Ao ver o resultado das
eleições em São Paulo, com vitória de Doria Jr. no primeiro
turno, a sensação que se tem é de terra arrasada e triunfo do
fascismo - campos de concentração bandeirantes, aqui vamos nós!
Respiro e tento analisar a situação um pouco mais objetivamente:
chego à conclusão de que vivemos tempos realmente preocupantes, mas
não se pode vaticinar nada para um futuro breve - é possível
reverter o quadro, ainda que o mais provável seja o aprofundamento
de um Estado de Exceção aos moldes nazi-fascista, tal qual já
acontece. A vontade é achar culpados por termos chegado aonde
chegamos, porém penso que vale uma análise mais pontual, visando um
próximo passo - a tal auto-reflexão que muitos da esquerda cobram
de seus representantes é necessária e urgente, mas precisa ser
feita junto com o embate político: não há possibilidade de fazer
uma pausa para discutir e depois voltar a agir.
Sem mais delongas, à
eleição paulistana.
As regras do jogo
Primeiro, é importante
salientar que as regras do jogo têm influência direta no seu
resultado. Um amigo tratou de levantar logo: "Gilmar Mendes é o
presidente do TSE". Prefiro não acreditar em manipulação
nesse nível no resultado das urnas, entretanto Coronel Mendes é o
Coronel Mendes, tudo dele pode se esperar. Deixo de lado essa
hipótese. Ao meu ver, o principal fator destas eleições foi a
diminuição do tempo de campanha: a exemplo de Russomano, Doria Jr.
também era um candidato-sabonete, e não suportaria nenhum embate
direto: assim que fosse instigado a fazer propostas um pouco mais
palpáveis, desidrataria. Entretanto, para achar esse flanco e
explorá-lo, faz muita diferença se se tem 90 ou 45 dias de
campanha - a regra favoreceu, portanto, candidatos oportunistas e
antipolíticos, a exemplo do futuro prefeito paulistano.
Segundo ponto: o poder
da mídia, cujo monopólio não foi atacado diretamente pelos
governos petistas. Desde 1982 a Globo tenta diuturnamente, e em todas
as eleições, dar golpes brancos. Conseguiu de 1989 a 1998, e vinha
falhando fragorosamente desde 2002, a ponto de apelar para o golpe
direto em 2016. Voltou ao modus operandi nestas eleições: eu
estava numa cantina no sábado, o televisor ligado sem som, e pude
ver no Jornal Nacional uma notícia em que se vinculava PT e algum
crime eleitoral - só o PT. Entretanto seu maior triunfo, assim como
dos golpistas, não foi a derrota do PT, foi a desmobilização da
população: o desalento representado em votos brancos, nulos e nos
que se abstiveram de votar - retorno a este ponto mais adiante, é
aqui que vejo a possibilidade de reverter o ritmo acelerado para o
fascismo.
Sobre os candidatos, em
agosto eu comentava que a eleição seria uma verdadeira disputa
pela sobrevivência política [http://bit.ly/cG160822], com Doria Jr. como o único apto a
perder sem sofrer maiores danos com isso - no fim, o azarão venceu.
Luíza Erundida e o
Psol-Raiz
O Psol, com Erundina,
cresceu em relação a 2012. Ainda assim, esteve aquém do que se
imaginava no início da campanha. Parte dessa queda se deve ao pouco
tempo de exposição na mídia - ou seja às regras do jogo. É
provável que outra parte seja por conta de voto útil no Haddad. Uma
das falhas de sua campanha que me chamou a atenção foi seu colega
de chapa: num momento em que se pede algo "novo" em
política, uma chapa formada por um casal de velhinhos passa a imagem
de antigo (estou aqui analisando em termos de marketing e imagem,
independente de propostas e trajetórias políticas), um vice jovem
passaria essa idéia - Erundina poderia mesmo inovar, tendo como vice
uma mulher. Pessoalmente, não demonstrou querer usar esta eleição
para outros vôos políticos - era mesmo uma questão do partido. Se
no Rio Freixo dá novo alento à esquerda e ao Psol, em São Paulo, a
esquerda ainda tem o PT como seu principal representante. Sem dúvida a participação de Erundina no pleito foi extremamente importante - união de
esquerda não deve significar candidatura única (como eu disse
alhures: é necessária a desunião sincrônica das esquerdas).
