Por
um lado é curioso: a decisão dos supermercados de abolirem as
sacolinhas plásticas cria um ar anos 70, quando as donas de casa iam
às compras levando de casa suas sacolas, seus carrinhos de feira.
Havia, claro uma diferença significativa: nos anos 60, 70,
utilizava-se tal método porque as tais sacolinhas plásticas eram
inviáveis, e não por consciência ecológica, como hoje – a
acreditar no que dizem.
Mas,
chato desconfiado que sou, aposto meu mate de domingo que o discurso
ecológico é apenas uma forma politicamente correta de lucrar mais.
Não tanto pelo que os mercados economizarão na confecção de
sacolinhas: desconfio, pela forma como eram utilizadas, que seu custo
seja irrisório para uma grande rede – ou então já teriam
orientado os funcionários a utilizarem-nas racionalmente. Há a loja
de uma rede, em Barão Geraldo, cujos empacotadores costumavam pôr
em média dois a três produtos por sacola.
Aos
dias de hoje, do politicamente correto e economicament rentável: na
entrada do mercado carrinhos com suas sacolinhas ecológicas
acopladas a R$ 39,90. Se não for o caso de sair passeando de
carrinho pela cidade, apenas as sacolas ecológicas custam R$ 0,90 –
talvez você precise duas ou três, a depender do tamanho da compra,
ou, se achar que esse acréscimo nas compras não compensa, pode
voltar amanhã, o mercado agradecerá. E se nessa próxima vez, caso
esqueça a sacolinha ecológica comprada da última vez, compre novas
sacolas ecológicas – nem que seja para carregar três ou quatro
produtos.
Vi
ontem, na tela de outro mercado, enquanto esperava minhas vez no
caixa, o argumento de que sacolinhas plásticas não eram aptas para
receber lixo orgânico e único – coisa que as sacolas plásticas
vendias pelo mercado, certamente feitas de um material especial, feitas com amor, o
são. Não tardará muito e a imprensa fará saber que reutilizar
sacolas ecológicas não é bom para a saúde, pois tais sacolas
ecológicas acumulam fungos e bactérias: o negócio é trocar toda
semana, quem sabe em freqüência maior.
Enquanto
cobram dos consumidores (pela) consciência ecológica, nas gôndolas,
o que se vê é o contrário. Compro duzentos gramas de queijo
fatiado em uma bandeja de isopor. Mesmo que queira em peça, ela virá
embalada no seu microfilme com isopor – quando uma embalagem de
plástico bastaria. O meu velho exemplo do chá em saquinho, esse
persiste: são dois plásticos e uma caixa para garantir a assepsia
do saquinho com 10g de erva – se muito. Na lanchonete do mercado,
canudinhos em embalagens individuais, e dois guardanapos envolvidos
por um plástico nos garante que não foram contaminadas por mãos
alheias. Porque o ecologicamente correto tem limites: nossa saúde. O
que não tem limite são as oportunidades de lucro que esse discurso
traz.
São
Paulo, 30 de janeiro de 2012.
ps:
detalhe: sou do que levam a própria sacola pro mercado já há meia
década.
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