Fora
assessora de juiz por cinco anos. Concursada em cargo de terceiro
grau, comissionada – o desejo de tantos nos dias de hoje. Não
consegui saber se tinha sido o desejo dela também, ou apenas estava
lá por desejo e pressão do pai, e para seguir o “fluxo normal da
vida” pelo melhor caminho – presume-se. Diz que se sentia mal
naquele cargo, se dando conta a cada dia mais de que o sistema
judiciário servia principalmente para ferrar quem já estava ferrado
– ela atuava como homologadora do nosso absurdo status quo.
Aproveitou a transferência do companheiro (e seu apoio) para largar
tudo e estudar atuação – estava perto dos trinta anos quando fez
isso. “Tinha dias que chegava, via aquela pilha de processos e
chorava. Eu me perguntava o que estava fazendo da minha vida”.
Olhando para ela era difícil acreditar ela em tal situação: hoje
parecia uma pessoa tão alegre, tão leve. Quando falava sério, ora
tinha um olhar penetrante sem ser duro, ora olhava como se mirasse no
tempo, e não no espaço. Quando sorria, seus olhos eram tão
expressivos quanto seu sorriso – ela toda encantadora nessas horas.
Sua beleza era feita também desse transpirar leveza. Imaginei ela em
roupa social, trancada num escritório, uma peça na burocracia
judiciária, a comparei encenando a gata da cena que montamos. Mesmo
que não consiga ser atriz de sucesso, não consiga chegar perto do
salário que teria se seguisse como funcionária do judiciário,
sinto que fazia mesmo sentido ela chorar aquela época.
São
Paulo, 28 de outubro de 2013.
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