Se os Estados Unidos tem o american way of live para vender ao mundo, calcado na competição e no self-made man individualista; os europeus têm também seu modo de vida para consumo externo (e interno), pretensamente superiores: social-democracia, humanismo, alta-cultura, com seus escritores, intelectuais, orquestras, artistas. E, assim como tem os otários que compram a propaganda estadunidense, há também os otários, como este escriba, que compram a propaganda européia. Está certo que nos justificamos por justificavas que aparentemente são melhores do que as do modo estadunidense, mas os defensores deste acham que possuem a mesma razão, ainda que por razões diferentes. De qualquer forma, pouco importam as razões, elas não justificam a opção praticamente passiva por um ou outro modelo.
É sempre alentador quando um filme consegue fazer uma boa crítica de qualquer um desses modelos. Do american way of live temos mais facilidade em encontrar exemplos, do que do modelo europeu, já que é o modelo predominante. Às vezes é difícil achar uma crítica a ambos, ou pelo menos uma crítica a um dos modelos que não tragam escondida a defesa do outro. Pois é justamente o que Julie Delpy faz em seu filme Dois dias em Paris, na qual ela também interpreta a protagonista. Na verdade, esse tom do filme foi uma agradável surpresa. Ao ler a sinopse no jornal, que falava de um casal nova-iorquino que tenta recuperar o relacionamento em Paris, a cidade natal da protagonista, imaginava um drama, com diálogos existenciais. Não que o filme não tenha sua profundidade, mas ele quebra justamente com essa aura de seriedade. Na sinopse do cinema, falava em comédia romântica, termo que imediatamente me remete a Sandra Bullock e Julia Roberts, o que me trás arrepios. Se realmente se trata de uma comédia romântica, felizmente não segue o american way of romantic comedy.
Logo no início do filme, Jack, o namorado da parisiense (Marion), um americano que não sabe francês, paranóico com ataques terroristas e hipocondríaco, reclama do fato de ter que ficar na fila sob um céu nublado para tomarem um táxi, na saída da estação de trem. A mulher sai em busca de alternativa. Enquanto isso o grupo que está à sua frente na fila se apresenta como um grupo de cidadãos estadunidenses e pergunta se Jack não sabe onde está o Louvre. Ele diz que sim, que é ali perto e indica o caminho. A americana que pediu a informação agradece e confessa o quanto os franceses são metidos e pouco confiáveis. O grupo parte e quando Marion volta Jack já é o segundo da fila. Rebate a crítica de Marion por ter indicado o caminho errado - até porque o Louvre ficava há milhas de distância, segundo ela - dizendo que “os mais fortes sobrevivem”, logo, não pode ser acusado de ter feito nada de errado. Esse início é a chave para não imaginar que o filme, que no seu desenrolar vai se centrar na crítica aos pretensos círculos intelectuais e artísticos parisienses, irá fazer apologia do modelo estadunidense.
E o que se desenrola a seguir é uma sarcástica crítica aos ideais franceses – e europeus – que atacam de 68, na figura dos pais de Marion, como no próprio comportamento desta, aos ataques contra a globalização, feito por um gay-exotérico-lunático. Boa parte do desenrolar da história se dá em torno de temas sexuais, cantadas, encontros com ex-namorados, amantes, com algumas pitadas de preconceito, grosserias, falta de educação, racismo e rebeldia adolescente por parte dos personagens – e o filme se passa em círculos de artistas, escritores, fotógrafos, etc, teoricamente a nata do manière française de vie.
Enfim, uma sugestão para mais do que dar umas risadas, quebrar uns paradigmas.
É sempre alentador quando um filme consegue fazer uma boa crítica de qualquer um desses modelos. Do american way of live temos mais facilidade em encontrar exemplos, do que do modelo europeu, já que é o modelo predominante. Às vezes é difícil achar uma crítica a ambos, ou pelo menos uma crítica a um dos modelos que não tragam escondida a defesa do outro. Pois é justamente o que Julie Delpy faz em seu filme Dois dias em Paris, na qual ela também interpreta a protagonista. Na verdade, esse tom do filme foi uma agradável surpresa. Ao ler a sinopse no jornal, que falava de um casal nova-iorquino que tenta recuperar o relacionamento em Paris, a cidade natal da protagonista, imaginava um drama, com diálogos existenciais. Não que o filme não tenha sua profundidade, mas ele quebra justamente com essa aura de seriedade. Na sinopse do cinema, falava em comédia romântica, termo que imediatamente me remete a Sandra Bullock e Julia Roberts, o que me trás arrepios. Se realmente se trata de uma comédia romântica, felizmente não segue o american way of romantic comedy.
Logo no início do filme, Jack, o namorado da parisiense (Marion), um americano que não sabe francês, paranóico com ataques terroristas e hipocondríaco, reclama do fato de ter que ficar na fila sob um céu nublado para tomarem um táxi, na saída da estação de trem. A mulher sai em busca de alternativa. Enquanto isso o grupo que está à sua frente na fila se apresenta como um grupo de cidadãos estadunidenses e pergunta se Jack não sabe onde está o Louvre. Ele diz que sim, que é ali perto e indica o caminho. A americana que pediu a informação agradece e confessa o quanto os franceses são metidos e pouco confiáveis. O grupo parte e quando Marion volta Jack já é o segundo da fila. Rebate a crítica de Marion por ter indicado o caminho errado - até porque o Louvre ficava há milhas de distância, segundo ela - dizendo que “os mais fortes sobrevivem”, logo, não pode ser acusado de ter feito nada de errado. Esse início é a chave para não imaginar que o filme, que no seu desenrolar vai se centrar na crítica aos pretensos círculos intelectuais e artísticos parisienses, irá fazer apologia do modelo estadunidense.
E o que se desenrola a seguir é uma sarcástica crítica aos ideais franceses – e europeus – que atacam de 68, na figura dos pais de Marion, como no próprio comportamento desta, aos ataques contra a globalização, feito por um gay-exotérico-lunático. Boa parte do desenrolar da história se dá em torno de temas sexuais, cantadas, encontros com ex-namorados, amantes, com algumas pitadas de preconceito, grosserias, falta de educação, racismo e rebeldia adolescente por parte dos personagens – e o filme se passa em círculos de artistas, escritores, fotógrafos, etc, teoricamente a nata do manière française de vie.
Enfim, uma sugestão para mais do que dar umas risadas, quebrar uns paradigmas.
Campinas, 22 de maio de 2008
2 comentários:
Valeu pela indicação. Eventualmente fico fissurado por ditas comédias românticas. São histórias de amores possíveis que, quando bem contadas, me remetem a um cotidiano possível feliz. Deveria haver uma "estética do amor" subversiva tupiniquim, confrontando paradigmas, coisa fina... felipe.
O filme parece ser bom! E é ótimo quando quebra alguns paradigmas impostos por aí. E o Felipe (aí de cima) disse o que eu ia falar! haeuahe. Como você tá? ;** beijo, Lua
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