Celso Russomano
Russomano deve dar
adeus a pleitos majoritários - talvez ainda tente senado em 2018
(caso haja eleições em 2018). Sem qualquer estofo político, e sem
a mesma equipe de marketing e complacência da mídia que tem Doria
Jr., não deu conta de manter sua vantagem. De positivo, sua campanha
não se baseou em discurso de ódio ao PT e à esquerda, ficou ainda
no esquema "catch-all party" - o discurso cata-tudo -, com
tendência à direita. Propostas fracas, postura tímida e uma
enxurrada de podres da sua vida pregressa minaram seu sonho de ser um
novo Jânio Quadros.
Marta Suplicy
Como eu havia anunciado
em agosto, Marta Suplicy era quem mais arriscava. Ao fim da eleição, definitivamente é quem mais perdeu: favorita se fosse ao segundo turno (onde
ganharia os votos dos anti-petistas caso disputasse com Haddad ou da
esquerda, caso enfrentasse a direita puro-sangue), esqueceu de
combinar com os russos. Terminar em quarto lugar é um tremendo golpe
em sua carreira política - e em seu enorme ego. Seus 10%
mostram qual seu capital político real, provavelmente fruto da sua gestão à
frente da prefeitura: sua adesão ao golpismo não deve ter lhe
rendido um voto sequer. Mediu errado seu passo político e ao tentar
se desvencilhar do PT indo para a direita, perdeu o discurso sem
perder a pecha de petista - tentar voltar à esquerda me soa
impossível, depois de ter votado pelo impeachment-golpe. É possível que perca ainda mais esse resto de simpatizantes daqui para a frente, e sobraria tentar se manter na política com base no fisiologismo de cúpula e currais eleitorais. Se tentar o senado em 2018 (caso haja eleições em 2018), pode perder novamente; suas chances maiores parecem ser na disputa do governo do Estado, ou costurando um amplo
apoio dos partidos fisiológicos e de direita (aí precisa conversar
com o Doria Jr), ou na expectativa de ir para o segundo turno e
vencer com o voto "anti".
Eduardo Suplicy
Eduardo Suplicy não
disputou a prefeitura, contudo, na disputa pela vereança, seus quase
6% dos votos mostram sua força. É nome forte para voltar ao senado
em 2018 (caso haja eleições em 2018), se assim desejar, ou à Câmara dos Deputados, caso seja mais interessante ao partido garantir a maior bancada possível, para ter maior tempo de tevê e quetais.
Fernando Haddad e o
PT
Ainda que tenha perdido
a prefeitura, o segundo lugar do atual prefeito mostra uma força de
resistência sua e do PT que não pode ser desprezada. Anunciado
desde o início da campanha pelas pesquisas eleitorais como candidato
sem quaisquer chances, com seu partido sofrendo feroz perseguição
política da justiça, da polícia, e da imprensa nas datas próximas ao
pleito, seus 16% são significativos - o PT não acabou, como alguns
arautos da direita (e da extrema-esquerda) anunciavam em agosto. Se somarmos aos votos de
Erundina e Marta, a esquerda (acredito que Marta teve seus votos
ainda pela sua trajetória no PT) teve 31%, ou seja, mantém sua base
de 1/3 do eleitorado - era o piso antigamente, hoje é o teto. Sem negar o quanto a esquerda foi golpeada, ainda
mais o PT - que em 2012 se tornara a segunda força municipal e
ganhara a principal cidade do país -, um terço do eleitorado da
principal cidade do Brasil é um índice alto para um país cujo lema
do governo central é "tirar o país do vermelho" (em outra
demonstração nazi-fascista do presidente-golpista Michel Temer). No
plano nacional, a queda do PT foi grande, mas chama a atenção não ter sido acompanhada do
crescimento dos seus antípodas, da "direita-cheirosa" (PSDB+DEM+PPS), que
cresceu menos de 10%, sem sequer recuperar o que perdera de 2008 para
2012 (1416, 1084, 1174 prefeituras, respectivamente). A grande tarefa das
esquerdas é conseguir, a partir de agora e o quanto antes, formar a
frente ampla, sem ir a reboque de um partido.
