Começo com um exemplo tirado dos livros. Conforme McLuhan, o estribo, introduzido na Europa na Idade Média, foi responsável primeiro por maior firmeza sobre o cavalo e, a partir disso, permitiu em combate um tranco muito maior contra o adversário que não se utilizava da pecinha. Quando ambos a utilizavam, a alternativa era se guarnecer. Surge daí a figura do cavaleiro, cujos altos custos de construção da armadura fizeram com que só a nobreza tivesse condições de se dedicar à arte da cavalaria, e apenas parte o fizesse, o que trouxe conseqüências muitas para o correr dos secúlos subseqüentes.
Enfim, pouco entendo de Idade Média e de cavalos, e antes de me enroscar, melhor vir logo para a cidade e os tempos atuais – ainda que cavalos possam ser vistos pela Av. Paulista, sempre com estribos, eventualmente com símbolos medievais.
Ter um carro não significa apenas se mover com mais rapidez e agilidade pela malha urbana. Significa uma outra relação o tempo: o número e a forma de organizar compromissos é alterado de maneira considerável. Significa ver a cidade de outra forma. De início conheci São Paulo por carro apenas, apresentada por meu tio. Desde 2008 resolvi me perder pelas ruas do seu centro e conhecê-la à pé. De uma cidade feia, hostil e que me assustava, ela se tornou uma cidade habitável e bonita, ainda que siga feia, problemática, caótica, às vezes até hostil – não o suficiente para que agora eu não deseje morar nela.
Enquanto me enrolo para trocar de ares, já que Fuvest não ajuda, amigo meu que também resolveu mudar para a capital avisou que um celular ajuda muito na hora de procurar apartamento. Acreditei nele, não via porque deveria desacreditá-lo: não é dos chatos que ficam tentando me convencer que celular é como se fosse um umbigo pós-moderno. Como sobrava um na casa de meus pais, resolvi trazê-lo, ainda que, sinceramente, não soubesse no que ajudaria – isso ele não explicou, por ser muito óbvio. A utilidade mais plausível que consegui imaginar foi a facilidade de um corretor me encontrar.
Pois semana passada, saindo da Unicamp, vejo um rapaz que pára defronte a kitnets com placa para alugar. Do bolso saca o celular. Agil com os dedos, liga rapidamente para a imobiliária e pede informações. Caramba! Então é assim que o celular ajuda?!
Campinas, 08 de fevereiro de 2011.
(na foto, cavalos e vaquinhas, todos com estribo, na Av. Paulista, no dia mundial sem carro de 2010, sobre o qual faço alguns comentários no texto "Dia da piada do dia sem carro", que vem sem esta ilustrativa foto, por eu não ter máquina digital e demorar para revelar os filmes).
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