Já dizia o velho ditado, há males que vêm para o bem. Assim também é o caso da invasão do Iraque pelo “cute” Bush. Claro que os males não compensam nem de perto os benefícios, mas vale ressaltá-los.
Era percebido antes de Bush assumir um movimento nos países industrializados de questionamento da globalização, principalmente. Com a invasão do Iraque tivemos grandes manifestações de massa em vários países europeus, numa clara demonstração de que os governantes agiam contra o povo que deveriam representar, culminada com os ataques de 11 de março, as marchas contra o terrorismo, e a derrota do partido situacionista na Espanha.
As imagens das torturas nas prisões iraquianas feitas pelos soldados estadunidenses, apesar de não resultar em grandes manifestações como com a invasão, chocaram grande parte dos países do globo. Um dos países menos afetados pelas imagens foram os próprios EUA. Compreensível. O filósofo Peter Singer já alertava que o fato de não se dar um valor igual à todas as vidas (a vida humana vale mais que a dos demais animais), o que autoriza os humanos a realizar experiências desnecessárias com animais, estava a um passo de descambar para o nazismo ou uma ação semelhante. Eu acrescentaria que o valor da vida não está dividida somente entre vida humana e vida não-humana, mas, numa gradação, vai da vida humana de primeiro mundo, não-humana de primeiro mundo, humana de terceiro mundo e não-humana de terceiro mundo. Ou seja, a vida do prisioneiro iraquiano torturado até a morte vale menos que a do cachorrinho do “cute” Bush (o qual não me lembro agora o nome), que possui uma página na internet atualizada diariamente.
Não obstante o fato da vida dos cidadãos de países pobres valerem menos, a indústria cultural estadunidense, desde o fim do comunismo, reforça dia sim, outro também, a imagem dos árabes de destruidores da civilização. Nada mais natural (e justo) que um cidadão que não vale muito e que é malvado por natureza seja torturado ou morto sem qualquer remorso (como atesta a foto sorridente da soldada estadunidense Sabrina Harman ao lado de um prisioneiro morto). Apesar que a tortura de árabes não deveria ser tão chocante assim, afinal a prática era permitida por lei até 1999 no Estado de Israel.
De todo essa merda, eis que parece surgir um mundo mais politizado, pelo menos nas metrópoles. Exemplo disso é a vitória no principal festival de cinema do mundo, o Cannes (festival de cinema entendido como arte e não como indústria, como no caso do Oscar) do filme de Michael Moore sobre o 11 de setembro e seus desdobramentos (com cenas, inclusive, de torturas nas prisões iraquianas), e o filme de Walter Salles sobre a viagem do Che Guevara pela América do Sul, apesar de não ter ganho, ter sido muito aplaudido e considerado um dos favoritos.
As pessoas têm percebido que é preciso mais que as ações conscientes para uma grande mudança no mundo (apesar que sem estas qualquer mudança é impossível), e que devem se interessar pela política institucional, que bem ou mal ainda influencia muito as condições de vida no mundo.
Pena que num país atrasado como o nosso (e não é baixa auto-estima como diz nosso presidente), ainda estejamos longe de qualquer sinal de mudança, seja em relação às ações conscientes, seja em relação à política institucional, mesmo por parte mais ilustrada da população.
Campinas, 24 de maio de 2004
Era percebido antes de Bush assumir um movimento nos países industrializados de questionamento da globalização, principalmente. Com a invasão do Iraque tivemos grandes manifestações de massa em vários países europeus, numa clara demonstração de que os governantes agiam contra o povo que deveriam representar, culminada com os ataques de 11 de março, as marchas contra o terrorismo, e a derrota do partido situacionista na Espanha.
As imagens das torturas nas prisões iraquianas feitas pelos soldados estadunidenses, apesar de não resultar em grandes manifestações como com a invasão, chocaram grande parte dos países do globo. Um dos países menos afetados pelas imagens foram os próprios EUA. Compreensível. O filósofo Peter Singer já alertava que o fato de não se dar um valor igual à todas as vidas (a vida humana vale mais que a dos demais animais), o que autoriza os humanos a realizar experiências desnecessárias com animais, estava a um passo de descambar para o nazismo ou uma ação semelhante. Eu acrescentaria que o valor da vida não está dividida somente entre vida humana e vida não-humana, mas, numa gradação, vai da vida humana de primeiro mundo, não-humana de primeiro mundo, humana de terceiro mundo e não-humana de terceiro mundo. Ou seja, a vida do prisioneiro iraquiano torturado até a morte vale menos que a do cachorrinho do “cute” Bush (o qual não me lembro agora o nome), que possui uma página na internet atualizada diariamente.
Não obstante o fato da vida dos cidadãos de países pobres valerem menos, a indústria cultural estadunidense, desde o fim do comunismo, reforça dia sim, outro também, a imagem dos árabes de destruidores da civilização. Nada mais natural (e justo) que um cidadão que não vale muito e que é malvado por natureza seja torturado ou morto sem qualquer remorso (como atesta a foto sorridente da soldada estadunidense Sabrina Harman ao lado de um prisioneiro morto). Apesar que a tortura de árabes não deveria ser tão chocante assim, afinal a prática era permitida por lei até 1999 no Estado de Israel.
De todo essa merda, eis que parece surgir um mundo mais politizado, pelo menos nas metrópoles. Exemplo disso é a vitória no principal festival de cinema do mundo, o Cannes (festival de cinema entendido como arte e não como indústria, como no caso do Oscar) do filme de Michael Moore sobre o 11 de setembro e seus desdobramentos (com cenas, inclusive, de torturas nas prisões iraquianas), e o filme de Walter Salles sobre a viagem do Che Guevara pela América do Sul, apesar de não ter ganho, ter sido muito aplaudido e considerado um dos favoritos.
As pessoas têm percebido que é preciso mais que as ações conscientes para uma grande mudança no mundo (apesar que sem estas qualquer mudança é impossível), e que devem se interessar pela política institucional, que bem ou mal ainda influencia muito as condições de vida no mundo.
Pena que num país atrasado como o nosso (e não é baixa auto-estima como diz nosso presidente), ainda estejamos longe de qualquer sinal de mudança, seja em relação às ações conscientes, seja em relação à política institucional, mesmo por parte mais ilustrada da população.
Campinas, 24 de maio de 2004