De volta a Haddad. Seu grande erro não é
só de campanha, é de governo: não ter investido o suficiente em
publicidade oficial. Infelizmente, é da regra do jogo: aparecer para
ganhar: à mulher de César não basta ser honesta... A gestão Haddad priorizou o marketing de internet, mais
barato, e deixou de lado grandes campanhas de publicidade. Começou a
campanha com a fama de prefeito que não fez nada, e passou o período eleitoral enunciando tudo o que fizera - do bilhete único temporal a
hospitais e creches nas periferias. Os 45 dias de campanha foram
determinantes para que não conseguisse divulgar o suficiente sua gestão. Se
por problema de comunicação ou realmente por ter não dado a devida
prioridade, o mapa da eleição mostra que Haddad foi muito mal nos
extremos da cidade, reduto habitual do PT - tendo melhor desempenho nas regiões central,
oeste e sul-1.
Talvez o que tenha sido determinante para a derrota de Haddad foi o elevado índice de abstenções, brancos e
nulos. Costuma-se dizer que cada um colhe o que planta. A Grande
Mídia tem plantado intensivamente o desalento com a política,
encontrando solo fértil naqueles que viam na política ideais mais
nobres - como combate à pobreza e melhoria das condições de vida
de todos -, e conseguiram desmobilizá-los o suficiente para garantir
a vitória ao seu candidato, ao que tudo indica. A lógica é fácil
de ser compreendida: por mais que ache Haddad melhor que os outros,
ou que tenha feito um governo razoável, de que adiantaria votar nele
se são todos "políticos", ou seja, são todos corruptos,
são todos "bandidos"? Quase 40% dos paulistanos se absteve
de votar ou não se sentiu representado por nenhum dos onze
candidatos - isso num país cujo voto é obrigatório! Dos que foram
às urnas, os votos válidos na capital caíram de 87% para 83% do
eleitorado. Se esses 4% a mais que se abstiveram tivessem votado em
algum dos candidatos derrotados, seria o suficiente para forçar o segundo turno. Eis nesse ponto onde ainda vejo esperança: construir uma
contra-narrativa que dê conta de reabilitar a política e as
esquerdas (poderia ser também a direita, mas uma direita de verdade, não esse atraso político que no Brasil assume a bandeira), de modo a trazer para política parte da população que
sucumbiu ao canto da desolação. Isso, claro, implica em trabalho de
base e diário, e não apenas em época eleitoral.
João Doria Jr.
Há
diversos fatores a se levar em conta na vitória de Doria Jr. Um
deles, que levantei acima, a desilusão com a política, que
repercutiu no aumento no número de eleitores que não participaram do
pleito ou não fizeram voto útil em algum candidato. Outro é que Doria
Jr soube explorar quatro discursos diferentes: um discurso de
direita, dois de extrema-direita e um populista de direita. Em tese,
portanto, Doria Jr teve quatro tipos de eleitores: 1) os de direita,
que votaram nele por acharem que um estado mais enxuto e
concentrado em áreas prioritárias da administração é a melhor
forma de se alcançar o bem-estar comum (proposta política
apresentada de maneira muito tosca, mas ainda assim uma proposta
política); 2) os anti-petistas radicais, que embarcaram no seu
discurso de ódio de clara inspiração nazi-fascista: o candidato
não se punha como crítico da administração Haddad, ele propunha a
eliminação do PT e do prefeito - suas políticas seriam somente a
conseqüência do PT ser a encarnação do Mal -; 3) os desiludidos
com a política, que votaram no seu discurso de anti-político,
também de inspiração nazi-fascista; e 4) os que compraram o
sabonete Doria Jr-trabalhador.
