Sexta recebi mensagem de uma amiga, a mesma que me sugeriu uma
substituta oriental a Ruth, a balconista: "chochile à tarde que
hoje vamos te arranjar uma crônica ou uma guria". Mandou tarde o sms: eu havia combinado de me encontrar com alguns amigos de
Ribeirão, e estava já no CCBB, na exposição "Corpos
presentes", de Antony Gormley.
Breve parênteses para comentário: a parte interna eu preciso ir de
novo, ver com mais calma. A parte externa, espalhada pelo centro da
cidade, essa eu já havia visto em outros momentos, e acabei
discordando dos meus amigos, talvez por ter começado por elas: aquelas estátuas no alto dos prédios, na interação com a urbe,
não me soavam como suicidas – à distância, pareciam eretas e rígidas demais para
estarem como hesitando para o salto final –, e sim como vigilantes
em postos avançados, nesta cidade super-vigiada, super-protegida (de
quem, do que, para quem, são outras questões). Fecha parênteses.
A falta do cochilo não impedia a saída à noite, de qualquer forma.
Acontece que depois do CCBB fomos à Galeria Olido, assistir à
coreografia "Farmácia", e de lá subimos a rua Augusta. No
meio do caminho, recebo nova mensagem da Misson, avisando que está,
junto com outros amigos, no mesmo bar da semana passada. Esqueceu que
na semana anterior havíamos parado em dois bares: vou para o
segundo, já quase na Paulista, estão no primeiro, próximo à
região dos inferninhos. Cansado, com a meia molhada desde às três
da tarde, voltei pra casa e não me animei em sair, quando depois me
ligaram, insistindo.
Isso não significou, contudo, que ela não tivesse me arranjado uma
crônica! Apenas que ao invés de qualquer possível acontecimento ou
desacontecimento da madrugada, sua própria mensagem me serviu de
mote.
Porque notei o quanto estou desacreditado entre meus amigos, por mais
que a sorte já tenha sorrido (e eu correspondido, detalhe
importante) pra mim este ano – talvez eles sejam daquela teoria do
raio que não cai no mesmo lugar duas vezes no mesmo ano. Pois na
mensagem de Misson, apesar da sua boa vontade em me ajudar, não dava
para fazer a leitura "vamos te arranjar uma guria, mas se não
rolar, ao menos terá uma crônica". A frase vinha invertida:
"vamos te arranjar uma crônica, quem sabe não consiga até uma
guria". Ou seja, o fracasso era dado certo, como a crônica que
dele derivaria – mais um sinal de que ando com fama de transformar
tudo em texto. Só se algo realmente extraordinário acontecesse eu
poderia me arranjar com uma nova Camila, a moreninha da balada –
"alguém legal pra me abandonar", como na música do Lobão.
Acabei indo para a balada no dia
seguinte, com os amigos de Ribeirão. Havia até uma atraente moça –
essa perceptivelmente oriental –, com belas maçãs do rosto (ou
bochechuda, como digo), que passei um bom tempo encarando, pra ver se
a sorte não sorria para mim de novo. Mal me olhou. Ao menos o som
era bom e deu pra dançar. Mas no fim, me restou a crônica, como
sempre – e meia boca, ainda por cima. Admito: Ruth me é mais
inspiradora.
São Paulo, 14 de junho de 2012.
1 comentário:
A amiga aqui só quer deixar claro que a mensagem não continha descrença alguma. Hunft!
Enviar um comentário