A
garotinha não era feia – ou não deveria ser. Pelos dentes
nascendo, devia ter seus sete anos, apesar do falar um tanto
embebezado para sua idade, me pareceu. Entrou no metrô com a mãe e
outra mulher, e se sentou bem defronte a mim, de forma que o breve
trajeto que percorremos juntos pus-me a observá-la – até porque
me chamava a atenção.
Não
era feia – já disse –, talvez até pudesse ser uma criança
bonita: olhos grandes, azuis, loira, gordinha (sem exageros) do
estilo redondinha. Mas usava lápis de olho, batom que marcava bem
(ou simulava) o contorno da boca, e devia usar mais alguns
apetrechos de maquilagem que não constam no meu escasso repertório
do gênero. Tudo isso dava a ela um ar de personagem de filme de
terror, algo como Chucky, o boneco assassino. E não adiantava ela
sorrir com as palhaçadas da amiga da mãe, tudo aquilo de maquilagem
– que quem sabe na mãe não desse um ar sexy – a ela emprestavam um quê de sádico e alheio.
Me
lembrei das pinturas medievais, nas quais se representavam crianças
como mini-adultos, ou mesmo nas de Paula Rego, em que crianças
mini-adultos dava um ar de horror a cenas que aparentemente tendiam
para festas. Ocorre que a garota nascera no século XXI, mais próxima
de Paula Rego do que de Fra Angelico, e sua mini-adultice era
horrorificante.
Ao
sair do vagão, reparei que a mãe – loira como a filha – tinha
as raízes escuras. Apesar da curiosidade, preferi não reparar de
novo no cabelo da garotinha.
São
Paulo, 10 de janeiro de 2012.
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