Acreditar
nesses quatro perfis de eleitores do Doria Jr que me dá alento de
que não necessariamente começaremos o ano letivo de 2017 queimando
em praça pública livros de autores degenerados.
Os
eleitores de direita dificilmente formaram sua base: pelo racha
dentro do próprio PSDB, pela ausência de uma opção razoável de
direita e pela gestão econômica de Haddad, é de se acreditar que
quem está nesse espectro político e é razoável (racional, diriam
os economistas) votou no atual prefeito. A base cativa de Doria Jr -
e do PSDB todo, cada vez mais - são os eleitores de extrema-direita,
ou em um termo um pouco mais cru: o PSDB caminha a passos largos para se
tornar um partido neofascista, se é que já não se tornou (uma das
particularidades da extrema-direita século XXI tupiniquim, é que o
"movimento" não funda um partido, conforme a análise do
fascismo feita por Robert Paxton, e ainda hoje observável na França
e na Alemanha, por exemplo, e sim é adotado por um partido já
consolidado, como forma de sobreviver à sua iminente derrocada
política e eleitoral). O discurso de extrema-direita do tucano teve
duas frentes: de um lado, o discurso de ódio e contra o inimigo
portador de todo o Mal; do outro, a exploração da desilusão com a
política, causada pelos escândalos ocorridos também nos governos
petistas - que antes de assumirem o governo federal eram os arautos
da moralidade política no país -, mas principalmente pela forma
como tais escândalos são explorados pelo "quarto poder"
(que parou de se referir a si próprio assim desde que começou a
ficar evidente que era de fato um poder para-estatal e que não estava sob
qualquer controle legal). Mario Vargas Llosa (saliento: um autor
descaradamente conservador, porém liberal), em La civilización
del espectáculo, livro de 2011,
comenta sobre a desvalorização da política: "Em muitos países
e em muitas épocas, a atividade cívica alcançou um prestígio
merecido porque atraía gente valiosa e porque seus aspectos
negativos não pareciam prevalecer sobre o idealismo, a honradez e a
responsabilidade da maioria da classe política. Em nossa época,
aqueles aspectos negativos da vida política têm sido magnificados
freqüentemente de uma maneira exageradamente irresponsável por um
jornalismo amarelo com o resultado de que a opinião pública chegou
ao convencimento de que a política é um fazer de pessoas amorais,
ineficientes e propensas à corrupção" (p. 133-134).
Berlusconi, na Itália, ascendeu pela porteira aberta por esse
jornalismo nefasto; Doria Jr também - muito antes deles, em processo
muito similar, na Alemanha dos anos 1930, Adolf Hitler. Ainda que
muitas pessoas se sintam intimidadas e acabem emulando o
comportamento raivoso dos neofascistas tupiniquins, não penso que só
o discurso explícito de ódio dê voto suficiente - pode fazer muito
barulho, é sua função fazer muito barulho, para parecer maior. Aí
entra o discurso velado de ódio, contra a classe política e o fazer
político; Doria Jr explorou isso não apenas se apresentando como o
"novo", como reafirmando sempre e uma vez mais que não era
político - deixando subentendido, até pelo seu "tenho todo
respeito aos políticos, mas...", seu desprezo pelos seus colegas de profissão. Se apresentou, portanto como anti-candidato, apesar de fazer parte de um partido tradicional.
Só o discurso de extrema-direita talvez o pusesse na disputa pelo
segundo turno (quero acreditar que não), certamente não foi o que o
elegeu. Entretanto, será utilizado ao extremo pelos golpistas
(Temer, PSDB, judiciário, Grande Mídia): as urnas da maior cidade
do país legitimaram que a política seja substituída por gestores e
tecnocratas totalitários - ordem e progresso.
