Apresso
o passo para atravessar a Paulista. No cruzamento com a Augusta, em frente ao Conjunto Nacional, uma mulher com um violão e vozeirão meio a la Aimee
Mann faz uma versão mais lenta e sem firulas de “The Passenger”,
do Iggy Pop. Algumas poucas pessoas assistem. Um casal se abraça. Uma mulher, jaqueta
rosa sob a marquise de luzes amarelas, acende um cigarro. Páro na
esquina, esperando, junto com outros transeuntes, o sinal para
pedestres abrir. São nove horas da noite – faz frio em SP. Uma
garota passa ágil por mim. Cabelo curto preto, blusa vermelha, calça
preta, tênis – a vejo apenas de costas. Atravessa a rua como se o
vermelho fosse para os carros. O asfalto está molhado, tem uma cor
mais escura e reflete com um brilho fosco as luzes da cidade. Vejo algo da minha tristeza do momento nas marcas que, a cada passo seu, sobram no chão úmido – a perco de vista tão logo chega do outro lado.
The bright and hollow sky. You know it looks so good tonight. I am
the passenger. O homem verde indica que podemos cruzar a rua sem
perigo e sem pressa. Relampeja. Me ponho a atravessar a Augusta – recolho
minhas melancolias caídas na faixa de pedestres.
São
Paulo, 29 de maio de 2013.
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