uma demonstração (insidiosa) dessa guerra.


20 de maio de 2024


sexta-feira, 17 de maio de 2024

Aulas de canto [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Cansado de passar vergonha no karaokê, há dois meses decidi fazer aula de canto. O Brotinho foi contra: dizia que a graça do karaokê está justo na vergonha. Discordo veementemente dela, e acho que sua oposição à minha decisão é medo de passar vergonha sozinha, já que ela canta pior do que eu - o que ela discorda. Em tempo, também discordo veementemente de quem acha que a graça de karaokê é cantar música ruim, tipo sertanejo - e falo isso sem fazer juízo de valor, mas com a fria lente da realidade nua e crua -, e já deixei claro aos amigos que se for para ir por essas trilhas nem me chamem, que eu saio no meio e não pago minha parte! 

Karaokê é para a gente brilhar e achar que poderia ser um cantor ou cantora de sucesso - não fosse a triste realidade das quarenta horas -, assim como criança eu achava que poderia me tornar piloto de fórmula um por mandar bem no joguinho World Circuits, no PC (e ainda acredito piamente que só não fui mesmo piloto de fórmula um por falta de herança de meus pais, o que me impediu de desenvolver e mostrar meu talento).

Às aulas de canto, enfim. A professora, preparadora vocal de alguns neófitos da música brasileira que tem despontado, falou que em um mês se pega duas músicas, nos casos mais difíceis, mas em geral são quatro músicas no mês - não necessariamente uma por semana, mas treinaríamos várias músicas nas aulas e ao fim de um mês eu teria um repertório de ao menos duas.

Ela perguntou o que eu gostaria de cantar e mandei meus rockzinhos marotos, de Radiohead a Oasis, passando por Cake, Pato Fu, Fito Paez e Sheryl Crow. E as crianças do CCSP que inventem de chamar isso de música antiga, quando as cantam (menos Fito, que nunca nem devem ter ouvido falar) nos finais de tarde de domingo, em frente ao referido local: são músicas que ouvi quando adolescente/jovem adulto e não estou tão velho assim - apesar dos desmentidos do corpo, e das crianças que cantam em frente o CCSP, que me chamam de “tio irado”, a depender do modelito que estou usando. 

Começamos com três músicas nas duas primeiras semanas. E diante dos meus avanços, a professora achou por bem ficar só com uma - a que mais exige, disse ela, ainda que eu acredite que fosse a mais fácil. Aula vai, aula vem, superada a dificuldade de acompanhar a linha melódica, veio a dificuldade em achar o tom da música. Um mês nessa tarefa inglória e a professora propôs algo inovador: mudar o tom da música! Não diz o ditado que se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé? E assim foi feito. Já estou quase mantendo o tom na música inteira - o problema vai ser cantá-la no karaokê, já que lá é o tom original.

Em resumo, de três músicas por mês, fiz a professora assumir que será três meses por música. Mas eu sigo firme e forte! E disposto a deixar o Brotinho passar vergonha sozinha!


17 de maio de 2024.



PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Enfermaria ortopédica [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Volta e meia Goreti se queixa que já é hora de uma nova pandemia. Mandamos ele calar a boca, Meireles até se benze e pede proteção aos seus axés, mas ele não arreda pé:

Poder trabalhar de casa, diminuir o ritmo, curtir um pouco a vida, que não só nas férias.

E as férias, vamos ficar sem curtir, em compensação! - retrucamos.

Não tivemos nova pandemia (não por enquanto), mas epidemia estamos tendo - a de dengue (por sorte, o presidente atual não diz que é só uma gripezinha, um resfriadinho, nem manda a galera acumular água parada em casa). Aqui no nosso setor, ao menos, um outro espectro ronda - infelizmente não é o do comunismo, pelo contrário, está mais próximo do anticomunismo, mesmo -, o espectro da epidemia dos problemas ortopédicos.

Em meu último texto comentei do saci em quarenta e cinco graus no qual Macedo se transformou por um final de semana, graças a um quiropraxista baratinho a que foi. O que esqueci de contar foi que ele travou a lombar brincando com o filho. Antes dele, eu já havia comentado do meu tilt test. Porém, antes de todos, quem inaugurou essa fase foi a colega Bella (que não é de Isabela), que torceu o pé indo para o refeitório (ela alega ser acidente de trabalho, eu não sei nada sobre isso para opinar). Como ela conseguiu tal proeza, ninguém até agora conseguiu explicar - e ela fica brava quando se faz o questionamento nesse tom, só aceita desejos de melhoras e não julgamentos de descoordenada -, mas parece que foi aí que o anjo da lâmpada fio solto, o qual está a fazer vários terem algum quiproquó ortopédico (ok, o meu não foi bem ortopédico, mas poderia ter sido, por isso, entra, e também para efeitos estatísticos e eu poder escrever minha crônica).

Semana passada, Meireles também torceu o pé, mas foi enquanto fazia seu jogging - ao menos um pouco mais nobre torcer o pé enquanto se está correndo, ou quase isso, do que quando se está carregando uma marmita. Não perca a conta, desocupada leitora, desocupado leitor, já foram quatro. Esta semana foi a vez de Carnegie chegar desconjuntado: foi jogar futebol, diz que marcou vários gols, foi o melhor da partida, mas ao chegar em casa, sentiu as costas, e no dia seguinte, travou. Melhor para ele, admito, que está com trinta sessões de fisioterapia, e basicamente vai passar um mês e meio trabalhando seis horas por dia - já discordamos calorosamente sobre isso, e eu insisto que ele saiu no lucro, ao que ele reclama da dor (homem choraminga por qualquer coisa e com isso perde o lado positivo das coisas).

Conversávamos sobre essa maré de azar ortopédico, se alguém teria desconjurado qualquer santo (tipo o Barrichello, que deve ter atropelado um despacho com seu velotrol tunado quando era criança, e desde que entrou na Fórmula 1 nunca mais um brasileiro se saiu bem no esporte; pior: Senna morreu e ele meteu uma parafusada no Massa quando ele estava para ser campeão), se seria influência do El Ninõ, se seria culpa de libra em tensão com Marte, enfim, estávamos buscando o que haveria em comum em todos esses casos, para além da idade, que recusamos em assumir: eu sou a pessoa mais atlética do grupo; Bella (que não é de Isabela) se contundiu caminhando, Meireles, fazendo jogging depois de uma manifestação, Macedo brincando com o filho, Carnegie jogando futebol. A discussão no café ia acalorada quando Macedo deu não bem uma explicação, mas seu veridicto, científico, ao qual não pudemos nos opôr:

Vocês não percebem?! Sedentarismo previne vários problemas de saúde!


07 de maio de 2024


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.