terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Basso, o colega com as melhores qualificações [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Um espectro ronda a empresa. Com o novo diretor geral, o diz-que-me-diz corre solto e ganha vulto a tese de que vai rolar um passaralho. Tem gente que se animou no Natal e se antes se dizia enforcado, agora começa a lamentar que Round Seis é só uma série de televisão.

Estávamos nessa tensão quando apareceu um funcionário novo no setor, o Basso. O alívio foi geral: se estavam contratando, o tal passaralho provavelmente não aconteceria, no máximo um ou outro demitido, digo, desligado para recolocação profissional.

Confesso que logo de cara não simpatizei com o novo colega. Não que isso seja novidade, eu não simpatizo com ninguém de fora da bancada - o que não quer dizer que eu antipatize, como é o caso de Basso. Acho que foi a foto do seu whatsapp: ele parece um desses falidos metidos a coach de criptomoedas: uma foto de estúdio, todo engomadinho em mangas de camisa azul, os braços cruzados, o sorriso forçado. Comparando com a realidade, percebe-se ainda camadas e camadas de filtro, quase uma plástica online.

Tudo ia muito bem com sua chegada até Carnegie, sempre muito diplomático quando não está indignado, conversar um pouco mais com o cidadão e trazer detalhes sobre o novo funcionário.

Aspirante a intelectual, metido a escritor, enfadonho e fresco: parece estar falando de mim, mas essa foi a definição inicial que ele deu de Basso. Até aí, tudo bem. Foi quando Carnegie nos conta que não se trata de um funcionário qualquer, e sim de um sobrinho do novo diretor geral. Porém, é claro que o parentesco não teve nenhuma relação com sua contratação: conseguiu a vaga estritamente pelas suas qualificações técnicas. Puro suco da meritocracia.

Essa informação trouxe o pânico no setor. Primeiro pensamento: o passaralho vai acontecer, visto que essa contratação não sustenta a tese antes aventada. Segundo pensamento: ele foi posto no setor adrede como P2, para analisar o trabalho de cada um, ver quem será ceifado, quem vai continuar. Ou seja, estamos todos crentes de que o passaralho virá, e não será pequeno.

No setor, ele já ganhou o apelido de Cabaço, graças ao Macedo, enquanto Carnegie agora tem sido chamado de Arauto do Apocalipse. O clima segue tenso, mas ao menos temos bom humor.


21 de janeiro de 2025


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.


Sem comentários: