Nunca fomos amigos. Fomos colegas
alguns anos - não sei precisar quantos. Lembro que por um período
não simpatizava com ela, creio antes por brigas entre grupos -
fundão contra frentão e vice-versa - do que algo pessoal. Não
consigo lembrar quem era do frentão quem era do fundão - porque eu
por vários anos fui do fundão, um fundão heterodoxo, que exigia
silêncio e tiravas notas boas, mas fundão. Além das antipatias de
grupos, achava ela uma guria sem graça fisicamente, mirradinha.
Mudei minha opinião ao reencontrá-la, anos depois, quando já não
morava em Pato Branco: tinha uns olhos, um olhar muito bonito. Um
amigo se surpreendeu que eu nunca tivesse reparado - acho que se
embelezou com a idade, foi isso, eis o que respondi. Até ontem, a
última notícia que havia tido dela era uma matéria do jornal da
cidade, que meus pais guardaram para que eu visse. Falava de Joana
despontando como artista, escritora e agitadora cultural em Curitiba.
Fiquei contente por ver alguém saído daquela cidadezinha de
pequenez classe-média fugindo dos caminhos certos e seguros,
tentando agitar uma cidade também classe-média, mas com mais gente.
Anotei o blogue ou site que havia na reportagem, planejava visitá-lo
e, quem sabe, chamá-la para participar da Casuística, a revista de
artes antiartes e heterodoxias que eu agitava. Não entrei em blogue
algum nem fiz qualquer convite. A revista acabou (há promessa de uma
última edição, a de 2013), desvitalizada com a perda da co-editora
e minha melhor amiga (também uma agitadora cultural), a Patrícia
Misson, vítima de um ataque cardíaco, aos vinte e oito anos.
Descobri ontem que, ainda que a Casuística retorne qualquer dia, não
haverá convite algum para Joana: como Misson, ela morreu jovem, quando ainda dava seus primeiros passos (nem por isso pequenos e descartáveis) e ensaiava grandes realizações futuras: parada cardíaca aos trinta e um.
São Paulo, 19 de março de 2014.
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