quinta-feira, 19 de junho de 2014

19 de junho: os bons jornalistas brasileiros [Copa 2014 (toques)]

Distante de uma cidade-sede, tenho, em compensação, um televisor por perto. É a chance de assistir aos jogos – a um, que seja – da copa das copas. Como o ônibus atrasa (são as águas de junho fechando o outono nas terras subtropicais), chego para o segundo tempo de Colômbia e Costa do Marfim. Apesar da derrota, Gervinho marca um golaço para a seleção africana. O narrador exalta o gol e fala que Gervinho é fã do futebol brasileiro. Só se for do futebol brasileiro de antigamente, porque fosse o ídolo tupiniquim atual e teria caído no primeiro esbarrão e o gol não teria saído. Próximo jogo do dia: Uruguai e Inglaterra. Na Globo, o narrador oficial do Brasil, o intragável Galvão Bueno, emérito morador do principado Mônaco – bom exemplo do orgulho de ser brasileiro dos novos ricos do país, restrito à seleção de futebol e um que outro esporte da moda. Na Band, a emissora alternativa, o insuportável Neto como comentarista, fala mais que o narrador e quase tanta besteira quanto o Galvão, com o mesmo estilo de quem sabe tudo, a diferença de que parece que está tendo o saco apertado enquanto fala. Prefiro escutar pelo rádio, que chega com dez segundos de atraso, o que irrita meu pai e meu irmão. Não vou arranjar briga por futebol - agüento um tempo a narração televisiva, logo desisto. Na internet, descubro que a nossa Grande Imprensa segue dando mostras de bom jornalismo: os jornais Globo e Folha de São Paulo publicam entrevista exclusiva com Felipão em avião de carreira, feita pelo jornalista Mario Sergio Conti. Um show de ingenuidade do jornalista, erro que estudante não comete – sejamos compreensivos, assim como é coisa de novato a pose de intelectual que ele ostenta em suas fotos. Também novatos são os editores dos dois jornalecões, que tampouco acreditaram nos fatos (o cartão entregue pelo sósia se dizendo sósia de Felipão) e prefeririam a verdade da versão do jornalista. O jogo entre Grécia e Japão foi, comparativamente, um belo espetáculo, perto da qualidade da nossa Grande Imprensa.

Pato Branco, 19 de junho de 2014.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

18 de junho: os culpados por não terem combinado com os russos [Copa 2014 (toques)]

Se depois do primeiro jogo do Brasil seguiu-se um dia normal, visto que a vitória era óbvia e a alegria que muitos traziam no rosto era antes pela confirmação do que já era sabido, esta quarta a coisa mudou de figura: o clima menos leve, todos discutindo o jogo, apontando os culpados pelo empate inaceitável - a incompetência da seleção, a falha do Paulinho, o erro de Oscar. Paulinho? Oscar? Oscar pra mim é um jogador já aposentado, até onde me consta - e de basquete, ainda por cima! Assim como o Julio Cesar, goleiro aposentado até ser convocado pelo Felipão. Ah, sim, outro culpado pelo rompimento da ordem e da justiça futebolística foi o goleiro Ochoa – esqueceram de combinar com os russos, como diria Garrincha. E por falar em Méjico, trombo com um grupo de mejicanos, seu espanhol de curso de línguas - falado sem arrastar o ll até quase virar o ch dos argentinos e sem a língua presa e a bochecha solta dos espanhóis. Pessoas que não estavam discutindo a partida da seleção, finalmente! Perto do Teatro Municipal, um english speaker passa com uma placa “Compro tickets”. Não me soou um método muito eficiente, pela internet eu diria ter mais chances, mas com essa gringaiada toda perdida por Sampa, vai que a dinâmica da cidade não mudou. De qualquer forma ele aproveita para dar um passeio pela cidade nessa tarde que ameaça um toró para breve. Pouco adiante um homem com camisa da seleção da Itália passa me olhando insistentemente, a ponto me incomodar: que raios queria ele para me olhar tanto (e não parecia olhar de cantada)? Demoro um tempo até lembrar que estou a caráter pro clima: não porque uso um agasalho numa tarde fria, mas por ser tal agasalho da seleção italiana. Sempre me pergunto o por quê de ter comprado essa roupa: precisava, estava barata, é bonita, é certo, mas não gosto de dois dos títulos da Itália: oitenta e dois deveria ter ido para o Brasil de Zico, e dois mil e seis pra França de Zidane. Por falar em campeões, a Espanha seria eliminada pouco depois desse meu passeio.

São Paulo, 18 de junho de 2014.