No dia anterior, Felipe me propôs essa atividade - que muito me interessa -, e que ele não me acompanharia, por conta de ter tido uma hérnia inflamada não fazia muito - eis a idade chegando ao meu amigo conhecido há 21 anos. Me deu as características da trilha, dentre elas, que era nível 2 e não iria até o Pico de Loro, e terminava num "charco", espécie de piscinas naturais no pedregoso rio Pance. Duplamente decepcionado, aceitei porque era o que tinha. Imaginava quase um passeio para a terceira idade, sem dificuldade.
Dia seguinte, oito da manhã, junto a um grupo de 25 pessoas de uma academia de Cali, cinco aleatórios e mais o guia, nos metemos pelo "sendero de nivel dos". Não que alguém mais velho não dê conta de subi-lo, mas certamente precisa de um bom condicionamento físico para fazê-lo - duas pessoas, provavelmente mais jovem que eu, desistiram na metade. E muitas das que alcançaram o topo da caminhada precisaram parar no caminho para tomar fôlego, a ponto de eu ser o nono a chegar, mesmo sendo, aparentemente, um dos mais velhos - me senti o Zanardi na época de ouro da Indy, fazendo corrida de recuperação. Ainda que suado e com a respiração alterada, terminei os dois quilômetros e cinco mil passos inteirão, disposto a subir mais dois quilômetros tranquilamente (havia mais para subir, mas não era parte da rota).
Foi na descida que comecei a sentir: as coxas começaram a tremer, o joelho a doer. Comecei a descida como último da fila, e terminei como último (até porque não dá para acelerar, por conta do risco de queda e fazer um "strike" em quem vem na frente), xingando que quem puxava não fez uma mísera pausa.
Meus joelhos doendo cada vez mais e eu pensando que era hora de aceitar a realidade: a idade chegava e o corpo avisava inclemente: não sou mais um jovem, e talvez seja mais conveniente buscar um grupo de jogos de tabuleiro e dominó ao invés me aventurar em escaladas nível dois (e lembrava que em 2019 minha mãe, com quase 70, havia aguentado tranquilamente uma trilha nível 3 em Florianópolis). Descida segue e as dores aumentam, não só de intensidade quanto começo a sentir meu quadril.
Tento pensar em outra coisa, que não minha decadência física, me esforço pra lembrar a conjugação de alguns verbos em espanhol que tenho dificuldade, mas ao invés disso meu cérebro decide retomar as conjugações do latim, que fiz com Felipe. Ego sum, il, el est, sumus, sunt. Como é mesmo a segunda pessoa? Dizem que quando estamos diante da morte, passa um filme em nossa mente. Será que a minha resolveu fazer uma prova de latim? Se eu reprovar, não vai ser possível continuar o filme, logo não vai ser dar para eu morrer (ainda que minha experiência de morte, no ônibus indo visitar meus pais, tenha sido tão somente o vazio - mas no fim, descobri logo que eu não estava morto [https://bit.ly/cG150214]). Reconheço que isso me tranquilizou, ainda que minha fraqueza física fosse uma notícia triste - não estou na hora da morte, mas ela se aproxima a galope. Quem sabe se eu, como meus colegas de grupo, começasse academia, algo mais sistemático e com acompanhamento profissional? Hora de assumir que sou, no máximo, um jovem senhor, já sentindo o peso dos anos - e da gravidade.
Mas eis que terminamos a descida e ao chegar, estão todos, jovens e não tão jovens, desesperados por um lugar para se sentar, se queixando "de temblor en las piernas" e, em especial, de dor "en las rodillas".
Moral da história: o dito brasileiro "pra baixo todo santo ajuda" é uma mentira cretina de quem nunca precisou descer um morro mais alto! E eu sigo me achando um esbelto xovem de quarenta anos, insistindo em ignorar a idade.
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