Renato
Janine Ribeiro comentou em seu artigo no jornal Valor, de segunda
(“Apurar até depois do fim”); Vladmir Safatle, no seu espaço na
Folha de São Paulo, terça (“O inimigo da moral”); Maria Inês
Nassif, na sua coluna do dia 22, quinta, no portal de notícias Carta
Maior (“2011, o ano em que a mídia demitiu ministros. 2012, o ano
da Privataria.”). Os três criticam a parcialidade da Grande
Imprensa diante da corrupção no Brasil, e como essa parcialidade, a
despeito da impressão de combate à corrupção, não altera em
absolutamente nada o panorama, simplesmente porque a corrupção por
ela denunciada é um subterfúgio para fazer proselitismo partidário disfarçado.
Maria
Inês Nassif, em artigo na revista Interesse Nacional número 11, de
outubro de 2010, comentava o fato da chamada direita (PSDB-DEM),
carente de base social, ter a Grande Imprensa – ou mídia
tradicional, como ela prefere – como tal base, encabeçando os
ataques ao governo Lula. Já no governo Dilma, diante do
esfacelamento da oposição com o surgimento do PSD, à imprensa
coube todo o papel de oposição ao PT: ela assume, então,
claramente, ainda que de maneira não admitida, o papel de veículo
partidário.
A
tática utilizada no correr de todo o ano para tentar desestabilizar
o governo Dilma, um governo que teoricamente começou fraco – pela
primeira vez o presidente era mais fraco que seu partido, como a
própria Nassif assinalara quando Dilma ainda era uma possibilidade
de candidata –, tratou de utilizar o que Renato Janine Ribeiro
chamou de “tática de artilharia”: mirar um ministro por vez para
derrubá-lo. O efeito, contudo, foi contrário ao esperado: Dilma
conseguiu passar a imagem de intransigente com os corruptos, além de
ter conseguido se tornar credora dos partidos da base aliada – como
assinalou Nassif. Isso até o ministro-alvo ser Fernando Pimental, o
primeiro da cota de Dilma.
A
princípio esse denuncismo parece benéfico, preocupado em combater a
corrupção. A forma de agir, contudo, soltando denúncias a
conta-gotas e sempre direcionado – exceção a Haddad, que sempre
merece uma lembrança, por não ter sido pego em caso algum de
corrupção e pôr medo na oposição de perder a principal cidade do
país –, é o primeiro sinal de que o interesse é outro.
Como
em política, no Brasil, o suspeito é culpado até que se prove o
contrário, uma campanha orquestrada pelos grandes veículos de massa
tem um poder considerável. Entretanto, uma vez derrubado o alvo,
logo a Grande Imprensa se volta para o próximo da lista, como se o
caso estivesse encerrado: não tem qualquer preocupação em seguir
com a apuração e confirmar se as denúncias são, de fato,
procedentes, para, em caso afirmativo, mostrar quais os caminhos da
corrupção – obra do sistema e não de um pessoa individualmente
–, ou, em caso negativo, em fazer um mea culpa
pela reputação manchada.
Mas
não é apenas de leviandade: como comentou Safatle, não há sequer
simetria na apuração dos casos de corrupção: a Grande Imprensa é
extremamente seletiva no que fala, no que cala, no quanto e quando
fala. Ele lembra que o esquema do mensalão, que ficou grudado ao PT,
teve início no governo PSDB.
O
assunto do momento é o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., A
privataria tucana, que, conforme
Nassif, faz “denúncia fundamentada e grave” sobre o processo de
privatização durante o governo tucano – cujo projeto político,
junto com a redução do Estado, típico do receituário neoliberal,
era de criar uma burguesia moderna, “escolhida a dedo por uma elite
iluminada, e tecida especialmente para redimir o país da velha
oligarquia, mas em aliança com ela própria”. A tentativa de
ignorar o livro, num primeiro momento, a campanha de desqualificação
do autor, depois, mostram que não se trata de uma obra desprezível
– sem contar que acabaram por fazer propaganda ao livro, já
esgotado.
O
risco de um CPI a partir daquilo que o livro constrange a Grande
Imprensa a moderar no seu apetite contra o governo Dilma: afinal, seu
grande aliado nas últimas cinco eleições presidenciais, o PSDB,
está no alvo, afora o fato de nunca se sabe aonde termina uma CPI –
nem nós sabemos até onde se estende o quarto poder.
A conclusão dos três colunistas é basicamente a mesma: para
combater a corrupção estrutural do Brasil, não adianta fazer
denúncias para derrubar ministros, ou encarar toda denúncia como
disputa partidária: é preciso levar as investigações adiante, em
busca do que esquema que move, e não das pessoas que se aproveitam
dele – e fazê-lo sem coloração partidária necessária.
Pato Branco, 24 de dezembro de 2011.
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