Leio
no portal da Câmara dos Deputados entrevistas com os líderes dos
partidos na casa. Nossa legislação, ao não ter uma cláusula de
barreira, permite a bizarrice de partidos sem expressividade e sem
qualquer ideologia tenham direito a líder de bancada e toda as
vantagens com apenas cinco deputados - parece até propaganda de
aparelho de exercício mágico da década de 1990. As breves
entrevistas das lideranças são feitas basicamente de clichês sobre
tópicos postos pelo governo e ecoados pela Grande Imprensa, já na
primeira pergunta, "Quais serão as prioridades da sua bancada
em 2016?": ajuste fiscal, reforma da previdência, reforma (sic)
tributária, recriação da CPMF, desvinculação das receitas da
união (DRU), agenda positiva, crise, impeachment da presidenta da
República ou do presidente do congresso. A principal variação é
se o discurso fala em "direitos" ou "impostos", o
que distinguiria um partido mais à esquerda de outro, mais à
direita. No fim, pobreza de idéias e a subordinação extrema ao
poder executivo e à Globo e afins impera - incluo aqui o necessário
impeachment de Eduardo Cunha, ele próprio já rebaixa a Câmara.
O
discurso do líder do PSC, André Moura, parece ser press release
da Globo, da Veja ou da Folha. O
PSD, fiel à sua filosofia de não ser nem de esquerda, nem de
direita, nem de centro, nem a favor, nem contra, produz três
parágrafos para não dizer nada. De diferente, apenas a fala
de Sarney Filho, líder do PV, sobre a prioridade do partido à caça
ao Aedes aegypti; e de Ivan Valente, do PSOL, que lembrou a
necessidade de reverter a marcha para o obscurantismo posta em
movimento acelerado desde a eleição de Eduardo Cunha. O PPS,
partido satélite do PSDB e cada vez mais próximo da extrema direita
reproduz o discurso das pessoas felizes comentada pelo historiador
Leandro Karnal [http://j.mp/1KEN9hl], pessoas que substituíram
cultos como do Papai Noel e do Coelhinho, pelo culto da corrupção
isolada: "A crise brasileira, seja econômica, política,
social, tem um nome: Dilma Rousseff".
Enfim,
me centro na entrevista do deputado baiano Antonio Imbassahy, líder
da principal força de oposição partidária ao governo federal, o
PSDB. Sem reproduzir o Febeapá dos populares socialistas, ele diz
logo a que veio o partido: "trabalhar o impeachment, o
afastamento da presidente Dilma a partir de uma convicção de todo o
PSDB, das oposições e da maioria esmagadora da população, que com
Dilma no Palácio do Planalto o Brasil só vai piorar ainda mais
(...). Ela cometeu crime de responsabilidade e, portanto, numa
democracia, tem que ser afastada". Mais interessante contudo, é
o que ele não diz: que o que anima o partido é unicamente o poder:
não possui um projeto alternativo a ser contraposto - seja
econômico, político ou para a Câmara dos Deputados, já que ele
fala em corrupção -, não fala em transformar o Brasil no paraíso,
como Rubens Bueno, nada: fala em disputar a chave do cofre.
Inclusive, diz no fim da entrevista: "não dá para o governo
federal ficar com essa montanha de dinheiro e essa corrupção
exagerada", sem dúvida uma idéia bastante Veja (ou rasa, se
preferir) do uso do dinheiro público: ficar com o governo
federal, como se esse dinheiro não fosse gasto no custeio da máquina
pública, pagando professores, médicos, agentes de controle de
epidemias, reforma de estradas, etc. O dinheiro público, montanha ou
montinho, não deve ficar em lugar nenhum: deve voltar à população.
Teria sido um ato falho, que indica a visão de partido de butim
estatal que o PSDB possui?
Não
há como não lembrar das manifestações de junho de 2013: grande
parte dos analistas atribuiu as manifestações a uma crise de
representação política. Essa crise continua e os atuais partidos
nada fazem para tentar alterar sua relação com a sociedade e com os
poderes. Uma parte dos desiludidos foi facilmente cooptada pelos
movimentos das pessoas felizes, encabeçada pela lastimável figura
de Jair Bolsonado e logo seguida pelo PSDB de Aécio Neves, José
Serra, Aloysio Nunes Ferreira e Geraldo Alckmin. Outra parte segue à
deriva, em busca de um modus operandi político
que fuja da burocratização, do ativismo binário, da briga pelo
poder ser anterior à briga pelos ideais. Essa parte aderiu ao PT na
última eleição por medo de retrocesso e não por acreditar no
partido: ela segue em busca e, mais importante, começa a se
articular na construção de alternativas - o partido RAiZ Movimento
Cidadanista, da deputada Luiza Erundina, tem se mostrado como a principal aposta daqueles que
crêem em um outro mundo possível, feito de uma outra forma de
política, de uma outra forma de se pôr na sociedade; todos ganhamos se a aposta se mostrar frutífera.
22 de fevereiro de 2016
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