Há um meme na internet que põe três variáveis para os serviços, nos quais só se pode escolher dois: ser rápido, ser barato e ser bom. Se é rápido e barato, não é bom; se é rápido e bom, não é barato; se é barato e bom, não é rápido.
O meme é engraçado e quase realista, ainda que às vezes ele se equivoque: dá para algo ser lento, caro e ruim. Parece que as reformas da prefeitura nas calçadas do centro de São Paulo seguem essa conjunção de tudo do pior.
Ainda que, penso agora, a questão de rápido ou lento não seja exatamente um ponto: o importante é que as obras fiquem prontas na antessala da eleição, para o prefeito mostrar que fez algo, mesmo que tenha sido uma obra inútil e que serviu para fechar ainda mais lojas de um centro cujo comércio já estava devastado pela pandemia.
Mas os reflexos para os prédios da região também não foram menos desastrosos - ao menos no edifício onde trabalho. Comentei alhures da vez que a filha de uma funcionária meteu um “banheiro interditado” que obedecemos fielmente por uma semana, até descobrirmos que nunca esteve; também falei das marcas de animais na porta da cabine, provavelmente de algum mamífero que sobe pelo ralo ou retrete [https://bit.ly/cG230706]. Pois essas obras pelo centro fizeram relembrar dessas historietas, com agravantes.
Para além da barulheira que se estendia há mais de mês, com marretadas, britadeiras e máquinas cimenteiras disputando o ambiente sonoro com músicos, pregadores e esmurradores de bíblia, a coroação foi quando deram a obra em frente por encerrada.
Dois dias depois, um dos banheiros do andar foi interditado. Dia seguinte, o outro banheiro do andar e banheiros de outros andares também foram interditados. Ainda assim, recebemos notícia da chefia, dizendo que usássemos os banheiros dos andares que ainda não estavam entupidos (os mais altos), e seguíssemos normalmente com os trabalhos. Assim se tentou fazer, mas esse terceiro dia praticamente todos os banheiros do prédio foram sendo interditados, um depois do outro, com animais e excretas fugindo das retretes dos andares mais baixos. Para evitar que se tornassem chafarizes de merda, cortaram a água do edifício também. A contragosto das chefias, os funcionários foram mandados para casa no meio do expediente. No quarto dia, sexta-feira, fizemos todos teletrabalho, para desespero dos chefes, que assim podem comprovar que rendemos tanto em casa quanto de corpo presente.
Dado esse festival de interdições, investigação vai, investigação vem, e os banheiros seguiam entupidos, nada descia, pelo contrário, muita coisa subia. Foi no domingo que descobriram o que havia acontecido: na reforma das calçadas, haviam obstruído a saída de esgoto do prédio.
Conseguiram desobstruir a tempo para terça-feira voltarmos no meio do expediente. Ponto para a prefeitura, rápida nesse momento, deixando apenas como efeito colateral britadeiras destruindo o resto da calçada recém feita para adequá-la às saídas de esgoto do edifício.
Da nossa parte, lamentamos duas coisas: a velocidade com que resolveram esse problema - sempre dizem que destruir é fácil e rápido -, e o fato de não haver reformas do tipo na frente da casa do chefe.
15 de agosto de 2024.
PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.