São
sete e quinze da noite. O sol se pôs no horizonte, tingindo de
diversas cores as nuvens de um dia cálido. Ele não aparece
mas sua claridade ainda está presente, forte o suficiente para que
as luzes da cidade sigam apagadas. É aquela hora que, de alguma
forma, por alguns instantes, compartilhamos o
destino de Peter Schlemihl e estamos sem sombra – a diferença é
que não a negociamos com o diabo. Por via das dúvidas, algumas
pessoas se antecipam à noite iminente e desafiam deus e o diabo com
os faróis de seus automóveis. Um deles está parado na esquina da
Dona Antônia com a Consolação, esperando o sinal abrir. O
motorista gesticula espaçosamente enquanto conversa com o
passageiro. A conversa parece interessante, não sei se repara no
pôr-do-sol ou no garoto moreno, mais baixo que o carro, que com o
rosto tristonho faz malabarismo com três bolas sob a luz amarela que
o carro emana. Ele se retira da frente do carro antes do sinal abrir,
deixando o caminho livre para a cidade seguir seu fluxo rumo à noite.
São
Paulo, 13 de novembro de 2013.
ps: foto de Julia Teles Baptista, 12 de novembro (dia da cena).
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