Não sei bem quando me veio a iluminação (até agora) esclarecedora. Acredito que foi ao fim da minha primeira graduação, quando me deparei com a indefectível pergunta sobre o futuro. O diploma era uma desculpa a menos para seguir fora do “mercado de trabalho”. Mas achei um álibi para permanecer mais tempo fora, me preparando.
Me preparando para o que? Para o mercado ou para a vida?
Foi aí que me dei conta de maneira mais nítida da distinção entre envelhecer e amadurecer. E desde então minha briga tem sido em nadar contra a maré e fazer com que à passagem do calendário eu amadureça e não me encaminhe para ser um velho (no sentido pejorativo do termo).
Isso não significa – eu não precisava dizer, mas faço questão de ressaltar – que eu vá tentar esconder as marcas que o tempo traz, pelo contrário: quem acabou de me conhecer já nota os cabelos um tanto ralos, e os de longa data, já me comentaram a marcante alteração nos traços. Inclusive tenho notado que são essas marcas que formam a beleza da idade (e da pessoa que as carrega): uma pele mais lisa é bonita em uma moça de dezoito anos, não em uma mulher de trinta, quarenta anos, ainda mais que da pele lisa pode-se imaginar que ela traz consigo uma razoável falta de maturidade e certa inexperiência – ainda que essa conclusão não seja necessária, ao menos quanto às moças de dezoito anos.
Todo esse preâmbulo porque hoje eu, com um quarto de século nas costas, desde 2000 morando fora da casa dos pais, os cabelos ralos e dois dias de barba por fazer, vou atender a alguém que toca a campainha. É uma mulher que munida de um Ford Fox vende travesseiros. Não me interessei. Mas voltei pensando nos meus amigos: boa parte empregado, muitos já casados ou em vias de, nenhum com filhos ainda – mais por terem “boa cabeça” e camisinhas sempre à mão –, todos já ganhando ou entradas, ou rugas, ou dores, ou peso, ou seus primeiros fios de cabelo branco, ou, como eu, perdendo cabelos. Pensei a quantos costuma ocorrer – ou há a possibilidade de acontecer – de, ao atenderem uma vendedora, escutarem: “chama tua mãe e pergunta se ela quer comprar travesseiro”?
Campinas, 30 de setembro de 2008
Me preparando para o que? Para o mercado ou para a vida?
Foi aí que me dei conta de maneira mais nítida da distinção entre envelhecer e amadurecer. E desde então minha briga tem sido em nadar contra a maré e fazer com que à passagem do calendário eu amadureça e não me encaminhe para ser um velho (no sentido pejorativo do termo).
Isso não significa – eu não precisava dizer, mas faço questão de ressaltar – que eu vá tentar esconder as marcas que o tempo traz, pelo contrário: quem acabou de me conhecer já nota os cabelos um tanto ralos, e os de longa data, já me comentaram a marcante alteração nos traços. Inclusive tenho notado que são essas marcas que formam a beleza da idade (e da pessoa que as carrega): uma pele mais lisa é bonita em uma moça de dezoito anos, não em uma mulher de trinta, quarenta anos, ainda mais que da pele lisa pode-se imaginar que ela traz consigo uma razoável falta de maturidade e certa inexperiência – ainda que essa conclusão não seja necessária, ao menos quanto às moças de dezoito anos.
Todo esse preâmbulo porque hoje eu, com um quarto de século nas costas, desde 2000 morando fora da casa dos pais, os cabelos ralos e dois dias de barba por fazer, vou atender a alguém que toca a campainha. É uma mulher que munida de um Ford Fox vende travesseiros. Não me interessei. Mas voltei pensando nos meus amigos: boa parte empregado, muitos já casados ou em vias de, nenhum com filhos ainda – mais por terem “boa cabeça” e camisinhas sempre à mão –, todos já ganhando ou entradas, ou rugas, ou dores, ou peso, ou seus primeiros fios de cabelo branco, ou, como eu, perdendo cabelos. Pensei a quantos costuma ocorrer – ou há a possibilidade de acontecer – de, ao atenderem uma vendedora, escutarem: “chama tua mãe e pergunta se ela quer comprar travesseiro”?
Campinas, 30 de setembro de 2008
1 comentário:
Engraçado, rs. Mas ela pediu (ou pediria?) pra chamar tua mãe provavelmente porque os seres mais antigos, os de cabelo mais rareado que o nosso, é que mantém o costume de comprar travesseiros na rua, enquanto nós compramos no shopping.
Amadurecer é bom, ser ranzinza não, é uma luta perene... abraços, felipe.
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