Em minha última visita
a Pato Branco, um amigo me levou a um café recém aberto na
cidade - a cafeteria a que eu estava habituado ele se recusou a ir, depois que
encontrou bigatos em sua comida, motivo que me pareceu digno.
Estamos lá,
conversando sobre várias coisas, dentre elas relacionamentos, quando
a dona do estabelecimento se aproxima, troca duas palavras e sai.
Nesse breve diálogo, ele diz seu nome. Apesar de ser ruim pra juntar
rosto com nome, me esforcei pra ver aquele rosto como conhecido - o
nome era. Perguntei se o sobrenome dela era aquele que eu imaginava - confirmou. Então contei: quase apanhei por causa dessa mulher, uns
vinte anos atrás. Acho que foi a única vez que (quase) briguei por
causa de mulher.
Eu tinha treze, no
máximo quatorze anos. Tinha tido uma paquera que não foi muito
além disso com a irmã do meio da dona do estabelecimento, quando
freqüentávamos a AABB - adolescente tímido em sociedade machista é uma maravilha! A mais velha, tenho a impressão, também
havia me olhado estranho algumas vezes - pouco depois seria miss Pato
Branco, mas era a menos bonita, na minha opinião. A mais nova, quem
se interessou foi um amigo. Falava e falava e falava dela. Louvores e
louvores à beleza da menina (se eu tinha, se muito, quatorze, ele
tinha treze e ela, doze) declamados em meus ouvidos já um pouco
cansados daquela lenga-lenga, seguidos sempre de lamentos e lamúrias
de não conseguir nada com ela. Até que ele resolveu me perguntar o
que fazer. Idéia de jacu, como dizíamos na época. Eu não tinha
experiência alguma, mas tinha um ano a mais que ele, que tampouco
tinha qualquer experiência. Sugeri que parasse de enrolar: "chega,
diz que está a fim dela e convida pra ir no cinema" (na época havia
um cinema na cidade). Ele fez quase como sugeri, apenas acrescentou
um "oi, tudo bem" antes. Recebeu um não da menina, que passou então a evitá-lo, e ele quis
descontar o fora pra cima de mim - não chegamos às vias de fato.
Hoje a menina é uma
bela mulher, casada com um dos herdeiros da família dona da cidade; adotou, é
claro, o sobrenome do marido - não sei se o marido fez o mesmo,
desconfio seriamente que não. Suas irmãs, desconheço o paradeiro, nem me interessei em pesquisar. Meu amigo de infância, que há mais de uma
década não troco qualquer mensagem, entre coquetéis antidepressivos e inferninhos da Augusta se formou em medicina, conseguiu arranjar uma
namorada, até casou - ela trocou o sobrenome, ele, claro que não -,
mora nos Estados Unidos, onde é pastor (e eu torço para que ele não seja dos que agradeceram a deus pelo massacre na
boate Pulse, nem ache Trump um cara razoável). E eu, bem... eu não
casei, mas tentei trocar oficialmente de sobrenome - sem sucesso, por
causa do hífen e da minha preguiça -; a única vez que fui líder
ou dono de algo foi de um grupo de humor em que eu era o único
integrante (ao menos foi divertido), e os domingos, invés de celebrar missas ou encontrar figurões locais, passo escrevendo
crônicas bobas.
07 de agosto de 2016
ps: nesse ritmo de Drummond revisitado, lembrei de um poema de Jefferson Vasques, "Quadrinha revisitada":
João comia Teresa que trepava com Beth
que não gozava com Carlos que olhava (demais) pro Fred
que enrabou o Fábio que nunca havia transado.
João saiu do Brasil, Teresa, do armário,
Beth pediu o divórcio, Carlos pulou do oitavo,
o Fred purpurinou e o Fábio,
agora é Fábia e descobriu o amor por si própria
(que não tinha entrado na história)
em: Subverso, 2009, p. 74.
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