Foi
na segunda vez que nos encontramos. Depois de jantar em um árabe na
chamada cracolândia – indicação minha –, havíamos ido
assistir a uma apresentação de dança – ela já havia feito dança
contemporânea, até se apresentara, uns dois anos atrás; eu, um
mero espectador ávido, talvez tímido demais para me arriscar nas
artes do corpo. Passávamos pelo Anhangabaú, em direção à rua
Augusta, quando ela titubeou uma pergunta, se perdendo nos termos. “O
que você se imagina fazendo?”, “quando?”, “ah, mais pra
frente”, “mais pra frente... quando eu crescer?”. Ela riu: duas
pessoas com mais de trinta anos se perguntando o que querem ser
quando crescer. “Não sei, e não penso muito sobre isso”,
respondi, “e você?”. Ela também não sabia, só sabia que não
queria seguir para sempre no mesmo emprego (é engenheira, trabalha
na área), por mais que não pudesse se queixar de salário ou
condições de trabalho. Me perguntei se seríamos os retardatários
ou a vanguarda, ao ainda nos pormos esse tipo de questão de modo tão
leve. A conversa prosseguiu por assuntos vários, enquanto
caminhávamos em um presente prenhe de futuros, por mais que o mundo
tente nos desautorizar de experimentar nossos sonhos e viver nossas
angústias.
São Paulo, 14 de agosto de 2013.
1 comentário:
Um sentimento que ganhou forma com as palavras.. e o blog secreto da Patricia??
alice
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