Contudo,
o grande lance da equipe publicitária do publicitário-patrão foi o
produto "Doria Jr-trabalhador", construção populista
digna de Jânio Quadros, apesar da incompetência de Doria Jr para
aparentar popular - que o diga suas fotos provando pastel e café,
que logo sumiram, visto que a Grande Imprensa acatou as regras dos
publicitários do candidato. Eu realmente não acreditava que um
populismo tão tacanho ainda tivesse vez na política - pelo visto,
nem seus adversários. Prova do quanto nossa educação é falha e
sofrível - e olha que ainda nem implementaram o "escola sem
partido" ou a MP do governo golpista - e o quanto a esquerda e
os movimentos de massa descuidaram da formação política: milhões
de pessoas caíram no conto do vigário em pleno século XXI! Quando
falo da responsabilidade da esquerda em permitir que esse tipo de
candidatura encontre eco na população, claro que não tem como não
atribuir a maior responsabilidade ao PT, por ter sido pólo das
esquerdas até aqui e por ter ocupado o governo federal por 14 anos:
a inclusão social via consumo e não via cidadania política foi o
tapete vermelho para que o discurso do self-made man cativasse o
recém-formado pelo Prouni, o tercerizado que conseguiu comprar seu
carro em 60 prestações (e agora nem pode andar como se fosse o dono
da rua, porque o limite de velocidade é 50 Km/h), a dona-de-casa
aflita com o desemprego do filho. À diferença de Russomano, que no início se pôs como uma pessoa do povo, como qualquer eleitor; Doria
Jr afirmava que já fora do povo, mas que agora era um vencedor -
tudo conseguido com o suor de seu rosto, trabalhador que começou do
nada e venceu por mérito próprio -, e que faria de todo paulistano disposto a trabalhar um clone do líder. Ainda que esse engodo publicitário que bebe no
populismo aparente maior dificuldade em ser rebatido - num estado que
já elegeu Janio Quadros, Adhemar de Barros e Paulo Maluf -, não
penso que seja tarefa árdua em ser desmontado, pelo mesmo motivo que
Russomano caiu: por mais que se diga anti-político e abuse do
discurso de ódio, estamos numa situação política em que ainda,
para a maior parte da população, o candidato precisa apresentar
propostas para a cidade - propostas políticas, portanto -, as quais necessariamente surgem (ou mostram que
não existem) quando o candidato é confrontado (Doria Jr precisa agradecer Marta pelo último debate). Em um eventual
eventual segundo turno Doria Jr precisaria inventar um quinto
discurso para não perder para Haddad. Levantar esse "se
houvesse" é importante para sublinhar que a "vitória
acachapante" de Doria Jr foi acima de tudo fruto de saber usar
as regras do jogo, e não de necessariamente da adesão ao
neofascismo por 3 milhões de paulistanos. Outra coisa: Doria Jr tem
respaldo popular menor que teve Haddad. Deixemos de lado votos úteis e
pensemos no total de eleitores: os 53% de votos úteis de Doria Jr,
pouco mais de 3 milhões de votos, significam pouco mais de um terço
do total de eleitores; ao ser eleito, em 2012, Haddad teve o voto de
quase 40% dos eleitores (300 mil votos a mais que o tucano, em um
universo de 250 mil eleitores a menos).
