É possível notar a decadência da Folha de São Paulo nos últimos anos pelo nível dos seus ombudsmen. Sou eufemístico ao falar decadência, mais condizente é dizer seu despencamento de qualidade. Decadência era no início da década, quando parecia que havia possibilidade de reversão relativamente tranqüila.
Os últimos jornalistas a ocuparem o cargo apenas atestam o caminho da Folha rumo ao título de veículo mais mau caráter da Grande Imprensa – o que tem algo de honroso, dada a qualidade dos adversários, convenhamos. Eles realmente imaginam que alguém minimamente vivo acredita que eles são plurais, imparciais, independentes? E como já disse alhures, não vejo ser parcial como algo necessariamente negativo – até porque não creio na imparcialidade. Contudo, tampouco acho louvável a busca pela parcialidade, como é a tônica na internet.
Mário Magalhães era um ombudsman moderado, mas mesmo assim, por desagradar ao chefe, seu mandato acabou não sendo renovado ao fim do primeiro ano. Carlos Eduardo Lins da Silva parecia mais um office boy – moço de recado, como chamam em Portugal – do que ombudsman: levava e trazia mensagens dos leitores e do jornal pra lá e pra cá, pouco acrescentava.
Já Suzana Singer só não beira o patético porque o que ela faz como ombudsman é patético. Ela simplesmente inverteu o que faria o ombudsman: ao invés de fazer a crítica do jornal a partir do que recebe dos leitores, ela defende o jornal das críticas dos leitores! E defende de maneira muito pobre, o que é pior. Diz ela em sua coluna do dia 31 de outubro que a cobertura do jornal, depois de escorregadas (escorregadas? Eram tombos!) no primeiro turno, foi equidistante com relação aos dois candidatos no segundo. Aham. Numa eleição que mais parecia ser pela paróquia de Aparecida do que pela presidência do Brasil, na capa de 12 de outubro o jornal mostrava Dilma não comungando, ao contrário de todos ao seu redor; já na capa do dia 29, a foto era de Serra beijando uma Santa. Se isso é equidistância, Singer deveria explicar o que é “equidistante” na novalingua da Folha, que não achei a definição no seu Manual de Redação.
Se Folha um dia quiser provar que não é tão mau caráter assim e não tenta enganar seus leitores, que nomeie para o que eles chamam de ombudsman a Eliane Catanhêde, ou o Clóvis Rossi, ou o Otávio Frias Filho de uma vez, por que não? Aí, então, podemos conversar.
Campinas, 31 de outubro de 2010.
Os últimos jornalistas a ocuparem o cargo apenas atestam o caminho da Folha rumo ao título de veículo mais mau caráter da Grande Imprensa – o que tem algo de honroso, dada a qualidade dos adversários, convenhamos. Eles realmente imaginam que alguém minimamente vivo acredita que eles são plurais, imparciais, independentes? E como já disse alhures, não vejo ser parcial como algo necessariamente negativo – até porque não creio na imparcialidade. Contudo, tampouco acho louvável a busca pela parcialidade, como é a tônica na internet.
Mário Magalhães era um ombudsman moderado, mas mesmo assim, por desagradar ao chefe, seu mandato acabou não sendo renovado ao fim do primeiro ano. Carlos Eduardo Lins da Silva parecia mais um office boy – moço de recado, como chamam em Portugal – do que ombudsman: levava e trazia mensagens dos leitores e do jornal pra lá e pra cá, pouco acrescentava.
Já Suzana Singer só não beira o patético porque o que ela faz como ombudsman é patético. Ela simplesmente inverteu o que faria o ombudsman: ao invés de fazer a crítica do jornal a partir do que recebe dos leitores, ela defende o jornal das críticas dos leitores! E defende de maneira muito pobre, o que é pior. Diz ela em sua coluna do dia 31 de outubro que a cobertura do jornal, depois de escorregadas (escorregadas? Eram tombos!) no primeiro turno, foi equidistante com relação aos dois candidatos no segundo. Aham. Numa eleição que mais parecia ser pela paróquia de Aparecida do que pela presidência do Brasil, na capa de 12 de outubro o jornal mostrava Dilma não comungando, ao contrário de todos ao seu redor; já na capa do dia 29, a foto era de Serra beijando uma Santa. Se isso é equidistância, Singer deveria explicar o que é “equidistante” na novalingua da Folha, que não achei a definição no seu Manual de Redação.
Se Folha um dia quiser provar que não é tão mau caráter assim e não tenta enganar seus leitores, que nomeie para o que eles chamam de ombudsman a Eliane Catanhêde, ou o Clóvis Rossi, ou o Otávio Frias Filho de uma vez, por que não? Aí, então, podemos conversar.
Campinas, 31 de outubro de 2010.
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