Levo
uma amiga para conhecer o restaurante árabe da Cracolândia que
tanto gosto. Apesar de ser quase oito da noite, faz calor. Pedimos um
sugog e um shawarma. A cerveja é preciso comprar no bar ao lado.
Minha amiga se levanta e vai. Está com um vestido leve, que a cada
passo deixa a expectativa de que suba, mostrando um pouco mais suas
pernas (depois me explicaria que se trata, na verdade, de um shorts).
“Ah, o frescor do verão”. Lembro da frase tantas vezes trocadas
com você, pessoalmente ou por sms. Algumas lágrimas me sobrem aos
olhos, são poucas, mas vêm com tamanha força que não consigo
segurá-las. Foi algo parecido, só que mais intenso, quando você me
abraçou por conta de um desentendimento com essa mesma amiga –
havia vários motivos, fazia tempo que eu precisava chorar e não
conseguia, até sentir seu toque. As lágrimas me fazem lembrar de
trecho de sonho que tive no final de semana, em que eu tentava
segurar o choro – por sua ausência – até não conseguir mais.
Essa cena tem sido recorrente em minhas noites. Minha amiga volta com
a bebida e dois copos. “Que foi? Por que está chorando?”. Conto
da memória que me aflorou. Vocês invertem papéis, agora ela quem
me consola. “Ela deve estar num lugar melhor, rindo de você –
bobo – estar chorando assim”. Poderia ser, eu adoraria que você
estivesse em qualquer esquina ali perto, invisível, apoiada em uma
mesa, segurando um cigarro, uma Coca-Cola, um suco, uma copo de
cerveja, uma água, comentando das garotas que se aproveitam do calor
para o trazer às nossas vistas o frescor de seus vestidos sobre a
pele convidativa. Você olharia para mim, um sorriso nos lábios,
suspiraria e diria “ah, o frescor do verão”, antes de cairmos na
gargalhada.
São
Paulo, 12 de novembro de 2013.
[para Patrícia Misson e nossos comentários sobre o frescor do verão]
Sem comentários:
Enviar um comentário