Um amigo ontem me perguntou como era meu processo de criação de texto, se havia rascunho à mão antes (óbvio, rascunho depois?), ou ia direto ao computador. contei que costumo ir direto ao pc, até porque não escrevo uma versão preliminar, apenas penso ela, e o texto sai como em enxurrada. Daí a necessidade de um meio com o qual eu possa dar vazão às palavras da forma mais rápida possível. Penso isto agora: segundo dizem por aí, uma das ferramentas características e mais usadas pela geração que, se não aprendeu sob, se desenvolveu com os editores de texto eletrônicos, é o recorta-cola. Não sei se procede tal senso-comum ou se é discurso apologético a la McLuhan ou Wired, sei que por qualquer arcaísmo, por algum cacoete saudosista, não me afeiçoo desse novo hábito que a tecnologia oferece.
Voltando à conversa. Esse amigo passou a defender o abandono do computador no processo de escrita pois, segundo ele, perdia-se muito do contato com seu texto, que estaria em boa medida em ter a caneta entre os dedos e vê-la sangrar pelas páginas de papel, enquanto as folhas usadas se acumulam vivas ao nosso lado.
Na hora discordei dele, principalmente por conta da necessidade de rapidez na escrita. Mas hoje acordei e se ainda não concordo com ele, tampouco concordo com minha opinião de ontem.
Relembrando do livro por meio do qual conheci o escritor israelense Amos Óz, o excelente Conhecer uma mulher, lembrei que a mulher do protagonista insistia em usar caneta-tinteiro, a qual precisava ser reabastecida a cada dez palavras. Fiquei tentando imaginar como deve ser não só o processo de escrita, mas do próprio pensar quando se tem que obrigatoriamente fazer uma pequena pausa de tempo em tempo. Você, no meio de um insight genial, correndo atrás da idéia antes que ela escape e... pausa para mergulhar a pena na tinta. A depender do meu modo de escrever, o texto acaba aí, ou então perde a vitalidade com que vinha correndo. E aqui eu me pergunto: por que rapidez deveria ser sinônimo de vitalidade? De onde vem essa dificuldade em estabelecer um contato mais tranqüilo, menos afoito com as palavras e as idéias?
Não sei. Sei que enquanto punha essas idéias no papel (não escrevo em casa esta crônica) uma idéia que me pareceu muito boa cruzou na minha frente. Passou rápido e eu, lerdo, não consegui segurá-la a tempo.
Campinas, 29 de novembro de 2008
Voltando à conversa. Esse amigo passou a defender o abandono do computador no processo de escrita pois, segundo ele, perdia-se muito do contato com seu texto, que estaria em boa medida em ter a caneta entre os dedos e vê-la sangrar pelas páginas de papel, enquanto as folhas usadas se acumulam vivas ao nosso lado.
Na hora discordei dele, principalmente por conta da necessidade de rapidez na escrita. Mas hoje acordei e se ainda não concordo com ele, tampouco concordo com minha opinião de ontem.
Relembrando do livro por meio do qual conheci o escritor israelense Amos Óz, o excelente Conhecer uma mulher, lembrei que a mulher do protagonista insistia em usar caneta-tinteiro, a qual precisava ser reabastecida a cada dez palavras. Fiquei tentando imaginar como deve ser não só o processo de escrita, mas do próprio pensar quando se tem que obrigatoriamente fazer uma pequena pausa de tempo em tempo. Você, no meio de um insight genial, correndo atrás da idéia antes que ela escape e... pausa para mergulhar a pena na tinta. A depender do meu modo de escrever, o texto acaba aí, ou então perde a vitalidade com que vinha correndo. E aqui eu me pergunto: por que rapidez deveria ser sinônimo de vitalidade? De onde vem essa dificuldade em estabelecer um contato mais tranqüilo, menos afoito com as palavras e as idéias?
Não sei. Sei que enquanto punha essas idéias no papel (não escrevo em casa esta crônica) uma idéia que me pareceu muito boa cruzou na minha frente. Passou rápido e eu, lerdo, não consegui segurá-la a tempo.
Campinas, 29 de novembro de 2008
Sem comentários:
Enviar um comentário