Michel Temer. A
imprensa chama Temer de "presidente interino" ou
"presidente em exercício", forma de dar a impressão de
legalidade ao golpe de Estado que ele encabeça. Eu prefiro não usar
eufemismos nesse caso, e chamo logo de "presidente golpista"
ou "presidente em exercício do golpe de Estado". Enfim,
Temer, nosso presidente
golpista, parece ser mesmo a pessoa certa pro momento, um político
síntese dos golpistas: eleitoralmente fraco, sem apelo popular mas
com apelo junto aos donos da grana e da Grande Imprensa,
politicamente forte; apreço zero pela democracia e tudo o que ela
representa (povo, pobres, direitos humanos, liberdade, cultura) e dez
pelo poder.
Nas
últimas eleições que disputou, para deputado federal, em 2006,
Temer foi o último dos políticos eleitos pelo PMDB, com cem mil
votos. Isso, a princípio, não quer dizer muito: em geral políticos
que encampam bandeiras de minorias - como direito dos negros, das
mulheres, dos homossexuais, dos quilombolas, dos sem-terra, dos
sem-teto, dos que perderam parentes assassinados pela polícia
militar, etc - não conseguem votações expressivas, como artistas
de tevê, jogadores e cartolas de futebol, ou políticos apoiados por
igrejas evangélicas ou coronéis rurais dos sertões brasileiros, e
chegam à câmara pelo quociente eleitoral. Ocorre que Temer não
encampa qualquer bandeira de minoria. Minto: encampa a bandeira do 1%
mais rico, aquele que controla as finanças e o país - o que ele não
admite publicamente, claro, diz que age em prol dos "interesses
da nação". Temer pode não ter qualquer base social, penar
para ganhar eleição, mas sabe se mover no ambiente político, onde
tem força desde os anos FHC: em 1997 chantageou o então presidente:
ou era eleito presidente do congresso ou não haveria aprovação da
emenda da reeleição, que tanto interessava a FHC. Nos anos Lula, se
tornou importante aliado do PT - as chantagens, no caso, não foram
públicas -, a ponto de ser alçado a vice na chapa com Dilma
Rousseff.
Depois
de ter conspirado contra a presidenta, fazendo ser aprovado um
impeachment que ele mesmo dizia que não havia qualquer base;
rejeitado pela maioria da população em pesquisas de opinião, com
1% de intenções de voto em simulações de eleições, Temer
assumiu o poder prometendo união e salvação nacional. Não
explicou que nação ele quer unir e salvar: seu slogan de governo
usa a bandeira da época dos militares e o site WikiLeaks divulgou
documentos secretos dos EUA que dizem que o presidente golpista foi
informante dos EUA. Extinguiu o principal órgão de combate à
corrupção, a Controladoria Geral da União, e aprovou uma lei que
proíbe qualquer manifestação onde ele esteja ou "possa ir",
sob justificativa e "segurança nacional" (ou seja,
qualquer manifestação pode ser enquadrada como perigosa à
segurança nacional, ajudada pela lei anti-terrorismo sancionada por
Dilma). Foi além: montou um ministério que fica "ombro a
hombre" com qualquer gabinete conservador do segundo reinado:
homens, brancos, proprietários, heterossexuais (mas, para provar que
não são escravocratas, apenas racistas, demitiu o garçom negro que
trabalhava para a presidência da República); nenhuma mulher, nenhum
negro, nenhum mulato ou pardo, nenhum gay: chamaram isso de
"meritocracia" (imagine o bafafá se Dilma tivesse montado
um governo só de mulheres, ou só de negros, ou só de homossexuais,
ou, pior, só de mulheres negras e homossexuais: nunca admitiram que
era um ministério baseado no mérito, ainda que fosse tanto quanto o
de Temer). No seu ministério "de notáveis", segundo ele,
nove são investigados por algum crime de corrupção; seu ministro
mais forte, Romero Jucá (PMDB), não durou dez dias e caiu depois de
divulgado áudio em que ele articulava, em março, o impeachment de
Dilma para estancar as investigações Lava Jato (ó!, que novidade);
o Ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), é outro
informante dos EUA, conforme papéis dos Estados Unidos divulgados
pelo WikiLeaks; o da saúde, Ricardo Barros (PP) defende o fim da
saúde universal e o fim do controle dos planos de saúde; o da
educação e cultura, agora só educação, Mendonça Barros (DEM),
foi contra Fies, Prouni, cotas e grande parte das propostas que
ajudaram a incluir milhares de jovens no ensino superior brasileiro;
o ministro da justiça e dos direitos humanos, Alexandre de Moraes
(PSDB) conseguiu na justiça, quando secretário de Geraldo Alckmin,
o direito da polícia militar usar armas letais (isso, pode ir armado
de pistolas que criminosos usam pra matar) contra estudantes que
protestavam contra o governador; o de desenvolvimento social e
agrário, Osmar Terra (PMDB), já falou em cortar o Bolsa-Família; o
das cidades, Bruno Araújo (PSDB), já suspendeu 11 mil casas do
Minha Casa Minha Vida; e do da economia, Henrique Meirelles (ex-PSDB
e egresso do sistema bancário), vimos "medidas necessárias",
segundo os especialistas: corte de verbas para programas sociais e
aumento de recursos para pagar os especuladores e os bancos (aqueles,
que nunca se corrompem, apesar de toda o dinheiro de corrupção
passar pelo sistema bancário, o suíço, que seja). E isso que só
foram 15 dias de governo!
29 de maio de 2016
PS: este texto é parte do artigo "Breve apresentação de
personagens para a compreensão do golpe de Estado no Brasil em 2016.", a ser publicado no Boletim SPM Informa, do Serviço Pastoral dos Migrantes, de junho de 2016 (www.casuistica.net/spminforma)
O presidente com o apoio "de todos os brasileiros" sai assim de casa |
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