Saio
de casa apressado: queria jantar e ainda pegar algum mercado próximo
aberto – hoje tinha preguiça de passear pela av. Paulista,
como tivera de cozinhar algo decente no almoço.
Na
rua da Consolação, o sinal para pedestres pisca e resolvo esperar.
Um rapaz, seus vinte e cinco anos, atravessa a rua, vindo na minha
direção. Para atravessar, precisa contornar um carro que parara em
cima da faixa – dirigido por outro rapaz, também nos seus vinte e
cinco anos. Enquanto passa, gesticula. Que foi,
pergunta irritado o motorista, Porra, olha onde você pára,
em cima da faixa, Que
tem, não gostou, Não tem respeito, não, idiota, não tem educação.
O sinal abre, mas os ânimos
seguem exaltados. O carro parte, Eu devia descer e te dar
uma porrada, isso sim, palhaço.
O pedestre responde algo, mas eu já estou distraído com duas
mulheres que dobram a esquina correndo – Pega ladrão,
grita alguém do bar, em tom jocoso.
Na esquina seguinte, escuto barulhos estranhos vindos de um carro que
espera o sinal abrir: um "japonês" acompanha a bateria da
música que ouve batendo duas baquetas contra o volante – eu
chutaria que ele é antes jogador de Guitar Hero do que baterista.
Dobro em direção à rua Augusta. Um homem, fora da faixa, perna
enfaixada e muleta, atravessa lentamente a rua. Um carro se aproxima
e vai diminuindo a velocidade, até ter espaço para contornar pelo
lado – imaginei que fosse buzinar, mas não o fez. Bom que não
teve pressa, porque dez metros a frente precisou parar atrás de uma
fila de carros, num pequeno congestionamento – muito provavelmente
porque algum motorista mais lento tentava estacionar.
Já na Augusta, dois andinos, um na caixa, outro no charango e na
flauta de pan, tocavam uma música típica – como estava com pressa
não pude parar para ouvi-los, infelizmente. Quando voltei da
lanchonete, já haviam encerrado a apresentação, e uma esquina
acima contavam o que haviam recebido. Em frente ao Conjunto Nacional
um homem apresentava sua arte no saxofone. Nada traumático, do nível
de Kenny G, mas lamentei que não fosse música andina.
No
mercado, a caixa ganha da cliente um pão de mel. Obrigada,
eu nem gosto de doce... sou pior que formiga.
Apesar da caixa ter terminado sua frase, a cliente não havia ouvido
a resposta: Dá para alguém que goste, então. No
outro caixa uma mulher acena para seu "filho", um cachorro
que a espera com a filha (esta sem aspas) do lado de fora.
No caminho para casa, nenhuma Flávia parecida com Carla Bruni, mas
um grupo de japoneses (estes sem aspas) conversa animadamente – e
me vejo concordando com o Cássio: parece que estão brigando, pela
entonação própria do idioma.
Praticamente em frente ao prédio onde moro, espero os carros
passarem para atravessar a rua. Uma mulher vem lentamente,
conversando no celular enquanto dirige. De repente noto que avança
em minha direção. Dou um pulo para trás. Pela velocidade não
chegou a assustar – e eu, que de início achei que ela queria
estacionar, e não que simplesmente perdera a direção do carro,
concentrada que estava na conversa, acabo não tendo uma segunda
reação de indignação.
Antes de chegar em casa, dou licença à Mercedes do vizinho do
prédio ao lado, apressado que está em entrar na garagem. Pela
pressa, devia estar com dor de barriga, os odores do organismo a
pestilentar o carro caro, até então com cheiro de novo. E eu devia
estar mesmo cansado, pois acabo não me irritando com mais isso –
sequer para sarcasticamente cumprimentá-lo.
Sem sarcasmo, cumprimento Luís, o porteiro do turno, e subo para
estudar mais um pouco – que troco por esta crônica.
São Paulo, 22 de março de 2012.
1 comentário:
Bem vindo a Megalópole.
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