Cheiro
de fumaça invade a sala - é a pizzaria do lado acendendo o forno.
Pouco depois, o cheiro de fumaça vem misturado ao da carne - é a do
espetinho do outro lado. No bar em frente, homens ouvem música e
bebem cerveja em mesas na calçada. Duas delas estão vazias até que numa senta-se um
homem, na outra, eu, outro rapaz e uma mulher. O homem e a mulher
flertam, na mesa onde estou o importante é parecer estar se
divertindo. O homem, sozinho, logo ganha a companhia da mulher. Eles
conversam, a intimidade chega rápido, não tarda estão trocando
carícias. Atravessam a rua para um "happy end". Tão
rápido quanto se aproximaram, se afastam: ela grita, manda ele
embora. Ele tenta argumentar, entender; ela bate a porta. Ele fica
parado no meio da rua. As pessoas do bar assistem à cena. Também as do espetinho.
Da oficina mecânica e os transeuntes também - e as da pizzaria
provavelmente, mas estou de costas para ela. Ela surge na sacada do primeiro
andar e manda uma vez mais ele ir embora, ou vai chamar a polícia.
Mesmo sem entender, ele se dá por convencido e aceita partir. Entra
pela mesma porta que a mulher. Eu e meu colega de mesa também
rumamos para a porta. Antes de entrar, porém, somos cercados por
cinco garotos que presenciaram o barraco. Nos perguntam ansiosos se
"está tendo teatro". Não é na primeira negativa que
aceitam a resposta. Somos obrigados a explicar: é apenas ensaio,
investigação de uma cena. "Mas não vai ter mais",
insistem. Não hoje. Mas prometemos avisá-los quando da estréia.
25
de março de 2015
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