Jair
Messias Bolsonaro (PSC), por muitos chamado de "Bolsomito",
que eu acho mais coerente chamá-lo de "Bolsomico", é o
nome da vez de uma certa direita ultra-conservadora brasileira, com
destaque no campo dos costumes. Esse grupo busca um nome que o
represente desde que ficou clara a derrota da aliança
liberal-conservadora encabeçada pelo príncipe dos sociólogos - que
trouxe junto a decadência de Bornhausen, Magalhães, Maluf e
coronéis old-fashion afins -, junto com a ascensão política evangélica. O candidato da situação em 2002 se dizia
nacional-desenvolvimentista e tinha histórico de esquerda (alguns
incautos e ingênuos até acreditaram nessas pendências à esquerda,
este escriba entre eles, o que não quer dizer qualquer apoio ao
nefasto político), o que desagradou esse eleitorado. Nessa mesma
eleição, Garotinho era o principal nome do grupo (lembro do
professor Marcos Nobre, em palestra na Unicamp, dizendo que ele era o
nome mais perigoso da disputa presidencial), e o sobrinho do chefe,
bispo Marcelo Crivella, despontava como nome para o futuro (Veja
comemorava a vitória do bispo da Igreja Universal sobre seu
arqui-inimigo Leonel Brizola).
Uma
breve pausa na voracidade política evangélica veio com o chamado
Mensalão do PT e a candidatura do bom homem de Deus e das execuções
extra-judiciais legitimadas, Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Derrotado o
"Santo", a força desse conservadorismo - que está próximo
do movimento evangélico, mas de forma alguma se restringe a ele -
cresceu sem parar, se organizando de modo cada vez mais autônomo dos
partidos políticos centrais, até ser levado ao protagonismo, em
2010, por José Serra, que trouxe a pauta dos costumes e os pastores
evangélicos mais obscurantistas para o centro do debate
presidencial, ofuscando a representante oficial do grupo, Marina
Silva (então no PV, hoje na Rede).
Desde
2010, revezam-se no congresso, nas emissoras de tevê e nas redes
sociais nomes que tentam capitanear essa espécie de tea party
tupiniquim. O senado, curiosamente, não consegue dar a mesma
visibilidade que a câmara a esse tipo de político, enquanto Marina
Silva tem o pecado original de ter sido do PT (o mesmo pecado de
Marta Suplicy, a ser testado em outubro). O que sucedeu foi Garotinho
e sua "pepita de 20 milhões" contra o kit anti-homofobia,
Marco Feliciano, o homem da chapinha nos direitos humanos; Eduardo
"Capone" Cunha e agora, finalmente, Jair Messias
"Bolsomico".
Em
sondagens para a presidência da nossa Republiqueta Bananeira do
Brasil, Bolsomico desponta com cerca de 10% das intenções de voto.
Jean Wyllys acredita que o carioca pode chegar a 15% quando mais
conhecido (por sinal, o que é aquele deputado júnior por São Paulo
votando em nome do "povo naxx ruaxx com o exxpirito doxx
revolucionárioxx de trinta e doixx?"). Seu principal trunfo é
atender aos anseios evangélicos - está até no partido mais ligado
a eles - sendo católico. Também agrada às viúvas da ditadura, e a
parcela mais ignara da classe-média, média-alta (na qual se inclui
muitos mestres e doutores).
Seu
discurso anti-minorias, contudo, faz com que tenha teto baixo. Uma
coisa é falar mal de minorias na França ou nos Estados, onde
gauleses e WASP são numericamente superiores e historicamente
reivindicam supremacia sobre a emergência do Estado-Nação. Outra é
essa fala num país periférico, tributário da colonização,
pornograficamente desigual, e que tem conhecido um empoderamento das
minorias - não condizente com a mesma asensão social das classes
marginalizadas, infelizmente.
Não
ter chances de ganhar a eleição não o faz um mero candidato
folclórico, como Enéias, em alguma medida foi: além de poder puxar
o debate ainda mais para a direita, seu discurso claramente estimula
o ódio, a violência e a intolerância contra minorias, e contra
todos que não compartilhem das idéias do fascio - Alckmin e
Aécio que o digam, expulsos pelos milicianos do Paulo Skaf da
própria manifestação. O neofascimo é uma ideologia anti-política
que ganha adeptos em todo o mundo, mas tem suas peculiaridades nestes
Tristes Trópicos. Por mais que não seja apenas o nome da vez, não
há tanto a Temer Bolsomico: há figuras piores despontando no
cenário nacional.
30
de abril de 2016.
E o pior é que um bigodinho orna. |
Sem comentários:
Enviar um comentário