Se tem uma coisa que a elite brasileira adora é fazer o que ela acha que é chique no exterior. Ir à ópera vestindo casaco de pele em Ribeirão Preto, sendo que durante o dia a temperatura passou dos trinta graus, por exemplo. Essa elite acredita que a última onda mundial é bicicleta. Mas não qualquer magrela, tem que ser bicicleta comunitária. Veja São Paulo: espalhou bicicletários pelas estações de metrô – outra coisa chique, de primeiro mundo, metrô. Quantas pessoas usam o serviço? Isso pouco importa para a elite: fica bonito, não fica?
Numa cidade sem ciclovias – começam agora a ensaiar a instalação de algumas, ainda incipientes e sem perspectivas para um futuro próximo –, em que bicicleta é estimulada como passeio de domingo, o “usebike” é um programa tão patético que o sucessor só viu nele gasto inútil – ou seja, viu o que ele é. Mas como é coisa que tem em Barcelona, no Canadá, em Paris – e São Paulo não serviu de exemplo –, a Unicamp resolveu também aderir, numa prova de falta de senso de ridículo e de prioridades.
Agora a universidade contará com um sistema de bikes comunitárias intracampus para a comunidade interna se deslocar pra lá e pra cá gastando menos tempo e com “menos stress” (sic). Atrasado para a aula? Azar o seu, corra: o tempo autorizado com a magrela não permite assistir à aula inteira. Esqueceu algo em casa, ali pertinho? Vá de carro ou à pé: a bicicleta é só para o campus. Daí a pergunta: para quê bicicleta, se já tem ônibus circular interno? Só se for para passeio de domingo, pelo visto.
Enquanto isso a Unicamp finge que estudante universitário não é estudante e não mexe um dedo pelo meio passe estudantil no transporte público, melhora o tráfego dos carros às custas de piorar a vida de pedestres e ciclistas – que têm que se deslocar mais e atravessar mais ruas –, e segue sem calçadas para pedestres em boa parte da fazendona, mas vagas para estacionar, isso sobra. Inclusive, a Unicamp a cada dia se firma como um grande estacionamento gratuito e cada vez mais bem equipado e protegido – só falta ser com seguro.
Enquanto isso, a moradia estudantil – destinada a alunos que ainda não são da elite – segue sem ampliação de vagas, casas mal pensadas e mal construídas, com reformas sempre lentas; o restaurante universitário tem fila das 11h30min às 13h45min (para compensar o tempo que você vai ganhar com o bicicleta?), e bibliotecas e salas de informática continuam alagando eventualmente – mas só quando chove. Olha, uma utilidade! As bikes poderão ajudar pra sair à cata de gente para entrar no mutirão de retirada dos livro das prateleiras antes que molhem.
Campinas, 29 de abril de 2011.
Numa cidade sem ciclovias – começam agora a ensaiar a instalação de algumas, ainda incipientes e sem perspectivas para um futuro próximo –, em que bicicleta é estimulada como passeio de domingo, o “usebike” é um programa tão patético que o sucessor só viu nele gasto inútil – ou seja, viu o que ele é. Mas como é coisa que tem em Barcelona, no Canadá, em Paris – e São Paulo não serviu de exemplo –, a Unicamp resolveu também aderir, numa prova de falta de senso de ridículo e de prioridades.
Agora a universidade contará com um sistema de bikes comunitárias intracampus para a comunidade interna se deslocar pra lá e pra cá gastando menos tempo e com “menos stress” (sic). Atrasado para a aula? Azar o seu, corra: o tempo autorizado com a magrela não permite assistir à aula inteira. Esqueceu algo em casa, ali pertinho? Vá de carro ou à pé: a bicicleta é só para o campus. Daí a pergunta: para quê bicicleta, se já tem ônibus circular interno? Só se for para passeio de domingo, pelo visto.
Enquanto isso a Unicamp finge que estudante universitário não é estudante e não mexe um dedo pelo meio passe estudantil no transporte público, melhora o tráfego dos carros às custas de piorar a vida de pedestres e ciclistas – que têm que se deslocar mais e atravessar mais ruas –, e segue sem calçadas para pedestres em boa parte da fazendona, mas vagas para estacionar, isso sobra. Inclusive, a Unicamp a cada dia se firma como um grande estacionamento gratuito e cada vez mais bem equipado e protegido – só falta ser com seguro.
Enquanto isso, a moradia estudantil – destinada a alunos que ainda não são da elite – segue sem ampliação de vagas, casas mal pensadas e mal construídas, com reformas sempre lentas; o restaurante universitário tem fila das 11h30min às 13h45min (para compensar o tempo que você vai ganhar com o bicicleta?), e bibliotecas e salas de informática continuam alagando eventualmente – mas só quando chove. Olha, uma utilidade! As bikes poderão ajudar pra sair à cata de gente para entrar no mutirão de retirada dos livro das prateleiras antes que molhem.
Campinas, 29 de abril de 2011.
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