segunda-feira, 25 de março de 2019

Não que eu seja acumulador...

Não que eu seja acumulador - muito. Nem tenho como sê-lo, uma vez que moro em um apartamento pequeno, com dois gatos, onde não cabe quase (mais) nada além do que já tenho: quilos e quilos de papel (distribuídos em livros, fotocópias, programas de teatro e orquestra, recortes diversos, acrescidos de três caixas de livros iguais, no caso, os meus, ainda esperando por seus futuros compradores - tem promoção para combo!), uns materiais de pintura e desenho, equipamentos de marcenaria e iluminação, uns tocos de madeira do curso de marcenaria que ainda pretendo um dia usar, e outras coisas menores, como esteira para yoga, espada de tai chi e didgeridoo de pvc (para não falar nas caixas de papelão, utilizadas pelos gatos, que se multiplicam pelos parcos espaços livres da casa). Mas não sou acumulador!
E não sou mesmo. O grande ponto é que fui educado num clima de economia de guerra - fruto da infância de privações que forjaram meus pais - e numa casa com um enorme porão, apto para acolher e acumular todo tipo de cacarecos - desde minha coleção de pedras da infância (há muito expurgada) à minha coleção de latinhas da adolescência (ainda lá, em companhia de cadernos da pré-escola e enfeites de Natal da década de 1980 e 1990).
Nessa "educação para a economia de guerra" (claro, economia de guerra para a população que sofre com ela, não para os industriais e generais que enchem as burras com as desgraças do povo), adquiri um hábito, ou melhor, dois hábitos anticonsumistas: o primeiro, de não comprar por impulso - afinal, não se sabe o dia de amanhã e esse dinheiro pode fazer diferença -; o segundo, de não descartar o que pode ser reaproveitado por impulso - afinal, não se sabe o dia de amanhã e esse treco pode fazer diferença e não ter dinheiro ou não ter onde comprá-lo. 
Numa casa com porão enorme e quando se é criança, isso é ótimo! Construí diversas cidades com madeiras que sobraram da construção da casa, montei naves espaciais com latas e caixas, e até preparei um presépio de natal com homenzinhos (não sei como se chama hoje os "bonecos para meninos", porque boneca era para menina (assim como a She-Ra), ainda que eu tenha tido uma ou duas) e sucatas, tudo pintado com guache - que minha mãe impediu de pôr na sala e eu me revoltei, já que não teria visibilidade para minha arte. 
Quando se é adulto e num apartamento de 40 m² (mal distribuído, ainda por cima)...
Porque vontade de guardar sucata não me falta, ainda mais quando se tem um enteado com oito anos - por mais que ele, a princípio, seja dos eletrônico (apesar que as arminhas que fizemos com rolos de papel higiênico e a faca que fiz com madeira, usou até quebrar). Foi com dor que me desfiz de meu ventilador quebrado, quando Natália avisou que não permitira eu levá-lo para sua casa - eu já planejava uma super nave espacial. Mas o curioso desse hábito é que ele começa a se espalhar para além de sucatas. Nem eu percebo. É comentário de alguém que me faz ver que é... talvez eu esteja exagerando. Como aquele tubo de pasta de dente ou creme de barbear, que você nota que ainda tem um restículo, mas já cansou de espremer, ao invés de jogar fora, guardo para qualquer emergência - vai saber, vai que um dia termina a pasta de dente e eu fico sem. Como se eu não fosse classe média remediada e morasse a quatro quadras de um supermercado 24 horas... foi preciso meu irmão jogar sem dó no lixo para eu ver que podia ter feito. Ou, pior, dia desses ofereci castanha do Pará a um amigo, e ao comermos, perceptível que já havia passado. Pus de volta no armário, ao que ele me questionou: se está ruim, está guardando por que? A resposta estava na ponta da língua: vai que não precise alguma hora... só não fez sentido.
Uma coisa que jogo fora quando vence, isso sem dó, é remédio. Este fim de semana, invejando meu gato e seu omeprazol diário (meu estresse com seu quiproquó se faz sentir no meu estômago) fui atrás de um para mim. Achei uma caixa vazia, vencida em 2017. Resolvi ver se não teria mais remédios vencidos. Quase todos. Havia também um protetor labial, que há um bom tempo não lembro de usar. Fui ver se já não estaria vencido: agosto de 2002. Fiz as contas: no mínimo, esse protetor labial me acompanhou em cinco casas, três cidades! Isso se não levei ele de Pato Branco, na primeira mudança! É quase tão velha quanto algumas das roupas que ainda uso (a mais antiga que ainda me veste seguidamente é de 1995 ou 1996, não tenho certeza)! Bateu aquela nostalgia, lembrar tudo o que passei acompanhado desse protetor labial tão pouco usado e que eu nem lembrava que existia. Até pensei se não caberia a pergunta se não deveria guardá-lo - talvez doar para um museu, vender como protetor labial "vintage" ou "retrô" em algum site? Comentei do achado com Natália e com minha mãe. Talvez tenham combinado pelas minhas costas, mas deram a mesma resposta: joga fora!!!

25 de março de 2019


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