sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Fim de tarde na sala da casa de Pato Branco


Na sala, a tevê muda - esperando o jornal começar para ver as manchetes. Mãe borda no sofá, pai, na cadeira, lê uma revista - deve ser a Carta Capital -, com a perna direita cruzada sobre a esquerda. Chuvisca lá fora. Pai larga revista, esfrega os dedos nas palmas das mãos.

Vai seguir chovendo, olha como está lisa minha mão - e mostra à minha mãe.

É verão, por isso a claridade ainda é grande, mesmo já tendo passado das sete. Chove, mas um sol tímido se apresenta pela casa. A temperatura está amena. Meu pai se levanta.

Deja, você podia aproveitar e me trazer uma cuia.

É para já - ele responde e se encaminha para a cozinha. Logo dá para ouvir o barulho da chaleira sendo aberta, a seguir do forno do fogão, onde foi pegar um pedaço de salame.

Essa não é uma lembrança, isso não aconteceu. Quer dizer, não até cinco minutos atrás. Hesito em chamar de imaginação ou sensação essa nova vivência que me veio ao tomar este chimarrão já lavado e encilhado, neste início de noite chuvoso. Pego a prancheta, coloco Mogwai, What are they doing in heaven today, que muito ouvi lembrando da Misson, e construo esta nova lembrança de um dia banal de meus pais.


12 de janeiro de 2024

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