segunda-feira, 2 de junho de 2025

Imprensa: a quinta-coluna do projeto autoritário da direita

De um lado, os grandes veículos de imprensa dizem defender a democracia. De outro, abrem espaço para os Bolsonaro darem sua distorção dos fatos - mesmo quando é inconteste a participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro - e fazerem política, mantendo sua relevância no cenário político nacional. Por outro lado, ainda, dia sim, outro também, apresentam Tarcísio como alguém de uma direita moderada, mesmo sabendo quem ele é - assim como sabiam quem era Bolsonaro, sendo a conversa de “uma escolha muito difícil” apenas um subterfúgio para não assumirem logo que a democracia é um detalhe irrelevante para os donos dos poderes.


O paradoxo da tolerância, de Karl Popper, é conhecido dessa imprensa, e não tem como dar a ela o benefício da dúvida, de que não saberia que tolerar (e dar voz) aos intolerantes põe em risco a própria tolerância que é um dos pilares de uma sociedade democrática e liberal.

O que essa imprensa também sabe é o modus operandi da nova extrema-direita, seja pelo que vivenciou durante a presidência de Bolsonaro, seja com o que acompanha nos EUA, com Trump: sem nenhum princípio republicano, persegue quem não se submete a seus desígnios e os adula: a única imprensa que eles aceitam é a que dá a versão oficial dos fatos. Investigação? Só se for dos adversários do governante, convertidos em inimigos.

O que a grande imprensa tem feito, portanto, é investimento futuro, sem riscos de perdas: sabendo do republicanismo de Lula e do PT (republicanismo de almanaque, de tão distante das lutas políticas que atravessam o país, diga-se de passagem), fustiga o governo sem dó nem ética, distorcendo dados e notícias favoráveis e criando factóides para desgastar o governo. Fazem-no porque tem a tranquilidade de que publicidade oficial continuará caindo na conta, apesar de fazerem mau jornalismo (se é que o que fazem é jornalismo). 

Se Lula ganhar em 2026, não tem problema, a vida segue normal, sem reação do Planalto. Se a extrema-direita ganhar, tem o cartão de visitas a apresentar ao próximo presidente: foram uma quinta-coluna no enfraquecimento da democracia e podem continuar sendo agraciados com verbas publicitárias governamentais. Isso para não falar no agrado que fazem aos donos do capital que vandaliza o país, visto que a plataforma da nova direita para países periféricos é o capitalismo de butim - vide as privatizações da era Temer/Bolsonaro, como da Petrobrás, e agora a privatização da Sabesp por Tarcísio -, sem nenhuma preocupação com desenvolvimento econômico ou social.

Há quem questione se apoiar um projeto autoritário, ainda que com verniz democrático, não seria um tiro no pé da imprensa. De modo algum! Quem sucumbiria não seria a imprensa e sim o jornalismo. As empresas seguiriam lucrando - e colaborando com a repressão -, como foi durante a ditadura militar-empresarial de 64-85.

Quem precisa estudar um pouco mais sobre o paradoxo da intolerância é o PT e o governo.


02 de junho de 2025


quarta-feira, 21 de maio de 2025

Acho que recebi um elogio [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Acho que recebi um elogio, não sei bem.

Macedo está de férias, tem feito falta. Não apenas por saber tudo do trabalho, como por ser um bom ouvinte - ainda que involuntário. Na falta dele, os colegas tagarelas que o cercam vão atrás de novas vítimas, digo, novos interlocutores. 

Hoje fui cercado pelos indivíduos que sentam à frente e à esquerda de Macedo, Mello, o colega que oferece chocolate e depois cobra um preço por isso (escutá-lo se repetir e se repetir e se repetir várias e várias e várias vezes por dia) e Pacheco, respectivamente. Costumo estar sempre de fones de ouvido, justo para tentar evitar certos tipos de interpelação, digo, de interação, e hoje cometi a séria falha de, após responder a uma questão de trabalho, não subi-los imediatamente. Foi a deixa. Já que estavam falando de música, julgaram que nada melhor que chamar o colega sempre com fones para a conversa.

Papo vai, papo vem, eu não conseguia achar uma sobra de respiro para voltar ao trabalho - por mais que estivesse enfadonho. E lá iam eles falando sobre punk, pós-punk, new wave, skate rock, e eu só ouvindo. Se me perguntassem, capaz de eu dizer que gostava apenas de Chico, Vandré, Gil, Caetano, Arrigo, só para conseguir fugir da conversa - e quem disse que me perguntaram?

A certa altura, com uma meia hora de parlatório, entraram no assunto Iggy Pop - ambos muito fãs. O colega do chocolate-com-papo (que aceitei desta feita, porque o papo já tinha chegado, ao menos pude aproveitar o chocolate) contou que foi no show de 2009 e fora muito bom.

Eu bem queria ter ido, mas era menor de idade na época - respondeu Pacheco.


Foi quando ao menos consegui participar da conversa.

Fui em 2005 e foi muito louco! Ele pulou no meio da galera, depois chamou para subirem no palco, pegaram o microfone dele para cantar I wanna be your dog, e os seguranças totalmente perdidos.

Que idade você tinha para conseguir entrar no show em 2005? - perguntou, incrédula, Pacheco

Contei minha idade, e ela se mostrou estarrecida:

Julguei que tivesse a minha idade, entrando nos trinta.

Não, já passei dos quarenta.

Nossa, então você até que está conservado!

Fiquei tentando entender o porquê de ter me subtraído mais de dez anos. Seriam minhas roupas sem passar? Meu corte de cabelo diferentex? Não sei, e não tenho Macedo aqui para perguntar. Mas nas entrelinhas foi possível ler: se para quarenta eu estava “até conservado” (feito um picles?), para o trinta que ela (e quantos mais no setor?) achava que eu tinha, devo estar só o pó da rabiola. Não tiro a razão. 


21 de maio de 2025

 

Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas