[livre
leitura de “Onde o oposto faz a curva, de Patrícia Árabe]
A
dançarina caminha em círculos pelo palco cercado pelo público. É
curioso notar o monótono girar de cabeças de meus pares, necessário
para acompanhar o caminhar sem sentido e sem pausas de Patrícia
Árabe. Não me exige muito para estabelecer uma relação com o
transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Mas essa primeira parte de
“Onde o oposto faz a curva” me remete também a algumas teses de
Paul Virilio e Ernst Jünger, sobre o imperativo de se estar em
movimento: vivemos em uma sociedade que por mais que não esteja em
guerra, é calcada nos princípios que a norteiam desde o século
passado, principalmente após a segunda guerra: a guerra em
permanente latência, toda a sociedade, todos os seus cidadãos
preparados, armados “até a medula, até o mais fino nervo da
vida”. Na guerra de movimentos, estar parado é ser um alvo fácil,
daí que parar não é um opção aos viventes do século XXI. Esse
corpo compulsivo, em movimentação sem fim, é substituído pelo
corpo futilizado, banalizado: um corpo que aparentemente pára,
aparentemente reflete: aparentemente. De fato é só um corpo
subinvestido do pensar compulsivo, que anda em círculos sem sair do
mesmo: um corpo que reflete idéias já postas, hegemônicas, e o faz
como uma forma de aparecer – daí fazê-lo para o vídeo, gravar
sua própria experiência de, parada, entregar seu peso ao chão,
como dizem que é interessante.
Em
movimento ou parado, o mesmo corpo capturado: há alternativas?
Patrícia Árabe indica que sim: o corpo em consciência. O corpo em movimento
de auto-reflexão: corpo com marcas (não vistas num primeiro
momento), que ao buscar a autoconsciência se move mas também pára,
e consegue permanecer parado em e permanecer calado, enquanto observa
– a si e ao seu entorno.
São
Paulo, 16 de novembro de 2013.
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