Oxe,
nunca tinha visto, me respondeu a caixa quando perguntei se era comum
aquele tipo de cena. Esses esqueitistas, resmungava um homem na fila,
no alto de sua sabedoria preconceituosa e senso comum, ignorando que
não havia ninguém com prancha ali. Foi a conversa de momento pelos
cinco, talvez dez minutos que me demorei ali. Pouco antes havia saído
um rapaz, puxado – finalmente – pela sua namorada, aos berros:
covardes, dois contra um! Vem só um! Vem só um! Se fazia vítima
agora, o macho alfa, que instantes atrás chamava os dois pra briga.
Eu entrara na fila de pequenas compras – até vinte itens. Na minha
frente um rapaz de uns vinte anos, um saco de pão e uma bandeja de
frios. Aparentemente, tudo normal, cada um pensativo com sua compra e
na semana por vir. Foi quando o rapaz na sua frente se vira e
pergunta que ele está querendo arranjar confusão. Estou aqui na
boa, quieto. O da frente insiste, mostrando toda sua testosterona,
ignorando os apelos da namorada para que parasse: cadê teu
amiguinho? Pouco depois chega o amigo, alargador na orelha, várias
tatuagens (como o macho alfa): que foi, ainda enchendo o nosso saco?
Nenhum bombado, todos com seus um metro e setenta. Algumas trocas de
adjetivos e o de alargador manda calar a boca: vem fazer eu calar.
Desafia o macho enquanto empurra o primeiro rapaz, que já havia
avisado pra não ralar nele. O de alargador aceita o convite e os
dois se abraçam aos gritos de pára da namorada. O primeiro rapaz vê
uma garrafa de vodca, pensa rápido e não titubeia: logo voava pelo
ar o líquido amarelado ao som de vidro quebrado. Algumas pessoas
aparecem para separar: não tem segurança aqui? O segurança chega
depois, quando o macho alfa já havia saído com a namorada, se
fazendo de vítima. No chão, junto com a vodca, sangue. O primeiro
rapaz comenta, indignado, com o segurança: eu tava de boa, ele veio
encher, e olha o que ele fez eu fazer com meu brother: reparo no
rosto do rapaz de alargador, o sangue jorra do supercílio aberto
pela garrafada do amigo
Morais
da história: se chamar dois pra briga não os acuse de covarde
porque aceitaram o convite; e quando for brigar, só use armas se
souber usá-las: você pode acertar seu amiguinho.
São
Paulo, 14 de outubro de 2013.
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