Quando
li a notícia de que uma questão de matemática da Fuvest 2012
deveria ser anulada, comemorei: um ponto mais!,
já que a havia chutado errado. E a vida continuaria, eu pensando que
precisava começar a estudar pro vestibular, enquanto tentava
agilizar o fim do meu mestrado, e organizar a próxima Casuística,
não fosse o e-mail do professor da UFPA, João Batista do Nascimento
– que tem se dedicado a organizar dossiês com falhas do gênero,
sendo que só o do Enem tem 350 páginas –, me alertando para as
implicações do “erro monstruoso” em um vestibular em que se tem
três minutos para resolver cada questão.
Tendo
me dado conta do quão prejudicial aos vestibulandos é uma questão
mal-formulada, resolvi dar uma olhada mais atenta à cobertura do
problema, e compará-lo com a do Enem: não houve editorial ou
“formador de opinião” condenando a USP ou a Fuvest, reitor,
governador.
Tampouco
houve repórter indo fazer a prova para ver as falhas de segurança
da Fuvest, que são as mesmas do Enem – como pude conferir in
loco. Muito menos a ação articulada da Grande Imprensa para a
produção de factóides, como em 2010 [j.mp/cG14nv10] e em 2011,
tentando criar a impressão de que falha sistemática de segurança e
de organização – logo, de gerência e de credibilidade.
Questão
anulada, falhas de segurança, problemas na identificação no nome
dos alunos: estamos falando do Enem, seis milhões de candidatos; ou
do vestibular para a mais rica e importante universidade do país,
150 mil candidatos, R$ 120 de inscrição?
A
diferença de tratamento pela Grande Imprensa é tão evidente quanto
o erro da questão anulada matemática para quem é da área: o
grande problema do Enem é o fato do PT ser governo – bem avaliado,
para piorar a situação –, com o agravante de Fernando Haddad ser
pré-candidato à prefeitura de São Paulo, num processo de renovação
de quadros do lulo-petismo que já culminou com a eleição da atual
presidenta, e que não encontra similar na oposição, em que os
novos nomes tem os velhos sobrenomes – num país cuja
modernização-conservadora da política dos últimos oito anos
conseguiu, ao menos, diminuir a importância da sucessão hereditária
nos currais eleitorais: Magalhães, Maias, Richas, Neves...
Modernização-conservadora
que na educação estagnou a principal tendência fernandista, de
sucateamento da universidade pública e extinção do ensino superior
gratuito – o tal “financiamento por aluno e não por instituição”
que Paulo Renato já havia vaticinado. É certo que o PT conseguiu
isso com afagos às fábricas de diplomas, mas o resultado foi,
conforme a Grande Imprensa, “o inchaço da máquina pública” –
e não alocação mal feita de recursos –, com contratações de
professores doutores e funcionários – tudo por querer dar às
universidade federais padrões semelhantes aos dos países de
primeiro mundo, vejam a petulância do ex-presidente analfabeto.
O
maior problema, contudo, é que este imbróglios com Enem e Fuvest
apenas ocultam os verdadeiros problemas da educação brasileira: a
estruturação de todo o sistema, a inadequação não apenas dos
currículos, mas do próprio papel da escola para a sociedade
contemporânea, a completa falta de prioridade na discussão séria
sobre educação e cultura no país, pensadas simplesmente a partir
dos seus rendimentos em testes ou na desova de mão-de-obra
qualificada (qualificada para o que?, para quem?).
Campinas,
08 de dezembro de 2011.
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