Administração Doria Jr e as esquerdas e forças progressistas
No atual quadro de crise político-institucional, qualquer tentativa de palpite para os próximos quatro anos é muito arriscada: nem se sabe se teremos eleições em 2018. De qualquer modo, se Doria Jr puser em prática sua retórica anti-PT radical, de acabar com tudo o que cheire a esquerda, é capaz de voltar até com os Palacetes Prates. Não acredito em ataque tão radical, por uma questão de, caso haja eleições, é bom não se queimar totalmente com os eleitores - Doria Jr é acima de tudo político, sua atividade empresarial é fachada para contratos com o Estado. A escolha das ciclovias e da velocidade das marginais mostra que o tucano vai marcar seu anti-petismo em questões menores, no sentido de que envolvem menor conflito com interesses poderosos - ao menos assim aparentam. Não é por não ser radical que não deverá ser temerária sua gestão: a depender da proposta que o PSDB tem há tempos apresentado à nação, privatização dos espaços públicos, sucateamento dos serviços públicos, repressão aos opositores por parte da PM transformada em política política estadual, nortearão a administração pública, e só não avançaram a trote rápido se houver oposição na câmara e nas ruas.
Às forças progressistas e democráticas, não apenas de esquerda, urge se unirem, não apenas politicamente, mas em ações coordenadas para recuperar o terreno perdido pela Blietzkrieg midiática e golpista. Lideranças políticas, intelectuais comprometidos com valores como direitos humanos e democracia, movimentos sociais e pessoas avulsas, precisam criar uma contra-narrativa que dê conta de não haver mais golpes (de Estado ou eleitorais) comprados com tanta facilidade - a exemplo do pós-impeachment-golpe, o pós-eleição foi impressionante morno no centro de São Paulo, muitos poucos comentários -, e que torne a política novamente um valor positivo. Importante nessa tarefa: ativismo de internet serve para sabermos que não estamos sozinhos, mas tem pouco influência fora do círculo dos convertidos: é preciso, sim sair da zona de conforto do Fakebook e ir para o embate, para o diálogo, para o desgaste do cara-a-cara com pessoas que não pensam como nós (mas que pensam).
Uma faixa da população, os 2% de Major Olímpio, da SS, digo SD, e parte do eleitorado de João Doria Jr, parece estar condenada à vidiotia pelos próximos anos, completamente zumbizados pela narrativa de Globo, Veja, Folha e congêneres, e sobre ela, pouco há o que fazer, que não impedir seu crescimento; outra parcela, os que não votaram ou anularam, e muitos dos que votaram em Doria Jr, mostra que gostaria de acreditar na política como transformadora (para melhor) da sociedade, mas sucumbiu ao bombardeio midiático: trazer essas para a política, não apenas a eleitoral, mas a quotidiana: que a cidade (e o país) se faz no dia-a-dia por todos e não a cada quatro anos, ao delegar poderes a representantes que não as representam. Vale lembrar que a esquerda - no Brasil e alhures - se forja na resistência, nas disputas nas ruas pela inclusão dos excluídos. É preciso despertar o fazer político que a década de sonolência petista nos desacostumou - reabilitar o "nós" coletivo que Haddad e Erundina puseram na campanha.
Uma faixa da população, os 2% de Major Olímpio, da SS, digo SD, e parte do eleitorado de João Doria Jr, parece estar condenada à vidiotia pelos próximos anos, completamente zumbizados pela narrativa de Globo, Veja, Folha e congêneres, e sobre ela, pouco há o que fazer, que não impedir seu crescimento; outra parcela, os que não votaram ou anularam, e muitos dos que votaram em Doria Jr, mostra que gostaria de acreditar na política como transformadora (para melhor) da sociedade, mas sucumbiu ao bombardeio midiático: trazer essas para a política, não apenas a eleitoral, mas a quotidiana: que a cidade (e o país) se faz no dia-a-dia por todos e não a cada quatro anos, ao delegar poderes a representantes que não as representam. Vale lembrar que a esquerda - no Brasil e alhures - se forja na resistência, nas disputas nas ruas pela inclusão dos excluídos. É preciso despertar o fazer político que a década de sonolência petista nos desacostumou - reabilitar o "nós" coletivo que Haddad e Erundina puseram na campanha.
03 de outubro de 2016.
Ainda não acredito que esse cara conseguiu se vender como trabalhador, que já foi do povo. |
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