Sem
acompanhar com muita atenção os jornais durante a semana, fui pego
de surpresa com a nomeação do Bispo Crivella – que prefere não
ser chamado de bispo – para o ministério da Pesca. A primeira
pergunta: Bispo Crivella na pesca?? Logo a seguir respiro aliviado:
ainda bem que não no da Educação ou no Ministério de
Desenvolvimento Social. Vem, então, uma segunda questão – já
respondida –, mas que mesmo assim faço, e julgo até mais
importante: por que uma secretaria com estatuto de ministério, com
todo o dispêndio que acarreta? Pra quê, está claro: moeda de troca
política. E o timming da
substituição dos ministros – justo quando Serra anuncia sua
pré-candidatura à prefeitura de São Paulo – não deixa dúvidas
para isso.
A prefeitura valendo um ministério para a bancada evangélica, outra coisa para não se admirar: um dos pré-candidatos de São Paulo, Chalita, vem como representante da Paróquia de Aparecida; com Serra na disputa, o PT se arma para uma nova disputa a la 2010: família, aborto, religião, casamento gay, divórcio, valores, Deus – logo voltaremos a discutir o biquini e a mini-saia.
Serra como candidato é o PSDB cavar a própria sepultura. Para médio prazo, sepultura eleitoral: o partido tem sérias dificuldades em repor seus quadros, e o demonstra ao aceitar Serra para a disputa em São Paulo, ao mesmo tempo que abdica de concorrer em outras cidades importantes do Estado, como Campinas e São José do Rio Preto. Na ânsia de uma vitória no curto prazo – Maringoni diz que os partidos da chamada direita não sobrevivem sem o Estado, por falta de base social –, o PSDB perde a chance de se renovar – por mais que tal renovação seja repaginar o sobrenome, como Covas em São Paulo, Richa no Paraná, Neves em Minas. Serra pode vencer – o eleitorado paulistano é suficiente conservador, não esqueçamos a dupla Boris Casoy-Jânio Quadros, em 1985 –, mas, diante das disputas fratricidas internas tucanadas, o único a ganhar com isso é ele. Se perder, perde o partido todo – e Kassab, que embarcou nessa empreitada por puro sentimentalismo.
Se essa questão dos quadros – cuja modelo de renovação, no Brasil, ficou marcada como sendo típica do PFL/DEM – é um dos aspectos que apontam para a sepultura tucana, a outra, mais imediata, é do próprio ideal de um partido moderno – naquelas modernização-conservadora típica tupiniquim, da qual nem o PT escapa. O PSDB já possui Alckmin como governador do principal estado da nação – dispensando comentários sobre seu conservadorismo truculento –; com Serra novamente em destaque, vai assumindo e se firmando como um partido conservador não apenas na economia – que isso o PT também é –, mas principalmente nos costumes (comentei isso em crônica anterior [j.mp/cG24112]).
Não há como não lembrar de Chico de Oliveira, quando este falou da irrelevância da política pós reformas estruturais da era FHC: com o principal partido de oposição sem um projeto alternativo para o país, sem uma discussão sobre a urbe, resta a rinha em cima de migalhas moralistas, num momento de recrudescimento das posições conservadoras – de esquerda e de direita, é bom salientar.
Pior: o PT sabe disso, não nega, e se adapta: ele sabe da irrelevância da política e não tem interesse em alterar esse panorama, pois se beneficia dele.
Pato Branco, 03 de março de 2012.
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