segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sobre a Casuística

A arte definha. O que nos resta hoje ou são velhas referências já estéreis – Caetano, Zé Celso, Cony –, ou são produtos insossos da indústria cultural – de qualidade sofrível, ou mero requento de modas passadas –, ou alguns pequenos grupos e movimentos que conseguem certa visibilidade marginal na grande imprensa, mas que se fecham nesse círculo de marginais-não-tão-marginais. Até mesmo os poetas de 18 anos, outrora infindáveis (quem não arriscou versos na adolescência?), parecem estar diminuindo, perdendo o vigor. O que resta, então, são simples consumidores de arte, acríticos ou saudosistas.

Esse é um discurso recorrente nos círculos ilustrados, e uma impressão que acaba marcando muita gente, inclusive poetas de 18 anos (ou mais) e escritores de domingo. Porém, qual não foi minha surpresa, ao agitar junto com alguns amigos uma revista eletrônica de artes antiartes heterodoxias, e mesmo fazendo-o de maneira muito tímida, conseguirmos uma primeira edição de 100 páginas!


A edição 14 Casuística (a primeira) foi uma mostra de que há muita gente produzindo, tentando criar sua arte, mas que falta espaço para divulgação dessa produção independente, reféns que estamos da imprensa, da indústria cultural. A internet é um ótimo meio, mas quantas milhões de página na rede não existem para conseguir achar as desses artistas? E mesmo que as ache, quantas páginas não são atualizadas continuamente. Quem tem tempo de percorrer diariamente um sem fim de blogs para acompanhar tais novos artistas?


O estilo revista da Casuística ajuda ao fazer certa seleção. Também garante uma estabilidade aos textos e mais tempo aos seus leitores, uma vez que é possível levar vários dias para lê-la, ou retornar a ela para reler um texto sem se perder em novas atualizações. Isso nos faz lembrar da necessidade de se refletir sobre o que se leu, capacidade que temos perdido na nossa ânsia de estarmos sempre atualizados.

Casuística 14, por ser ainda uma primeira tentativa, não conseguiu funcionar em eixos, conforme pretendia, e acabou por ser mais uma coletânea de textos. Há, de qualquer forma, certa coerência, certo diálogo entre vários desses textos. Mais importante: tem gerado diálogos entre muitos criadores que dela participaram, ou que dela ficaram sabendo só depois de pronta: novos coletivos, novos experimentos, novas idéias para intervenções e ocupações urbanas já despontam nesse breve período desde sua chamada, em início de outubro.

Aos que se interessaram em dar uma olhada, fica o aviso: Casuística não se pretende ser arauto de nenhuma vanguarda; há ali tentativas, experimentos – às vezes válidos mais para os escritores do que para os leitores. Não é também nenhum caça-talentos: há bons escritores, bons textos, boas artistas plásticas, bons polemistas, mas, por ora, pouca coisa além do que pessoas medianas conseguem produzir. Parece pouco? Convenhamos que grandes escritores e artistas não surgem aos borbotões, e mesmo os que despontam, não aparecem já prontos e acabados. E arrisco dizer que a maioria que está ali não tem a preocupação de ser um novo Machado de Assis, mas que escreve antes para se divertir.

Ser lúdico, contudo, não impede de ser sério, de buscar certa qualidade. Porém, além da qualidade, há a preocupação em experimentar, em tentar inventar, sem se preocupar aonde isso vai levar. Como diz no texto de apresentação, Casuística é encruzilhada: uma série de possibilidades em aberto, apenas esperando para serem criadas.

A revista está pode ser acessada pelo endereço www.casuistica.tk


Campinas, 18 de dezembro - Pato Branco, 21 de dezembro de 2009.

Publicado em www.institutohypnos.org.br


Sem comentários: